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A Imutabilidade de Deus

Uma reflexão crítica sobre a Teologia de Processo, por Nilson Pereira de Moura – Bel em Teologia e pastor da Equipe pastoral da ICB.

Os autores do Livro TEOLOGIA SISTEMÁTICA – uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. Autores: Franklin Ferreira e Alan Myatt, na página 200 afirmam:

“…A teologia do processo nega a imutabilidade de Deus e diz que ele é um ente que está evoluindo, junto com a criação, até um estado de maior perfeição. Fundamentados no desejo de defender um conceito radical do livre-arbítrio do ser humano, estes teólogos negam que Deus saiba o futuro e que seja soberano sobre a história…”.

Não sou especialista na teologia de processo, mas entendo que os autores cometeram um equívoco, aliás, dois, porque quando a teologia de processo diz da mudança de Deus, não nega sua imutabilidade de essência, porque entende que ele sempre será Deus imutável em seu caráter, amor, misericórdia, bondade, fidelidade, justiça e demais atributos. Ele sempre será Deus Soberano. A sua mudança é tida nas suas relações por se tratar de um Deus pessoal que se relaciona com o ser humano criado sua imagem e semelhança. Ele é imutável na sua essência, mas mutável no seu relacionamento, pois ele é afetado por essa relação, senão ele seria um deus de pedra, um ídolo sem vida.

Quanto à sua onipotência, o que a teologia de processo nega é que ele seja o único poder, pois ele seria o bem e o mal ao mesmo tempo, pois os homens, os anjos e o diabo e demônios têm poder, mesmo que limitado. Entende a teologia de processo que Deus é soberano sobre os demais poderes, mas não é o único poder, o Todo-Poderoso. Deus conhece o passado completamente, não lhe escapa nada, o presente está em sua presença como algo já do passado, entretanto, do futuro ele conhece todas as possibilidades (sabe que posso cometer atos de justiça ou injustiça), mas ainda são apenas possibilidades de ações a serem cometidas. Deus não é determinista, se assim fosse o ser humano não poderia ser acusado de cometer estes mesmos atos, pois ele não teria poder de escolher entre um e outro, porque Deus já havia determinado que fosse assim. Por outro lado, Deus nos deu o livre-arbítrio para escolher, portanto, nos deu poder. Deus será O Único Poder, Todo-Poderoso apenas na consumação da história humana, quando ele será tudo em todos como está escrito em I Coríntios 15:28:

“E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”.

É interessante que os autores ao analisarem a teologia do islã (página 200/01) afirmam a teologia de processo, pois a teologia de processo afirma que Deus é um Deus que se relaciona, e por se relacionar, é afetado pelo que conhece. A teologia do islamismo está muito próxima da teologia cristã clássica na medida em que esta afirma a imutabilidade absoluta de Deus. Os autores escrevem sobre a teologia do islã:

“A natureza de Deus é manifestada em duas doutrinas: mukhalafa (diferença) e tanzih (transcendência) Mukhalafa propõe uma diferença tão profunda entre nós e Alá que se torna impossível descrever os seus atributos. Qualquer qualidade atribuída a ele não é necessariamente semelhante à mesma qualidade do ser humano. Deus é desconhecido. Tanzih nega toda possibilidade de mudança e dá ênfase à auto-suficiência de Alá, levando isso até o ponto extremo de negar que as ações e atitudes do homem tenham qualquer efeito sobre ele. Norman escreveu: “Ele é a fonte do bem e do mal; a vontade dele é suprema, não limitada por quaisquer leis e princípios; o que tiver que ser será; a que ele quiser ele perdoará, e aquém ele quiser ele castigara”. Essa avaliação do islamismo é consistente com a de Samuel Zwemer, que afirma que o atributo principal de Alá é o poder. Assim, a lei moral de Alá não depende do seu caráter, mas sim do seu poder. O que decreta como certo hoje pode ser errado amanha. O que interessa é fato de que Alá decreta, e não o conteúdo do decreto. Em conseqüência, Alá não é o tipo de Deus que matem relacionamentos pessoais com seus súditos. Embora a misericórdia seja mencionada com muita freqüência em relação a Alá, o amor não tem lugar central no seu caráter, como acontece com o Deus da Bíblia”.

Para a teologia de processo Deus é de fato imutável na sua essência e no seu caráter, mas não é imutável nas suas relações pessoais com o ser que ele criou com sua imagem e semelhança. Daí decorre o equívoco dos autores sobre a teologia de processo que afirma a soberania de Deus sobre os demais poderes e sua afetação com o ser criado – pois este é um ser contingente e Deus um ser necessário. Deus não muda da mesma forma que o ser humano quando se arrepende, pois não há em Deus nada em que ele possa se arrepender, pois ele não pratica o mal. A mudança de Deus está nisso, quando eu cometo um ato de injustiça eu entristeço a Deus e quando eu comento um ato de justiça eu alegro a Deus, então ele foi afetado e mudado em seus sentimentos.

Comentário sobre o texto por Doutor e Professor Filipe Dunaway – USA.

“Nilson,

Você proporcionou uma explicação correta e bem clara sobre a teologia de processo. É agradável ver um “ex-aluno” usando tal ponto de vista como instrumento para analisar livros teológicos. É uma evidência clara de que não gastei 26 anos no Brasil em vão. De fato, tenho visto outras manifestações do mesmo ao longo dos anos. Mas esta sua é uma das mais convincentes.

De qualquer forma, suas observações críticas merecem ser lidas por outras pessoas. Portanto, sugiro que as coloquem no seu blog, se ainda não havia chegado à mesma conclusão. Conheço o professor Alan Myatt, um dos autores do livro que critica. Somos amigos, mas ele não gosta de modo algum da minha maneira de conceber Deus.

Mas, voltando ao assunto principal, que conceito revolucionário: Não somente somos afetados por absolutamente tudo que Deus faz, também Ele é afetado por absolutamente tudo que a gente faz, só de um modo diferente: Ele continua sendo o Senhor, mas um Senhor sensível a menor mudança, influenciado pela mais simples ação, tocado pelo suspiro que é inaudível ao ser humano. É tal Deus que busca em Cristo Jesus o que é melhor para nós.

Obrigado por ter estimulado alguma reflexão teológica, a qual enriquece bastante a qualidade da nossa vida.

Seu colega na peregrinação pela vida terrestre, Filipe”.

Nilson Pereira de Moura

Nilson Pereira de Moura nasceu em 1957 na cidade de Posse-GO. É casado há 25 anos e pai de três filhos. É bacharel em Teologia, com concentração em Ministério Pastoral, pela Faculdade Teológica Batista de Brasília – FTBB (1999). Ordenado ao Ministério Pastoral pela Igreja Cristã de Brasília, em 09 de dezembro de 2001, em Concílio presidido pelo Pastor Júlio Borges de Macedo Filho. Foi posteriormente aprovado em Concílio Especial de reconhecimento de exame realizado pela ICB pela Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, em 22 de setembro de 2009. Pastoreou como membro do Colegiado de Pastores na Igreja Batista do Jardim Paquetá, na cidade de Planaltina de Goiás, no período de março de 2008 até 13 de novembro de 2010, período que julga de extrema relevância para o seu Ministério Pastoral. Após essa experiência gratificante retornou à Primeira Igreja Batista de Sobradinho-DF (PIBS), onde ocorreu sua conversão em dezembro de 1980 e batismo em 23 de agosto de 1981. Permaneceu como pastor membro na PIBS de 14 de novembro de 2010 até 19 de julho de 2011, quando resolveu retornar à equipe pastoral da Igreja Cristã de Brasília em 24 de julho de 2011, onde foi recebido com grande alegria e unanimidade. É muito grato a Deus pela experiência adquirida na caminhada cristã. Em 18 de agosto de 2013 foi recebido como membro efetivo na Primeira Igreja Batista de Sobradinho – PIBS/DF. No dia 30 de novembro de 2014 retornou à Equipe Pastoral da ICB de copastor. Em 19 de abril de 2015 por aclamação, retornou a PIBS, na qualidade de membro efetivo. Servidor público federal, aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, onde ingressou em 03 de janeiro de 1979. Atuou na Área de Gestão de Pessoas da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda-SPE/MF, e na Secretaria de Patrimônio da União do Ministério do Planejamento – SPU/MP, no assessoramento técnico da ASTEC, em gestão de Pessoas. Posteriormente, exerceu a função de parecerista na Secretaria de Recursos Humanos – SRH/MP, tendo encerrado a sua participação no MPR na Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, onde exerceu os cargos de Assistente, Assessor Técnico e Chefe de Divisão por vários anos. Encerrou sua carreira no IPEA ocupando a atribuição de Auditor substituto, na Auditoria Interna do órgão. Em paralelo, exerceu o cargo de Diretor de Administração e Finanças da Associação dos Funcionários do IPEA-AFIPEA, cargo pelo qual foi eleito para o Biênio 2011/12, acumulando também o cargo de Secretário-Executivo da AFIPEA-SINDICAL. Cargos exercidos até 30 de maio de 2013.

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