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CRISTÃOS E O MEIO AMBIENTE: REPENSANDO RELAÇÕES

CRISTÃOS E O MEIO AMBIENTE: REPENSANDO RELAÇÕES

  *Thiago R. Bandeira de Mello

Costumamos ver nossa sociedade separada da terra em que vivemos. Com o tempo e a urbanização, não pensamos em nosso dia a dia (com raríssimas exceções) em “detalhes” como de onde nosso alimento vem e o que é necessário para sua produção, não pensamos na nossa total dependência da água (a não ser quando ela falta por causa de racionamentos), não pensamos em como nossas escolhas diárias, simples quanto sejam, podem afetar o mundo em que vivemos. Usar plástico e descartar em qualquer lugar, ou mesmo não se importar com a quantidade de plástico usado? Um “gramado” extenso onde aplicamos fertilizantes e um monte de água (inclusive na seca), no lugar de plantas que vão atrair um monte de “bicho” e ficam “feias” na seca? Cortar aquela árvore que “suja” nosso quintal? São coisas relativamente comuns.

Não vou dizer que isso está errado (mas não vou dizer que está certo!), não vou sugerir que as pessoas virem hippies ou retornem à idade da pedra (isso não é necessário), só queria que vocês pensassem a respeito da nossa relação com o mundo a nossa volta com outros olhos, ao final do texto e apresentação. Nós somos uma espécie que há tempos vem literalmente alterando a paisagem da terra e tudo que acontece por aqui, e com esse “poder” (principalmente inventividade, que permitiu por exemplo a tecnologia para alterar um monte de coisa), vem uma boa dose de responsabilidade, que precisa ser reconhecida e ponderada na hora de tomar decisões. Além do mais, escolhas que seriam simples com uma população de 3 bilhões de pessoas pode passar (e de fato passa) a ser bem mais complicada quando levamos em conta as 7 bilhões de pessoas que existem atualmente, e pior ainda, se pensamos nas projeções de crescimento para as próximas décadas. A bíblia tem coisas a nos dizer sobre tudo isso, de forma direta ou indireta, e queria arranhar a superfície do assunto. Queria mostrar que a visão de mundo que adotamos muitas vezes de forma inconsciente, da guerra constante entre seres humanos e a “natureza selvagem e perigosa” não tem sido produtiva para nenhuma das partes. Você tem dificuldade em achar situações em que vemos uma guerra entre nós e natureza? Bem, então vamos lá… “aquele bando de eco chatos só perturba o mundo”, “porque deixar a área verde do meu lote? Pra que ela serve?”, “ih… lá vem os alarmistas do clima de novo, não se tocam, querem que a gente volte pra idade das pedras!”, “opa, é melhor deixar o quintal bem limpo, vai que aparece escorpião/aranha/cobra”… são casos extremos? Você não fala nada disso? Bom! Então vamos continuar e no fim desse tempo, se lembre desse começo e veja se você continua pensando da mesma forma. O objetivo aqui é estimular o questionamento… ainda que você não pense nada do que falei acima, será que não “compactua” com formas de ver o mundo que são tão destrutivas (ou mais) que os exemplos acima? Acho que talvez o melhor começo para começarmos a enxergar e questionar nossas escolhas seja pensando sobre como a bíblia enxerga os seres humanos em relação ao meio ambiente.

Comunidade e conexões: a visão da bíblia

A bíblia é um livro escrito por vários autores, em várias épocas e contextos, então é difícil achar um tema único, mas um dos que a gente pode encontrar é o de que Deus é um Criador amoroso e que zela pelo que criou. Não vou ficar vasculhando a bíblia para “provar” isso, o foco não é esse (existem livros escritos sobre o assunto, de estudiosos muito bons), mas alguns exemplos legais são: Deus “vê” que o que criou é bom 6 vezes em Gênesis, ainda no capítulo 1, e vejam que várias dessas vezes vêm antes mesmo de o ser humano ter aparecido por lá. Existem Salmos (e.g. 8, 19,139) que dão a entender que a natureza louva a Deus. Um autor, não lembro qual, disse que enxerga a natureza (ou Criação, se preferirem), como uma orquestra, com cada ser vivo louvando a seu modo (você consegue enxergar um animal ou planta louvando a Deus simplesmente por existir? Pense nisso… será que não é arrogância imaginar que apenas nós conseguimos fazer isso?). Quando extinguimos uma espécie ou destruímos um ambiente, é como se essa orquestra fosse sendo empobrecida. Essa imagem para mim é bem forte e faz sentido.

Jó é outro exemplo legal, explorado por alguns autores em considerável detalhe, que mostra claramente que a Criação é de Deus e ele se deleita com ela, até mesmo o hipopótamo (ou Leviatã, em algumas traduções) foi criado para o deleite de Deus, que “brinca” com ele (Jó 40) e não só se deleita, mas dá a impressão de se maravilhar, estar “orgulhoso” com o que criou. Vejam, um pouco atrás, em Jó 38 como é a relação do Criador com sua Criação; vejam como fica claro nesse capítulo que o mundo não existe “por nossa causa”, para o nosso deleite, para nossa exploração!

Na história do Dilúvio, vemos o cuidado de Deus com cada ser vivo, para manter cada espécie viva. Ele podia ter escolhido só os que fossem úteis aos seres humanos, poderia ter aproveitado para “aniquilar” os perigosos… cobras, ursos, leões e vários outros! Pensem numa coisa óbvia, mas para a qual não costumamos nos atentar: hoje temos medo de ursos e leões, imaginem na época da bíblia, onde não existiam espingardas e nem cidades e onde as populações desses bichos eram muito maiores… eles representavam perigos bem piores. Ainda assim, Deus os poupou, ou seja, eles tem valor. Deus escolhe salvar cada espécie e no final ainda faz uma aliança com a Criação toda, com o arco íris. Vejam, aliança com a Criação toda; nós tanto quanto os outros seres vivos.

Na época da bíblia, a noção da nossa dependência de um ambiente estável ainda devia ser bem rudimentar se compararmos com o que sabemos hoje, por alguns motivos, mas talvez os principais sejam: 1) população humana muito menor e tecnologia bem simples… então nossa capacidade de alteração do meio em que vivíamos seria menor do que a nossa capacidade hoje. 2) a ciência não tinha “avançado” tanto; na verdade, poderíamos dizer que a ciência como conhecemos hoje nem existia ainda. Mesmo assim, o conhecimento dessa dependência existia e está clara em algumas partes da bíblia, afinal, era uma sociedade que tinha íntimo contato com a natureza e sabia que precisava dela para sobreviver. Provavelmente as relações entre as diferentes partes da Criação eram mais evidentes, ainda que não fossem tão bem compreendidas. As pessoas sabiam que se destruíssem o solo, não iam ter comida. Sabiam que sem água, iam passar apuros. Em muitos casos, quando Israel dominava um povo, era instruído a poupar as árvores e animais.

Segundo Gênesis, mesmo antes da queda, o ser humano tinha um objetivo bem definido: o de guardar e cultivar o jardim, que Deus mesmo havia plantado (existem muitos livros e autores preocupados em investigar como os judeus viam a Criação, e um que tem visões que gosto muito é o Richard Middleton). Para Middleton e outros autores, por exemplo, o relato de Gênesis mostra Deus criando na verdade um grande templo (imagem que se repete, por exemplo, no templo no deserto, cujo projeto Moisés recebeu de Deus, e que por sinal era cheio de referências à natureza!). Para diversos autores, o templo de Moisés é uma representação do “templo cósmico”, cuja criação é relatada em Gênesis. Para o Middleton, a Criação culmina com a unção, pelo próprio Deus, dos seres humanos como sacerdotes. “Quando isso acontece?” vocês perguntam. Acontece quando Deus sopra nas narinas do ser humano o “fôlego de vida”; esse ritual tem paralelos com rituais de culturas contemporâneas aos judeus e era através dele que as imagens feitas pelos sacerdotes deixavam de ser apenas objetos e ganhavam “vida”. Assim, para o Middleton (e bem resumidamente), quando Deus sopra em nossas narinas, o que os autores do livro na verdade estavam imaginando seria Deus de fato “passando o bastão”, como regente desse mundo, ao ser humano: somos “imagens de Deus”, literalmente, segundo essa visão; um representante “vivo”. Talvez complementando essa visão, em outro relato, ainda em Gênesis (e em outros lugares, como Salmo 8), o ser humano deveria “dominar” sobre os outros seres vivos. A regência do mundo é um “ofício” dado pelo próprio Criador.

Qual tipo de domínio/regência será que Deus tinha em mente? Para responder a isso, é útil (diria que é fundamental) lembrar do que foi dito acima, sobre o livro de Jó e o deleite de Deus com o que criou, a aliança e preocupação de Deus não só com Noé e sua casa e o fato de o próprio Deus ter declarado a Criação como “boa” antes mesmo de os seres humanos existirem. É legal a gente lembrar também que em várias partes da bíblia (incluindo o próprio relato da Criação e Salmos como o 8 e 104) fica muito claro que a terra é de Deus; ele é o Criador, sustentador e também (mas esse tema fica para outra ocasião) redentor do que criou. O Salmo 104 é particularmente interessante, lá é dito que os animais “esperam” que Deus os alimente (Sl. 104:28), fala que o próprio Deus renova a face da terra, enviando seu espírito (verso 30), fala que Deus se alegra em suas obras (verso 31) e por aí vai. Se formos representantes de alguém com essas características, que tipo de representantes devemos ser?

Uma coisa que me ajuda a pensar nesse assunto é primeiro nos colocarmos “em nosso lugar”. Para mim (e não cheguei a essa conclusão sozinho e não sou o único a ver as coisas dessa forma), a visão da bíblia é a de que existem duas divisões principais: Criador e Criação. O Criador ama, se alegra e está constantemente atento à Criação, a ponto de os próprios animais esperarem por serem alimentados por Ele. Esse Criador, por algum motivo que não acho que esteja claro na bíblia, resolveu nomear uma espécie, dentre as outras, para servir como regente, como alguém que guarda, cuida, cultiva. Essa espécie é tão parte da Criação quanto uma formiga e um hipopótamo. Viemos do barro, como as outras criaturas (e ao barro voltaremos). A diferença é que nós temos o papel de regentes: de cuidar e cultivar o “jardim”, somos “mediadores” (representantes) entre Deus e o “resto” da Criação.

Falei acima que o conhecimento da humanidade sobre o nosso nível de dependência da Criação era bem menos aprofundado do que hoje, porém as bases já estavam lá, afinal, pensem em uma sociedade rural, “pastoralista”, que não sabe que depende do que está a sua volta: isso tem chance de dar certo?! Mas vou usar alguns poucos exemplos, de coisas que “existiam” já no jardim que Deus plantou e onde nos colocou e que indicam um reconhecimento da dependência do resto da Criação: água, que vinha de dois grandes rios (Tigre e Eufrates), alimento, que vinha do que crescia nesse jardim. Um detalhe interessante é que depois de comerem do fruto, Adão e Eva ficam envergonhados e fazem roupas para si usando folhas, então vestimenta está lá também. Outra indicação dessa consciência sobre a nossa dependência, apesar de menos direta, seria a palavra para “cultivar”, que é um termo usado para agricultura, que é um empreendimento humano que sempre precisou e sempre vai precisar de coisas como cuidado com o solo, podas, regas e etc; um dos nossos chamados era “cultivar” o jardim (que não é nosso) e esse “cultivo” pressupõe uma série de conhecimentos (e cuidados) que são imprescindíveis para que não haja degradação e o cultivo passe a ser impossível (tem uma autora que tem um ensaio sobre isso muito interessante, chama Ellen F. Davis). Ou seja, já em Gênesis vemos um reconhecimento de que além de fazer parte Criação e apesar de termos um papel “diferente” dos outros organismos (ou outras criaturas), ainda dependemos do que está a nossa volta. Não só isso, mas nosso papel implícito (se não estivéssemos tão alheios ao mundo a nossa volta, diria que o papel seria explícito mesmo) é o de manter esse jardim em funcionamento (cultivando e protegendo). Deus não disse “morem aqui e quando não der mais, se mudem para outro lugar, o mundo é muito grande! Tem espaço de sobra por muitos milhares de anos ainda J”. Poderia ter sido assim, não poderia?

A ciência hoje ressalta e aprofunda o conhecimento da nossa dependência da Criação a cada dia e encontramos a tal interdependência (ou conexão) as vezes em locais e de formas completamente inusitadas, que nunca seriam imaginadas, caso não tivéssemos avançado como fizemos nas últimas décadas na área científica. Sabiam por exemplo que a caça de baleias pode afetar a disponibilidade de nutrientes que as plantas precisam para crescer saudáveis em várias partes do mundo? Sabiam que macacos podem afetar quais espécies existem em florestas? Sabiam que, ao desmatar áreas naturais, pode haver aumento na incidência de algumas doenças (como febre amarela) em áreas próximas? Sabiam que a Amazônia (e outras florestas densas tropicais) podem “criar” a sua chuva? Sabiam que com a quantidade de gases que estamos lançando para o ar com a indústria, carros, agricultura e etc (sim, o famoso CO2), estamos modificando a qualidade nutricional de alimentos e isso pode estar contribuindo para problemas de desnutrição (se quiserem, procurem pelo termo “fome oculta” ou “hidden hunger”) em algumas partes do mundo? Sabiam que mudanças climáticas podem aumentar os casos de conflitos entre países? Esses exemplos de conexões difíceis de imaginar poderiam continuar quase indefinidamente e praticamente a cada dia novas conexões são descobertas. Eu não vou me alongar nesse ponto, não vou ficar mostrando números e sendo exaustivo, o propósito não é esse (mas se tiverem interesse em ir mais fundo no assunto, me perguntem, que tento ajudar no que for possível, agora e mais tarde). O que quero frisar é que vivemos em um mundo extremamente complexo e interconectado; os autores da bíblia não tinham como saber dessas conexões na profundidade que o fazemos hoje, mas atualmente temos condições melhores ainda de avaliar como temos cumprido nosso papel de “regentes” (repetindo, para ficar gravado:) que representam um Criador amoroso. Ao fazer isso, provavelmente chegaremos à conclusão que não estamos lá muito bem nesse ponto e que temos um trabalho árduo pela frente. Vocês devem saber, senão não estariam aqui. Então vamos lá, para a parte não tão agradável. Mostrar um pouco de como temos afetado a comunidade da Criação, como 1) se não fizéssemos parte dela, 2) como se não dependêssemos dela, 3) como se não tivéssemos uma responsabilidade, muito clara, dada pelo Criador (nosso e do que está a nossa volta), com relação a ela.

Egoísmo e Des-conexões: a realidade do mundo

O ser humano é uma espécie tão bem sucedida, engenhosa e adaptável e com uma população tão grande, que temos conseguido modificar a superfície da terra. Isso tem acontecido literalmente. Vou começar com um termo que inventaram há tempos atrás e que desde 2002 tem sido alvo de discussões, para definir se a comunidade científica deve ou não oficializá-lo. Independente da comunidade científica, ele tem sido muito usado na mídia. O termo é “Antropoceno”. Esse termo lembra outros que talvez vocês já tenham ouvido falar por aí, Holoceno, Eoceno, Pleistoceno. Se nunca ouviram nenhuma delas, sem problemas também. Essas palavras se referem a “épocas geológicas” e os cientistas as usam para organizar o tempo passado da terra, de forma bem simples (geologia não é minha área), ajuda os cientistas a saberem, entre outras coisas, sobre as características do planeta em uma determinada época. Sabem que se estão falando de eventos no Eoceno, ou de uma data dentro desse período, a atmosfera da terra tinha quantidades baixas de um tipo de átomo de Carbono e que os continentes já estavam se separando.

Se queremos que os cientistas do mundo todo pensem nas mesmas “características” quando ouvem o termo Eoceno, é necessário que as características dessa época sejam bem definidas e possam ser reconhecidas pela comunidade científica. Essas características são marcas, como impressões digitais, que podem ser observadas pelos cientistas em diferentes aspectos da terra (atmosfera, camadas de rochas, leito do mar e por aí vai), mas é importante ressaltar que precisam ser marcadores facilmente identificáveis por cientistas. Essas camadas nos contam uma história sobre a composição da atmosfera, quais elementos químicos eram mais abundantes, como era a temperatura e diversas outras coisas. Complexo, certo? Sim! Esse é um campo de estudo da geologia e existem grupos de cientistas especializados em definir essas épocas, que são os que andam discutindo se o Antropoceno deve ou não ser oficializado. Agora, pensem em eventos que possam ser fortes o suficiente para deixar marcas desse tipo na terra. Eles devem ser bem grandes, né? Sim, meteoros são capazes de causar estragos suficientes para deixar algumas marcas dessas. Extinções em massa fazem isso, glaciações fazem isso.

Bom, se estão considerando oficializar o Antropoceno (“Antropo” = homem) é porque o ser humano tem conseguido deixar registros facilmente identificáveis. Então, estamos sendo uma “força da natureza” comparável a glaciações, meteoros e outros eventos de enorme escala. Vou citar dois registros que temos deixado, bem conhecidos e que foram notícia nos últimos meses (ou anos):

1) mudança na atmosfera terrestre (que acaba sendo registrada em sedimentos na terra, de diversas formas): hoje a concentração de gás carbônico na atmosfera passou de 400 partes por milhão e a última vez que tivemos concentrações dessas, foi há 3 milhões de anos (vejam só, isso aconteceu em outra época geológica, durante o Plioceno; quando nossos antepassados mais distantes estavam começando a aparecer) e o clima do mundo era bem diferente, porque a composição da atmosfera influencia diretamente a temperatura da terra, que por sua vez influencia desde a intensidade e frequência de tempestades até correntes oceânicas. Essas alterações na atmosfera não estão restritas ao CO2, temos alterado a concentração de outros elementos também, como nitrogênio (mas fica para outro dia).

2) quantidade de plástico nos oceanos e ambientes terrestres: o plástico que usamos e descartamos muitas vezes acabam indo parar nos oceanos ou em outros ambientes e, por não serem decompostos, acabam se acumulando, mas ao serem ingeridos por diferentes organismos, podem causar muitos problemas, inclusive morte de bichos grandes como baleias; uma foi encontrada morta com 64 kg de plástico no estômago nesse ano.

Resumindo o blábláblá acima: 1) A história da terra é dividida em períodos, 2) marcadores geológicos (pensem em como vocês identificam que um lugar é gelado ou quente, com base em fotos: vocês procuram por marcadores: gelo, pinheiros, cactos, camelos) são usados para identificar essas épocas. 3). Esses marcadores precisam ser relativos a eventos grandes, porque tem que ser identificados claramente olhando a história da terra. 4) O ser humano criou vários marcadores, principalmente depois dos anos 1950 e nenhum desses é bom: quantidade de plástico nos oceanos e alterações na atmosfera da terra são dois exemplos. Ambos significam “problema a vista”.

Outro fato que mostra nossa força como espécie, é o de estarmos nos comportando na Terra como se fôssemos um meteoro que caiu por aqui. Podemos comparar a quantidade de espécies que tem sido extinta hoje com a quantidade que era extinta no passado, com base em registros fósseis. As taxas de extinção no passado eram de 100 a 1000 vezes menores do que os níveis atuais. Isso para grupos de organismos que nós conhecemos bem, como aves e mamíferos. Se formos considerar outros organismos, as taxas talvez sejam ainda maiores. Lembrem-se: assim como tudo na Criação está ligado de forma direta ou indireta, esses exemplos estão conectados também.

O Antropoceno, com base nos marcadores que falei, seria um indicativo de que tipo de “regente”? Qual tipo de cuidado temos tido com a Criação, da qual fazemos parte e com a qual compartilhamos e compartilharemos uma história? Imaginando que um animal (sim, imaginação me ajuda a entender algumas coisas de forma bem clara! Usem-na nessas horas) fosse buscar em nós descobrir como o Criador é (igual muitas vezes esperamos entender melhor a Deus olhando para pessoas que admiramos, ou em quem nos espelhamos), que tipo de Criador seria encontrado?

Lembram da analogia da Criação como uma grande orquestra, “louvando” o Criador? Como tem ficado essa orquestra, com o passar do tempo, graças à nossa ajuda? Lembram que na bíblia diz que os animais esperam que Deus os alimente? Isso passa uma ideia de confiança, certo? O que eles têm recebido de nós, quando nos olham como “regentes” e “imagem de Deus”?

Deus sabe o que faz…

Essa parte é só para dizer que, durante toda a bíblia e independente dos muitos autores, contextos e mensagens dos diferentes livros, outro tema constante é que Deus sabe o que faz. Ele pode não estar no controle da maneira como gostaríamos (tratando o ser humano e a Criação como uma simples marionete), mas ele sabe, sim, dos limites de cada elo da Criação. Se ele imaginou um jardim, se ele imaginou uma “comunidade” da Criação vivendo em comunhão, vivendo uma vida de qualidade, é porque isso é possível. Existiu a queda, sim, e provavelmente nunca viveremos em paz e com qualidade como poderíamos antes de Jesus voltar uma segunda vez, mas, nós fomos chamados para quê? Cristãos tem um chamado sobre o outro: o original, de cultivarem o jardim, que nunca foi revogado (até porque não poderia ser visto como nossas vidas estão entrelaçadas com o resto da comunidade de Criação) e um outro, de mostrarem como seria uma vida vivida da forma que Deus planejou.

Para pensarem e pesquisarem:

  1. De que maneiras o ser humano depende da Criação? O que a destruição do que está a nossa volta pode nos causar de problemas? Sejam criativos, podem existir ligações que nem paramos para pensar. Com base no que vocês descobrirem aqui, será mais fácil responder as perguntas abaixo.
  2. Será que a visão que faz separação entre humanos e o “resto” da Criação é uma boa divisão? Isso é útil na hora de identificar “atores” diferentes; por exemplo na hora de falar de nossos impactos na natureza, essa separação, ainda que artificial, é útil. Vocês conseguem identificar outros momentos em que ela é útil? E a partir de quando se torna problemática?
  3. Lembram das perguntas que fiz lá no começo, sobre nós e nossa guerra com o “resto” da criação? Que tipo de “guerra” você, pessoalmente identifica? E em relação ao ser humano como espécie, no que vocês conseguem pensar?
  4. Quais atitudes podem ser tomadas individualmente, para diminuir nosso impacto na natureza?
  5. Talvez a pergunta mais importante aqui: lembrando das conexões e sua importância: Vocês acham que cada pessoa, isolada, fazendo “sua parte”, é suficiente para mudarmos o curso em que estamos como humanidade? O que vocês acham que pode ser feito?

Livros e estudiosos legais

Algumas pessoas que falam sobre esse assunto e gosto muito estão listados a seguir. Não estão em ordem de preferência e não é uma lista exaustiva; vocês vão achar muito mais material e muito mais gente se procurarem. Aqui embaixo listei apenas cristãos, já que o foco é tentar ajudar vocês a repensarem a forma de verem a si mesmos em relação ao mundo. Existem muito e muitos livros escritos sobre nossos impactos e a relação da humanidade com o mundo de perspectivas diferentes, religiosas ou não (e muita, muita coisa boa!!)

Norman Wirzba, Richard Bauckham, Paul H. Santmire, Fred Van Dyke, Elizabeth Johnson, Steve Bouma-Prediger, Dave Bookless, Craig Bartholomew, Calvin DeWitt, Katharine Hayhoe, Wendell Berry, Ellen F. Davis, Jürgen Moltmann

Organizações

Existem alguns grupos que tem se preocupado com a questão ambiental de um ponto de vista cristão e que eu recomendo. Dois deles são:

A Rocha, uma ONG que já existe em vários países, incluindo o Brasil.

Au Sable Institute, que focam mais na área de pesquisa propriamente dita, mas tem muitas outras iniciativas legais, inclusive para “leigos”.

 

Assuntos relacionados

Quem tiver mais interesse no assunto de problemas ambientais, se segurem (e escondam as facas) e procurem por alguns tópicos que devem interessar. Não sei se todos eles são adequadamente tratados em português. Lembrem que conhecer os problemas nos ajuda a pensar em soluções. Como Cristãos, não somos chamados a nos “acovardar” diante de problemas, certo? Jesus brigou apenas com o Império Romano (e foi crucificado por isso, mas brigou e no fim obteve êxito) e usando o clichê, “cristão” significa “pequeno cristo”. Outra coisa importante de lembrar é que, quanto mais gente souber dos problemas e estiver disposta a mudar, melhor para, literalmente todo mundo, incluindo gerações futuras.

Mudanças climáticas (climate change)

A grande aceleração (the great acceleration)

Antropoceno (anthropocene)

Fome oculta (hidden hunger)

Millenium Ecosystem Assessment

Permacultura (permaculture)

Slow food (sem nome em português, o movimento chegou ao Brasil com nome gringo)

 

*Thiago R. Bandeira de Mello é biólogo e faz doutorado

na UnB em Meio Ambiente

 

 

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