Sermões

Missão Essencial

Atos 7                                                                                                                                                    Pastor Julio Borges Filho

                                      

INTRODUÇÃO:

– Depois do Sermão da Montanha, o sermão mais importante na história da igreja foi o sermão de Estevão perante o Sinédrio judaico. É tão importante que valeu o preço de sua vida. Estevão foi apedrejado e suas vestes foram jogadas aos pés de Saulo de Tarso que, convertido depois, aprendeu a lição e pôs o sermão em prática. Refletir sobre suas verdades centrais é fundamental para que a igreja não perca o rumo de sua missão no mundo. Às vezes, em sua história, as igrejas agarram-se a formas e se esquecem do essencial. Mário de Andrade já dizia que “pessoas não discutem conteúdo, apenas os rótulos”.

– São apenas quatro simples lições de importância fundamental. Simples para que todos as entendam e delas não se esqueçam, e todos elas baseadas na história do AT e em Jesus Cristo. Por isso hoje as trago para reflexão e prática desta amada igreja.

I. O CHAMADO PRECEDE A ORDENANÇA, vrs 1-16

Abraão foi primeiro chamado e só depois foi circuncidado

  1. A comunidade dos chamados – Quem o Espírito Santo chamar deve ser aceito… É a comunidade sem preconceitos onde a base da admissão é o chamado divino. A igreja não faz distinção de  raça, sexo, nacionalidade, cultura, ou status social. Quem o Espírito de Cristo chamar na força da pregação do Evangelho de Cristo, deve ser aceito.É famosa a história de um piedoso negro norte-americano do sul que, sendo membro de uma igreja no interior, mudou-se para a capital de seu Estado. Procurou uma igreja e, perto de sua casa, achou uma igreja batista de brancos. Ele gostou do sermão, do coral e, após o culto, falou com o pastor que gostaria de solicitar sua carta de transferência. O pastor, assustado porque conhecia sua igreja, disse-lhe: “Irmão Jim: ore durante uma semana e pergunte a Jesus se é isso que Ele quer mesmo para o irmão e sua família”. Obediente, Jim orou durante a semana com sua família e retornou no domingo seguinte à igreja. “E aí, irmão Jim, o que o Senhor Jesus lhe disse?”, pergunta o pastor. Jim responde: “Ele me disse o seguinte: Jim, desista desta igreja porque há 15 anos eu quero entrar nela e não consigo”. Quando a igreja rejeita um irmão chamado por Cristo, rejeita o próprio Cristo. Na comunidade dos chamados não deve haver preconceito de qualquer espécie.
  2. O chamado é maior que a ordenança/sacramento – O batismo, substituto cristão da circuncisão judaica, é para os que foram chamados. Este é o significado da palavra ecclesia (igreja): assembleia dos aceitaram o chamado de Cristo. A história de Filipe, o evangelista, e o eunuco etíope, conforme registrada em Atos dos Apóstolos 8:26-40, ilustra muito bem isso. O eunuco era prosélito de judaísmo e vinha celebrar a festa da Páscoa em Jerusalém, mas era impedido de entrar no tempo por ter um defeito físico: era castrado. A Lei mosaica o proibia. Nem mesmo no átrio dos gentios ele tinha acesso. Quando ouviu, a partir de Isaias 53, Filipe lhe falar de Jesus Cristo, ele desabafou: “Eis aqui água; que impede que seja eu batizado?”.  O evangelista lhe diz: “É lícito que crês de todo o coração.” A resposta do Eunuco: “Creio de Jesus Cristo é o Filho de Deus”. E foi batizado e seguiu o seu caminho cheio de júbilo. Graças a Deus que Filipe não era preconceituoso e foi usado pelo Espírito.
  3. Chamados como Abraão para sermos uma bênção para o mundo – A história da salvação começa com Abraão que é o pai da fé e nos alcançou. No descendente de Abraão, que era antes de Abraão, Jesus Cristo a chamada do patriarca se cumpre: “em ti serão benditas todas as famílias da terra”. E somos chamados em Cristo para sermos uma bênção para o mundo cheio de pecado, violência, preconceitos e dor. O “sê tu uma bênção” do pai Abraão é para todos os que aceitaram o chamado divino.  Isso implica uma peregrinação sempre inconformada pelo mundo.  

     II. A GRAÇA PRECEDE A LEI, vrs 17-43

Antes que a lei fosse dada no Sinai, a graça já era derramada no mundo.

  1. A comunidade da graça – O que é graça? – É o amor imerecido. Ouvi uma história interessante que ilustra muito bem isso. Um adolescente pobre, por não ter estudado bem, ganho a nota zero do seu professor. Ficou furioso e com medo de seu severo pai. Com raiva no coração ficou esperando o professor numa esquina com uma pedra na mão. Quando o professor se aproximou, ele atirou a pedra que, certeira, feriu o professor na testa, mas o professor o viu. Após fazer o curativo da ferida no pronto-socorro, o professor foi a uma loja e comprou uma roupa completa para o aluno rebelde. Foi à sua casa e o pai do aluno o recebeu. Ele se identificou como professor e disse ao pai que veio trazer um presente para seu aluno. O pai chama o filho que havia se escondido com medo de que o professor tivesse vindo denunciá-lo. Olhou para o presente, abriu, e disse ao professor que ele não merecia. O professou insistiu e ele confessou seu crime dizendo que foi ele que atirou a pedra. O professor disse: “Eu seu, meu filho, e sei também que você precisa desta roupa”. A resposta magnífica do jovem adolescentes foi essa: “Preciso, mas não mereço”. Isso é, precisamente, graça. Jesus foi o maior presente dado à humanidade. De sua morte na cruz por nós, jorra copiosamente a graça de Deus para a salvação de todo aquele que crê. E todos precisamos deste amor, mas não o merecemos. A igreja é a comunidade da graça: pecadores alcançados pelos amor de Deus em Cristo. Costumo dizer que não há ninguém bom demais que não careça da graça de Deus, e ninguém mau demais que não seja alcançado por ela.
  2. A graça é maior que a lei – Ninguém na história da igreja aprendeu esta lição melhor do que o Apóstolo Paulo. Ele ouviu o sermão de Estevão no Sinédrio. Seu coração zeloso da Lei consentiu na morte do grande homem de Deus. Ao se converter esta lição lhe veio forte e tornou-se obcecado pela graça de Deus em Cristo. Suas cartas têm um tema central: somos salvos, não pela lei (o ministério da morte), pela graça (o ministério da vida e do espírito). “Porque a letra mata, mas o espírito vivifica” – Coríntios 3:6. A lei cumpriu sua missão como um “aio”, um professor para nos apontar Jesus Cristo e seu poder gracioso.
  3. Somos mensageiros da graça e não da lei. Nossa tarefa não é condenar, mas salvar. Quando os filhos do trovão, Tiago e João, quiseram fazer churrasco à samaritana querendo mandar descer fogo do céu como o profeta Elias para matar os samaritanos que não quiseram receber Jesus, o divino mestre os repreendeu dizendo: “Vós não sabeis de que espírito sois. O Filho do Homem não veio para destruí as almas dos homens, mas para salvá-las” – Lucas 9:56.

    III. O CULTO PRECEDE O TEMPLO, vrs 44-50

Antes do tabernáculo ou do templo, Deus já era cultuado em todos os lugares.

  1. A comunidade de adoradores – Adorar a Deus é estar apaixonado por ele. Li a história de um homem que chegou num templo católico e ficou extasiado olhando para a imagem do Cristo crucificado. Outro homem ficou curioso sobre aquele olhar fixo na imagem. Após meia hora o primeiro homem saiu do transe e o outro lhe perguntou”; “Porque você estava olhando por tanto tempo para ele?” Resposta: “Eu simplesmente olhava para ele e ele para mim”.
  2. O culto é maior que o templo

 Pode-se cultuar a Deus em qualquer lugar porque em Cristo todos dos lugares, especialmente o lar, são santos. Os homens se sentem atraído por lugares sagrados: os judeus pelo templo de Jerusalém e por outros santuários; os islâmicos por Meca; os hindus pelo rio Ganghis; os católicos por inúmeros santuários, aqui no Brasil, Aparecida, Bom Jesus da Lapa, Juazeiro do Norte, Trindade. Mas os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e em verdade como ensinou Jesus. O Pentecostos elegeu o lar, o lugar mais universal do mundo, como o lugar por excelência da atuação do Espírito Santo.

– O perigo do templo – O templo de Jerusalém foi construído e reconstruído três vezes, e três vezes destruído porque tornou-se um ídolo e um lugar de idolatria. Hoje igreja gastam milhões na construção de templos, e até já construíram uma réplica do templo de Salomão em São Paulo. Pura idolatria. O templo deve ser um lugar simples e de adoração. Jesus preferia as casas e os lugares livres ao templo de Jerusalém. Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Quando pastor da Terceira Igreja Batista de Brasília, havia um grande mocidade, e de vez em quando aparecia uma moça grávida. Via de regra dava em casamento. Na véspera de um casamento assim, dois líderes da igreja vieram conversar comigo sobre a inconveniência do casamento ser celebrado nu templo. Eu perguntei a eles: “Quem é mais importante a moça grávida ou o templo?” Eles responderam: “Moça, é claro”. Nesse caso o casamento será mantido e os irmãos devem ser testemunhas deste anto de amor. E eles o foram sem constrangimentos.

3. A adoração nos livra do horizontalismo e da idolatria – Nossa missão é a missão de Deus no mundo. Na adoração nos livramos da idolatria que é, segundo Paul Tillich, a absolutização do finito. E mais: na adoração tornamo-nos mais parecidos com Jesus Cristo. Sem ela tudo que fizermos é vazio e sem o amor de Deus. Seremos barulhentos, ostensivos, egoístas, mas não comunicaremos a essência do Evangelho – I Coríntios 13.

IV.  JESUS CRISTO, O ESSENCIAL, vrs 51-60

  1. 1.      É Ele quem chama e nos entra a missão de ser uma bênção 
  1. 2.      Ele e a maior manifestação da graça de Deus na história humana 
  1. 3.      Ele é maior que o templo porque nele habita corporalmente a plenitude de Deus. Nele está a salvação e o futuro da humanidade. 

CONCLUSÃO:

– A missão essencial é impulsionada por uma chamada divina de ser uma bênção para o mundo. A iniciativa do chamado é divina que nos chama para sermos um bênção para o mundo sem fazer discriminação de raças, nações e culturas. Somos peregrinos de Deus no mundo e, em trânsito, vamos abençoando. Somos o protótipo de uma nova humanidade.

– A missão é essencial prioriza a graça de Deus revelada em Jesus Cristo.

– A missão essencial nos leva à adoração e não à idolatria. Sem verdadeiro culto não há igreja e nem missão.

– A missão essencial é Cristocêntrica: vê em Jesus Cristo a verdade sobre Deus e sobre o homem, e o único caminho que engloba tudo: o chamado, a graça e o culto, e a chave hermenêutica de intepretação da Bíblia, da história humana e da esperança salvadora.

– A missão essencial somos nós – Templos vivos do Deus vivo.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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