CEIA DO SENHOR – Uma resposta.
Por Nilson Pereira de Moura, bacharel em Teologia e pastor da ICB
Escrevi tempos atrás um texto sobre a Ceia do Senhor com o título: A Ceia do Senhor um Ato de Proclamação da ressurreição e volta do Senhor. Um leitor do nosso sítio mandou um comentário do (Sr. Leo Brilhante) que reproduzo abaixo:
“É interessante vc falar da Ceia do Senhor, quando na verdade vc não faz nadaalém de um simples banquete. A verdadeira CEIA do Senhor, é onde o CORPO DE CRISTO E O SEU SANGUE VERDADEIRAMENTE é consumido. Jesus nos diz, «Isto é o meu corpo…isto é o meu sangue» (Mt 26.26-28). Ele não diz. OLha se reunam, comamo pão e pensem q é,, faz de conta q seja, simbolize q é meu corpo. NÃO. Jesus diz claramente que É o corpo dele. É. verbo ser, estar. verbo que nos mostra uma AÇÃO. Dizer que celebrar a “ceia” é apenas uma lembrança do que o Senhor pediu, é rebaixar o Corpo de Cristo a uma mera convenção social. Como bacahrel de Teologia, pediria a vc, caro pastor que estudasse de novo e fosse rever seus métodos de ensino, quem sabe vc não aprende mais coisas do q imagina. Deus lhe abençoe”.
Hesitei-me em responder o comentário, mas em respeito ao leitor vou respondê-lo, mas sem espírito de contestação, apenas com objetivo de esclarecimento e enriquecimento do tema.
A ceia do Senhor é celebrada por toda a cristandade no mundo, mas nem toda a cristandade tem a mesma exegese ou hermenêutica do evento, tanto é que ao longo do pensar teológico surgiram várias interpretações sobre a natureza dos elementos da Ceia do Senhor. Em poucas palavras exporei as principais interpretações:
- Transubstanciação – é a tese de que os elementos são transformados no corpo e no sangue de Jesus Cristo. O pão se transforma em carne e o vinho em sangue de Cristo. O dogma da transubstanciação foi promulgado em 1215 no Concílio de Latrão. No Concílio de Trento realizado no século 16 a Igreja Católica Romana deu como ponto final a doutrina da transubstanciação. Ou seja, Jesus Cristo está de forma real no pão e no vinho pelas palavras do celebrante. O fiel quando come a hóstia (pão) e bebe (o vinho) ele toma literalmente o corpo e sangue do Senhor.
- Consubstanciação – é a tese de que o corpo de Cristo está presente “em, com e sob” o pão e o vinho, com essa interpretação é negada a transubstanciação. Martinho Lutero mantinha uma interpretação literal das palavras de Jesus Cristo “Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue”. Mesmo negando à transubstanciação a tese da consubstanciação afirma que o corpo e o sangue está com o pão e o vinho. Os elementos da Ceia permanecem inalterados, ou seja, pão é pão e vinho é vinho, embora a maioria dos defensores da consubstanciação defendem a existência de uma presença mística e graciadora nos elementos da ceia.
- Presença Mística – é a tese de que a união de Cristo com os cristãos seja espiritual e que quando os elementos “sacramentos” são recebidos com fé ele é agraciado por Deus, ou seja, a graça de Deus o acompanha. Jaziel Guerreiro Martins em seu livro Manual do Pastor e da Igreja escreve:
“Calvino insitia na presença real do Senhor na Ceia, mas não corporal e, sim, espiritual. É uma presença mística, espiritual, especial de Cristo durante a cerimônia, sendo a Ceia um meio de fortalecer a fé”.
- Memorial – é a tese de que a ceia é apenas um ato simbólico e representa e lembra as bênçãos espirituais, é comemoração do que Cristo fez por todos os pecadores. É uma profissão de fé. A Ceia foi instituída como memorial objetivando a lembrança viva do sacrifício vicário que Jesus Cristo. Enquanto vivo afirmou em Mateus 26:26-28:
“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e deu aos seus discípulos, dizendo: tomem e comam; isto é o meu corpo. Em seguida tomou o cálice, deu graças e ofereceu aos discípulos, dizendo: Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados”.
É claro que o próprio Jesus ensinava em termos simbólicos, pois ninguém podia comer sua carne e beber seu sangue enquanto ele estava com os discípulos. Os anabatistas anteriores à expressão de fé do catolicismo romano acreditavam que: “a Ceia do Senhor era apenas simbólica lembrando aos cristãos o que fez Jesus Cristo na cruz em seu favor. O cristão também devia, mediante a esse reconhecimento, dedicar-se a Deus. Jesus está presente no coração do cristão e nele habita pelo Espírito Santo”. A confissão de fé Batista de 1689 – afirma:
“…A ceia do Senhor Jesus foi instituída por ele, na mesma noite em que foi traído, para ser observada nas igrejas até o fim do mundo; a fim de lembrar perpetuamente e ser um testemunho do sacrifício de sua morte; para confirmar os crentes na fé e em todos os benefícios dela decorrentes; para promover a nutrição espiritual e o crescimento deles, em Cristo; para encorajar o maior engajamento deles em todos os seus deveres para com Cristo; e para ser um elo e um penhor da comunhão com ele e de uns com os outros.
Nessa ordenança, Cristo não e oferecido ao Pai, nem qualquer sacrifício real é feito, para remissão do pecado dos vivos ou dos mortos. A ceia é apenas um memorial do sacrifício único que Cristo fez de si mesmo, sobre a cruz e de uma vez por todas; é também uma oferta espiritual, de todo o louvor que é possível oferecer a Deus em reconhecimento ao sacrifício feito por Cristo. O sacrifício católico-romano da missa (como é chamado) é totalmente abominável e uma injuria ao sacrifício pessoal de Cristo, que é a propiciação única por todos os pecados dos eleitos…”.
E mais:
“As pessoas ignorantes e ímpias, visto não estarem propriamente adequadas para desfrutar da comunhão com Cristo, são, portanto, indignas da mesa do Senhor, e não podem tomar parte nestes santos mistérios, nem a ele serem admitidas sem que comentam um grande pecado contra Cristo. Qualquer que comer do pão ou beber do cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor, comendo e bebendo juízo para si”.
Conclusão – diante das várias interpretações eu optei pela tese do Memorial, embora respeite quem pensa e realiza a Ceia do Senhor sob outra hermenêutica. Não entrei em debate das várias teses porque todas elas já foram suficientemente debatidas para que cada cristão assuma que o ele julgar mais coerente a partir de suas premissas e pressupostos.
Restando apenas que cada um as estude com honestidade e bom senso. Afirmo que a Bíblia nem sempre deve ser lida literalmente e que NUNCA de ser lida com premissas fundamentalistas. No mais, fico com o apóstolo Paulo quando afirma:
“Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em foi traído, tomo o pão e, tendo dado graça, pariu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim. Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor”. (1 Cor11:23-27).
Bibliografia consultada:
Bíblia Sagrada – Nova Versão Internacional. Vida.
Ferreira, Franklin e Mayatt, Alan – Teologia Sistemática, uma análise histórica e apologética para o contexto atual. Vida Nova, 2007.
Martins, Jaziel Guerreiro – Manual do PASTOR e da Igreja. A. D. Santos. Editora, 2002.