O Teatro dos Sentidos
Pastor Julio Borges Filho
Assisti no dia 15 de dezembro de 2012, na Aliança Francesa em Brasília, o espetáculo de Paula Wenke Feliz Ano Novo. Não vi nada, mas vi tudo mesmo sem a visão. Colocaram-me um venda nos olhos e fui guiado por uma artista com minha esposa e os outros espectadores a uma sala ao som de bela música. E, aproximadamente, durante uma hora e meia, naveguei por vários lugares, senti gostosas sensações, comi, bebi champanhe, ri, aplaudi, e descobri que a vida continua linda, mesmo sem a visão. O que importa são os olhos da alma.
Conheci Paula Wenke numa “deusidência”, como ela costuma dizer, num voo da saudosa VARIG de Belo Horizonte para Brasília, creio que em outubro de 2004. Ela vinha do Rio e eu me sentei ao lado dela e, extrovertida e simpática, perguntou-me muitas coisas logo que descobriu que eu era um pastor. Isso porque o saudoso bispo anglicano Robinson Cavalcanti vinha numa poltrona logo atrás. Após conversar rapidamente com o amado bispo, ela me perguntou se bispo podia casar-se pois vira uma aliança na mão esquerda dele. Conversamos animadamente até chegar a Brasília. Meu filho, então fazendo doutorado em química na UnB, pegou-nos no aeroporto de Brasília e a deixamos na residência dos pais dela na 316 Sul. Ficamos amigos. Tornei-me seu pastor e ela minha ovelha predileta. Eis a poesia que ela me inspirou em 11 de novembro de 2004:
Minha ovelha predileta
Num vôo da vida a encontrei
curiosa, inteligente e viva…
Do meu cajado ficou cativa,
e eu pela ovelha apaixonei.
É bela,
é forte,
é branca,
é norte.
Extrovertida,
é artista
dos sentidos
da vida.
É divertida,
sensível,
por todos
querida.
Ah!… Minha ovelha predileta,
tu serás sempre dileta
ao meu coração.
Que a vida lhe sorria alegre,
e que teu projeto carregue
paz e emoção.
Paula Wenke, além de excelente poeta, é a criadora do Teatro dos Sentidos, e criar nos assemelha a Deus. Essa deusa, profundamente humana e com uma sensibilidade à flor da pele, nos encantou com sua criação. Ela me falava sempre dela, fez até palestra em minha igreja neste ano no Dia Internacional da Mulher, mas só agora participei comovido de um espetáculo. Saí melhor do que entrei e resolvi agora exercitar, de olhos fechados, meus poderes ocultos nos sentidos. Acho que esta foi a minha melhor experiência com o teatro. No final do espetáculo fomos apresentados aos anjos atores e vi homens, mulheres e crianças e, por último, ela, todos mensageiros de um novo mundo mais humano, mais poético e livre de barreiras e preconceitos.
Obrigado, minha ovelha de muita lã. Que Deus continue lhe iluminando para que você possa cada dia iluminar outros. Minhas orações lhe acompanharão sempre.
Brasília, 16 de dezembro de 2012.