SEMEA-DURA
Wilson Xavier Dias
Pense um pouco e esclareça
Uma dúvida, semeador:
Por quê é que te afadigas
Nesse teu grande labor,
Se ao peso da semente
Que te marca o ombro em dor,
Vem somar-se a rudeza
Do causticante calor?
Ora, esta é a natureza
Da minha sofrida missão.
Se alguém vê minha labuta
Como triste profissão
Não ajunto minha voz
Na lamúria dessa luta,
Pois, se há dor, é suportável
Onde põe-se o coração.
Mas, então é voluntária
Essa tua condição?
Devo eu acreditar
Que nos dias que se vão
Alguém que, pobre ou não,
Possua alma tão nobre
E não tenha ambição?
Não partilho da ansiedade
Que me mostra o irmão.
Ambição também eu tenho,
Diz respeito à plantação.
Quando jogo a semente
No roçado desse chão
Quero ver ela brotar
Numa boa produção.
Se é assim o pensamento,
De que vale o teu lidar?
São tantos os contrários
Que te seguem o semear.
Veja só o desperdício
Da semente no caminho.
Já achou-a o pardal
Não a poupa o passarinho.
Porém isso não anula
Minha fé de plantador.
Se há risco de perder
Há esperança sim, senhor.
Eu não posso é escolher,
Terreno prá semear.
Lanço onde a mão alcança
Na esperança de brotar.
Mas em rocha dura e seca
De pouca terra e fartura,
Onde o grão nasce e viceja ,
Mas logo morre e não dura,
Ou por entre o espinheiro
Que sufoca e não atura,
Como pode algo render,
Diante dessa amargura?
O irmão não pode entender
Por não ter chance oportuna
De ver o grãozinho nascer
Em terra sem praga alguma.
É tão grande recompensa,
Igual não há nenhuma:
A semente crescer a cem
Onde lançou-se apenas uma.
O Evangelho é qual semente
Lançada no coração:
De uns vem logo o inimigo
E arranca sua porção;
De outros acaba o vigor
E murcha com a provação.
E outros ainda não aguentam
Da riqueza a tentação.
Mas qual boa semente
Lançada em terra arada,
Que quando chega seu tempo
Produz medida calcada,
É o cristão que escuta e aceita
A divina mensagem falada:
Vira logo semeador,
A espalhar a semente sagrada.