Estudo sobre o chamado de André e Pedro
Texto: Jo. 1:35-50
1 – Contextualização
João Batista exerceu seu ministério com um discurso duro, radical e um estilo de vida mais radical ainda. Sua mensagem era um chamado ao arrependimento e à volta à vida de santidade e comunhão com Deus. Apesar de apontar o dedo para a hipocrisia e incoerência dos religiosos, não encontrou muita oposição entre os mesmos, visto que sua mensagem estava perfeitamente alinhada à teologia da época e lastreada pelas escrituras. Em nenhum ponto sua mensagem poderia ser criticada como uma afronta à religião, pelo contrário, era uma afirmação dos preceitos e ensinamentos mais radicais do judaísmo. A oposição que ele sofreu veio do poder político, porque denunciou a conduta imoral de Herodes.
Já no final de seu ministério aparece Jesus e João, reconhecendo n’Ele a razão do seu próprio ministério apresenta Jesus como o Cordeiro de Deus, tanto publicamente, por ocasião do batismo de Jesus, quanto particularmente, para os seus discípulos.
Em meio a todo esse contexto, vamos tentar entender um pouco a estratégia de Deus, a postura de João Batista e o método de Jesus ao chamar os discípulos para montar seu grupo.
2 – A estratégia de Deus
Em meio a todo o preparativo que Deus fez para apresentar Cristo ao mundo, vamos destacar apenas dois pontos dessa estratégia:
– Deus separou João Batista, com um estilo de vida completamente ascético, radical, que desafiava ao estilo de vida acomodado e um tanto luxuoso dos religiosos da época, que mesmo em uma situação de dominados politicamente por Roma, mas devido à sua conivência com o poder, gozavam de relativa autonomia e abastança em relação ao populacho. João veio para denunciar essa situação e conclamar o povo a retornar aos princípios da lei de Deus. João representava a essência da lei, e foi enviado por Deus para mostrar o contraste entre esta e a graça que Deus proporia através de Jesus. João veio mostrar o rigor e a impossibilidade do cumprimento da Lei, Jesus veio propor a superação da Lei e seu cumprimento integral através da graça. João foi essencial, sob esse ponto de vista, e como ele mesmo se auto definiu, para a preparação do evangelho de Jesus.
– Outro ponto importante para o ministério de Jesus foi a escolha do seu colégio apostólico, que iria, após sua partida, dar continuidade á nova proposta do Reino de Deus. Com apenas três anos de ministério, foi importante para Jesus receber de João alguns discípulos, já preparados e já imbuídos da noção do Reino que se aproximava. O treinamento dado por João aos seus discípulos foi importante para Jesus economizar no tempo de preparo de seus discípulos.
3 – A postura de João Batista
Essencial nessa transição de ministérios foi a postura de João, sua consciência e lucidez perante o cenário que se apresentava.
Em primeiro lugar chama atenção a plena consciência que João tinha de sua missão: preparar o caminho para a chegada do Messias, não fazer escola ou arrebanhar seguidores. Em nenhum momento de seu ministério perdeu o foco de sua missão: Jesus, e não ele. Sabia que não teria a chance nem tempo de causar as transformações e mudanças que seu próprio discurso pregava. Sua função era só a preparação da mudança.
Outro ponto importante do ministério de João foi a preparação dos seus discípulos para a chegada do Reino. Ele acendeu no coração deles o desejo pelo Reino, a expectativa dAquele que estava para chegar. Tanto que quando Jesus chegou, bastou João apontar: Eis o Cordeiro de Deus, e dois dos seus discípulos foram atrás de Jesus para conferir. A preparação dada por João economizou muito tempo de Jesus na preparação dos SUS próprios discípulos.
Como prova também da lucidez que João tinha com relação ao seu ministério e seus limites, foi que ele conseguiu fazer uma coisa muito difícil para um líder carismático e forte como ele era: abrir mão de sua liderança em prol de outro. João ao se certificar da identidade de Jesus abdicou de sua liderança: é importante que Ele cresça e eu diminua. Somente que tem uma consciência muito grande e clara de sua missão tem capacidade disso.
É interessante também notar que mesmo reconhecendo a identidade de Jesus, ouvindo a voz de Deus dando testemunho e avalizando seu ministério, João não se dispôs a seguí-lo. Ele sabia que sua missão estava cumprida e se encerrava ali.
4 – O método de Jesus
Muito já foi dito e analisado, com base nesse texto, sobre o método de Jesus para arregimentar seus discípulos. Gostaria de destacar apenas alguns pontos:
– Quando João aponta Jesus como o Cordeiro de Deus, dois discípulos o seguem. Jesus os aborda e eles mostram interesse em saber onde Jesus mora. A resposta de Jesus: vinde e vede. Eles foram e o que era a curiosidade de apenas saber onde Jesus morava se transformou numa estadia por todo o resto do dia. Como resultado André encontrou seu irmão, a quem falou sobre Jesus. Jesus, ao ver Simão troca-lhe o nome para Pedro, já preparando-o para, no futuro, usar o trocadilho que definiria a missão de Pedro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja.
– Com Filipe foi diferente. Jesus percebeu que seu coração estava pronto, esperando o chamado. Segue-me. Foi o suficiente. Não precisava de argumentos, demonstrações de poder ou qualquer outro motivo. Bastava um chamado. E Jesus percebeu.
– Filipe encontrou Natanael, cheio de preconceito. De Nazaré pode sair alguma coisa boa. A resposta de Filipe foi pragmática, da mesma forma com que Jesus o convenceu: vem e vê. Uma simples demonstração do poder e da onisciência de Jesus venceu todo seu preconceito e abriu a brecha para o reconhecimento que o Reino de Deus havia chegado, pelo local de onde ele menos esperava.
Jesus tinha a sensibilidade de tratar a todos de acordo com a necessidade, realidade e expectativa de cada um. Isso é um alerta contra a evangelização massificada e muitas vezes desencarnada. Vem e vê.
Wilson Xavier Dias