ESTUDO NO LIVRO DE COLOSSENSES (Parte 5)
Por Nilson Pereira de Moura – Bacharel em Teologia e Pastor da ICB
Colossenses 3.17- 21:
Tudo o que fizerem, sejam em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como convém a quem está no Senhor. Maridos, ame cada um a sua mulher e não a tratem com amargura. Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor. Pais, não irritem seus filhos, para que eles não desanimem. (NVI).
Este é um daqueles textos que muitos gostariam que não estivessem na Bíblia. Em primeiro lugar, para não ter que explicá-lo. Em segundo lugar, para não ter que aplicá-lo à própria vida. É um texto que muitos cristãos pós-modernos geralmente o interpreta mal, pois o interpreta à luz da época em que vivem. O contexto da carta indica que Paulo está escrevendo para a Igreja de Jesus Cristo e não para a sociedade de modo geral. Ainda que esta (sociedade) possa ser influenciada pela igreja.
Temos que entender que, Paulo está escrevendo para pessoas crentes no Senhor Jesus Cristo e que vivem uma relação interpessoal (mulher e marido, filhos (as) e pais). Partindo da premissa que todos são cristãos submissos ao Senhor, ele então apresenta diversas instruções à vida dos filhos de Deus.
O mundo fora da igreja tem suas próprias leis e princípios que regulam a família e suas relações. Ora pode ser aplicados à família cristã ora não. Então partindo do pressuposto de que a carta é dirigida a crentes, devemos interpretá-lo sob essa ótica.
Vou inverter a ordem do texto, primeiro vou tratar dos maridos e depois das mulheres cristãs. A melhor forma de entender o texto em comento é a partir do que está dito em Cl 3.17 – “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por meio dele graças a Deus Pai”. Esta afirmação tem paralelo em Efésios 5.21 – “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo”.
As nossas palavras e as nossas ações devem estar sujeitas a Cristo. O que implica que a relação entre maridos e mulheres, filhos e pais devem ser uma relação de amor e submissão à cabeça do corpo – que é Jesus Cristo. O que não pode ser agradecido a Deus, não pode ser feito, ou seja, está errado, é pecado.
Segundo o Pastor Hernandes Dias Lopes, a família encontra-se em crise em nossos dias. Ele escreve no seu livro já citado que:
“O índice de separação conjugal já chega aos 50% em alguns países. Mais da metade das mães trabalham fora de casa, mesmo na fase das crianças pequenas. A média das crianças de 6 a 16 anos assiste 20 a 25 horas de televisão por semana e está grandemente influenciada por aquilo que assiste. O uso de contraceptivos e preservativos, incentivados por uma ética relativa, empurrou os adolescentes e jovens para uma vida sexualmente promíscua. O sexo está cada vez mais fácil e o casamento cada vez mais frágil. A família está em crise”.
Essa é a realidade da família no mundo. Assim diz ele: “a sociedade é um espelho da família”. Eu acrescentaria, a igreja deveria ser um espelho para a sociedade e não sociedade ser um espelho para a igreja. Ela deve viver alinhada com os ensinos do Senhor e não alinhada aos ensinos da sociedade, ou seja, do mundo, como bem disse Paulo na carta aos Romanos – “não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Diante desse quadro de crise, vamos ver o que Deus por intermédio do apóstolo Paulo tem ensinar a seus filhos e filhas. São princípios criticados tanto dentro da igreja quanto fora dela. Entretanto, são princípios divinos para que as relações interpessoais deem certo. Vejamos então, o que o texto nos ensina. Em primeiro lugar, como disse vou tratar primeiro da instrução dada aos maridos. A eles é dada a seguinte ordem: Maridos, ame cada um a sua mulher e não a tratem com amargura.
O Pastor Silas Falcão escreveu em livro já citado que “nos dias de Paulo era comum a poligamia e o divórcio fácil e um homem não se sentia obrigado a viver com uma só mulher, muito menos viver toda a vida. Também abandonava a mulher por motivos fútil e tomava outra esposa. Mas, o lar cristão deveria seguir outro rumo”. Assim, o apóstolo dá duas ordens aos maridos: uma ordem positiva e uma negativa.
A ordem positiva – ame cada um a sua mulher, ou seja, a relação alimentada pelo amor não deixa espaço para a poligamia. Agora não é um amor apenas fundamentado nas aparências físicas e sexuais. É um amor com base no amor de Cristo por sua Igreja como é dito em Efésios 5.25-28:
“maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santifica-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo”.
O pensamento de Paulo aqui talvez seja algo que poucos de nós consigamos realizar, porque esse amor é primeiro sacrificial, pois Cristo amou sua igreja a ponto de se entregar por ela: “Cristo amou a igreja e entregou-se por ela”. Esse amor é em segundo lugar, verdadeiro – sem hipocrisia. A minha esposa, Reijane, de vez quando me pergunta: se eu a amo. Eu respondo – se eu não a amasse já teria ido embora. Pergunto, qual é o homem que vive com uma mulher se não a ama? É impossível. O amor que Jesus devotou aos seus foi um amor verdadeiro, sincero e sem hipocrisia. Amar a esposa é também cumprir o mandamento de Jesus “ame o seu próximo como a si mesmo” – (Mt 22.39). A esposa também está incluída no mandamento como próximo.
No Evangelho de João capítulo 13.1 é dito:
“Um pouco antes da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.
É o amor que é exigido do marido em ralação à sua mulher. Um amor sacrificial, verdadeiro e perseverante “amou-os até o fim”. O amor que Cristo manifestou pela sua igreja.
A ordem negativa – “não a tratem com amargura”. O texto paralelo de Efésios 5.28-29 diz:
“Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja”.
O que isso quer dizer, da mesma forma que Cristo cuida da igreja o marido deve cuidar da sua esposa. Não tem nem mais nem menos. Cristo jamais tratou sua igreja com amargura, mas sempre a trata com amor e ternura. Ele deu a sua vida por ela. Cabe ressaltar, que para os judaizantes e para os gnósticos a mulher continuava sendo tratado como objeto da licenciosidade ou como objeto a ser evitado por ser fonte do pecado ou ainda, uma propriedade apenas produtiva e não como uma mulher a ser amada.
Depois dessas considerações creio que já podemos tratar do assunto submissão da mulher ao marido. Tema que para muitos hoje é indigesto – considerando que a sociedade pós-moderna tem compreendido de forma equivocada o que seja submissão. O apóstolo Paulo é acusado de ser conivente com o sistema de sua época por não denunciar a estrutura social de seu tempo. Entendo que essa acusação é injusta, pois numa sociedade em que a mulher, os filhos e os escravos eram tidos como propriedade exclusiva dos homens, ele está sendo revolucionário propondo e orientando uma relação de igualdade e amor em Jesus Cristo, o qual é Senhor de todos.
Em Colossenses 3.17 Paulo afirma:
“Tudo o que fizerem, sejam em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai”.
Essa é a fundamentação da nova relação, fazer tudo em nome do Senhor Jesus com gratidão a Deus. A sociedade secularista não entende isso e muitas vezes nem mesmo a igreja entende. Porque tem organizado a igreja de nosso Senhor Jesus Cristo com os mesmos fundamentos do mundo. Homens sujeitos a Cristo ama sua esposa. Esposa sujeita a Cristo ama seu marido e reconhecem a missão um do outro. O marido sujeito a Cristo ama sua esposa e a esposa sujeita a Cristo ama seu marido. O Pastor Silas Alves Falcão em Meditações em Colossenses (pág. 198) escreve com muita propriedade:
“Amor com amor se paga – A esposa também é aconselhada a amar seu marido. A sujeição da mulher ao marido não é um jugo pesado, quando suavizado pelo amor recíproco. Ela se sujeita a ele, porque o ama, e ele não explora essa sujeição, tratando-a como uma vil escrava, visto que deve amá-la como Cristo amou a igreja. O amor é, assim, a base do lar verdadeiramente cristão. Motiva todas as ações”.
A Constituição Cidadã Brasileira (1988) determina no capitulo I, Artigo 5º, Inciso I que todos são iguais perante a lei e também que:
“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.
O que concordo em número, gênero e caso. Paulo escrevendo em seu tempo afirma algo semelhante na sua carta aos Gálatas 3.25-28:
“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”.
O preceito Constitucional já estava previsto na Escritura Sagrada. O amor define relação conjugal, o marido sabe o seu papel e a mulher reconhece o seu em relação ao marido. E digo mais, ninguém ama por decreto, mas ama e se submente um ao outro por amor. Amor à esposa, amor ao marido e ambos amando à Cristo Jesus nosso Senhor.
Em Cristo as relações não estão apenas sujeitas a preceitos legais, mas a preceitos de fraternidade mútua entre marido e mulher e também entre os filhos advindos dessa relação. É o que veremos a seguir de forma rápida – (vv20-21):
Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor. Pais, não irritem seus filhos, para que eles não desanimem.
Neste pequeno texto existem duas ordens – uma aos filhos, outra aos pais. Uma positiva – “filhos obedeçam a seus pais”. A outra negativa – “pais não irritem seus filhos”. Não há a opção de escolher obedecer ou não e de irritar ou não irritar os filhos. Mas como isto se dará? Filhos obedientes e pais cuidadores. Em Efésios 6.14 esse assunto é tratado pelo apóstolo Paulo com maior clareza em relação aos filhos e aos pais. Ele escreve:
“Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. Honra teu pai e tua mãe – este é o primeiro mandamento com promessa – para que tudo te corra bem e tenha longa vida sobre a terra. (Dt 5.16). Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e conselho do Senhor”.
O grande segredo da relação obediência dos filhos e da educação dos filhos está em que ambos – filhos e pais estejam sujeitos ao Senhor e não às suas próprias escolhas. O Pastor Hernandes Dias Lopes, diz que “O filho não deve obedecer apenas quando tem vontade ou quando concorda com a decisão dos pais. Ele deve obedecer por principio, sabendo que Deus honrará sua decisão de obedecer”.
A mídia todos os dias tem trazido noticias de filhos matando pai ou mãe. Nós sabemos que tudo isso tem acontecido porque as pessoas estão longe dos princípios de Deus. As pessoas estão entregues a si mesmas e esvaziadas no coração e na mente da educação no Senhor. A violência entre famílias é consequência do pecado que impera no coração humano.
Em Romanos é dito que toda a maldade humana está ligada ao distanciamento de Deus pelo pecado. (Rm 1.28-32):
“Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam”.
Essa é a realidade de uma sociedade ateia que relativizou e banalizou todas as relações humanas. Também é um sinal dos últimos tempos. Em 2 Timóteo 3.1-5:
“Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens (as pessoas) serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afastem-se desses também”.
Aos pais também são dadas orientações para que eles não irritem os seus filhos. Mas o que isso quer dizer para os pais. Vejamos a forma de irritação que os pais podem provocar em seus filhos. São formas que extrai do livro do Pastor Hernandes Dias Lopes – Colossenses – A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja (pág. 206):
“(1) quando não há coerência nos pais – falam uma coisa e vivem outra. (2) quando não há regras na disciplina – são num momento elogiados e noutro disciplinados pela mesma atitude. (3) quando não há diálogo – o silêncio dos pais é aterrador para os filhos. (4) quando há injustiça e excessiva severidade. (5) quando os pais não tem tempo para ouvir, orientar e ajudar os filhos em suas necessidades. (6) quando os pais compararam um filho com outro e despertam entre eles ciúmes, inveja e ódio. (7) quando o pai e a mãe entram em conflito acerca da maneira de orientar os filhos. (8) quando os pais são permissivos ou duros demais com os filhos. (9) quando os pais brigam o tempo todos ou desfazem os laços do casamento pelo divórcio”.
Os pais que não educam os filhos segundo os preceitos do Senhor pecam contra Deus, pois quebram um principio estabelecido por ele. Pecam também contra os filhos, porque destroem uma vida do ponto de vista espiritual, emocional – quando deveriam educá-los no caminho do Senhor com sabedoria e amor. Esse é o propósito de Deus para os pais em relação aos seus filhos.
Os pais não podem impedir que os filhos tenham as suas próprias experiências de crescimento, mas também não podem serem liberais ao ponto de os entregarem ao abismo da permissividade e da licenciosidade.
Em Hebreus 12.1-12 é tratado da pedagogia de Deus para com seus filhos. Essa pedagogia pode ser tratada também em relação aos pais e seus filhos. (vv. 4-6 e 10):
“… Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige como a filhos: Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho… (v.10) Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade…”.
Conclusão – deixo em aberto à conclusão para que cada um julgue a si mesmo diante da exposição feita do texto de hoje. Afinal de contas cada um tem sua responsabilidade diante de Deus Pai, de Deus Filho, e de Deus Espirito Santo. Deixo também as palavras de Paulo em Romanos 12.1-3:
“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que dever ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu”.