A RESSURREIÇÃO
Texto: Lc. 24:1-12
1 – Contextualização
Jesus havia morrido. A esperança de todos parece que se esvaiu completamente. Apesar de Jesus ter feito diversas declarações sobre o tipo de ministério que iria desenvolver e também profetizado sobre como tudo terminaria, os seus discípulos na realidade nunca entenderam completamente o quer Ele queria dizer ou estava propondo, e depositavam nEle a esperança de uma redenção nacional, de uma recuperação da autoestima do povo oprimido pelos romanos, pela restauração da glória passada de Israel. Assim, quando Ele morre, tudo desaba. A desilusão é muito grande. Porque Ele não morre simplesmente. Ele morre de uma forma humilhante, como um criminoso qualquer. A derrota parecia grande demais. Uma profunda decepção tomou conta de todos. Além da desilusão havia também o medo da perseguição. Agora que Jesus estava morto, será que não viriam atrás de seus seguidores? Tudo era incerteza.
Como Jesus morrera na sexta-feira à tarde, foi enterrado às pressas, por que no outro dia nada poderia ser feito. Passado o sábado de Páscoa, logo de madrugada, algumas mulheres foram terminar o trabalho de preparar o corpo de Jesus para o sepultamento definitivo. Ao chegar encontraram removida a pedra que fechava o túmulo e não acharam o corpo. As descrições dos quatro evangelhos divergem um pouco nos detalhes: Mateus diz que ao chegarem ao túmulo, Maria e Maria Madalena, acharam a pedra removida e o anjo que a removera assentado sobre ela. Ele anunciou que Jesus havia ressuscitado, que elas fossem dar a notícia aos outros e avisassem que Jesus iria adiante deles para a Galileia; Marcos registra que Maria, Maria Madalena e Salomé foram ao sepulcro, preocupadas com quem iria remover a pedra para elas. Chegando lá a pedra já estava removida. Entraram e lá dentro encontraram o anjo que deu o recado a elas. Lucas relata que foram ao sepulcro Maria, Maria Madalena, Joana e outras. Acharam a pedra removida e lá dentro apareceram dois anjos, que deram o mesmo recado. João descreve que somente Maria Madalena foi ao sepulcro. Ao chegar e encontrar a pedra removida, voltou correndo e relatou a Pedro e João, que foram correndo ao sepulcro. Chegando e constatando que o corpo de Jesus não estava lá, apenas os lençóis, voltaram para casa. Maria Madalena ficou e só então os dois anjos apareceram, e na sequência apareceu também Jesus.
Inicia-se aí o processo de restauração da esperança de todos, e mais que isso, a compreensão da real proposta do Reino. Que a morte era necessária e inevitável, mas que a ressurreição era o coroamento da vitória de Jesus sobre o mal e sobre o inimigo final: a morte.
Nenhum dos participantes daqueles acontecimentos tinha noção da verdadeira grandeza e importância daquele momento. Somente com o passar do tempo, com a reflexão sobre os acontecimentos, com a inspiração do Espírito Santo, compreenderam que fizeram parte do acontecimento mais importante da história humana, desde a criação.
Mas dessa história toda gostaria de destacar apenas um detalhe:
2 – O Deus da vida que convive com os vivos
Lucas, ao descrever o encontro das mulheres, relata o que o anjo diz: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”. O anjo referia-se ao estado de estar morto, e não à companhia de outros corpos, afinal aquele túmulo era de “primeira locação”.
A pior e maior consequência do pecado foi a introdução da morte na história do homem, tanto a morte física quanto a espiritual. A morte era o sinal do desarranjo causado pelo pecado na vida do homem. A morte significava a descontinuidade no plano de Deus. Com a morte o propósito de Deus para o Homem seria interrompido. É óbvio que qualquer proposta de restauração deveria incluir a vitória sobre a morte. O preço do pecado era a morte. Para vencer deveria ser dada uma vida perfeita em troca. A morte de Jesus era a única opção e o preço inevitável a ser pago pelo resgate. A cruz representou a solução para o pecado, a única solução possível. Mas a ressurreição garantiu a eficácia do plano. Se Jesus não ressuscitasse a morte teria vencido. O preço poderia até ter sido pago, mas a morte continuaria a ser a última palavra. Com a ressurreição Jesus reafirmou a vida como proposta de Deus. Por isso a pergunta do anjo: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”. Não havia mais concessão à morte. Jesus venceu. A morte foi derrotada.
Estendendo a ideia, não há mais pacto com a morte. Qualquer ação que formos fazer, qualquer proposta que tivermos para qualquer coisa, se não for uma proposta de realçar a vida, Jesus não estará presente. Muitas ideias podem parecer bonitas, coerentes, necessárias ou corajosas, mas se não propõem a valorização da vida, não são compartilhadas por Jesus. Em nome da fé, de Jesus, da Igreja, da verdade muitas barbaridades foram cometidas, e exaltadas a morte, a supressão da vida, da misericórdia, da tolerância, da piedade, da bondade, da solidariedade, da humanidade. Jesus não esteve presente em nenhuma delas e em nenhuma delas quem O fosse procurar O acharia. Por que buscais a vida na morte? Jesus está na Vida e é sua maior expressão. Nossos projetos devem ser coerentes com a Palavra de Deus, mas mesmo se, aparentemente, estiverem baseados na Bíblia, mas não representarem um passo em direção à vida, são falsos, não contam com a companhia de Jesus. E isso não quer dizer apenas ameaça à sobrevivência, ou ameaça à própria vida, mas qualquer ação que signifique ameaça à dignidade, à liberdade, à solidariedade, que incentive à intolerância, à falta de misericórdia e de bondade, é terreno de morte.
3 – Conclusão
A ressurreição de Jesus representou não somente a vitória sobre a morte, a vitória sobre o pecado e suas consequências, mas também um compromisso com a vida, um redirecionamento das expectativas e da esperança. “Onde está, ó morte o teu aguilhão?” Sem a maldição e o peso da morte estamos livres para viver e propor a vida, lembrando sempre de onde ela vem. “Eu sou a ressurreição e a vida. Ninguém vem ao pai senão por mim.”