ESTAMOS ALEGRES
Pastor Julio Borges filho
Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como
quem sonha. Então a nossa boca se encheu de riso, e a
nossa língua de júbilo; então entre as nações se dizia:
Grandes coisas o Senhor tem feito por eles. Com efeito,
grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso estamos
alegres. Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes
do Negueb. Os que lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão.
Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com
júbilo, trazendo os seus feixes – Salmo 126
Não sabemos ao certo o momento exato que fez o salmista exclamar: Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso estamos alegres. Sabemos que foi numa ocasião festiva, um evento comunitário, celebrativo de um grande livramento divino entre tantos na história de Israel. Se este salmo é do pós-exílio babilônico, o salmista recorda a memória libertadora de Javé celebrando com alegria no presente a ação divina no passado.
Ora, ninguém é feliz sozinho, afirma a bela canção. Por isso estamos alegres neste fim de ano celebrando o presente, evocando o passado, e chamando o futuro. Podemos, portanto, dizer como o salmista: Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso estamos alegres. Aqui estamos como igreja no último domingo de 2013. Ela traz consigo os três tempos de nossa história.
A celebração do presente
Aqui o presente é presente. Nele nos tornamos crianças despreocupadas e vivendo plenamente este momento lindo. Ser feliz é exatamente isso: estar totalmente presente no presente, sem peso ou ansiedades provocados pelas amarguras do passado e as preocupações com o futuro. . E, em estado de festa, de alegria, não se lembra dos dias tristes. Só lembranças alegres vêm à nossa mente.
É um momento em que a eternidade nos invade. Sim, porque Deus colocou a eternidade no coração do homem e da mulher, como afirma o Eclesiastes. O tempo cronos, o tempo que passa e que é medido por segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e ano, não conta. Nem olhamos para o relógio quando estamos alegres. O kairos, o tempo de Deus, invade este momento. Vivemos, pois, um tempo intermediário entre o que Deus operou no passado e as maravilhas que Ele operará no futuro. Celebramos o valor do passado e do futuro no presente. Boa parte dos livros da Bíblia foi escrito no tempo intermediário.
Por isso estamos alegres vivendo este momento lindo.
A evocação do passado
Aqui agora o passado se torna presente porque, como dizia antiga canção popular, recordar é viver. O passado é interpretado positivamente e assim ele não nos rouba a alegria presente. A alegria do passado é trazida de volta pelo salmista: uma vivida experiência nacional muito comentada (Então entre as nações se dizia: grandes coisas fez o Senhor por eles…). Foi, portanto, uma lembrança inspiradora: Ficamos como quem sonha. O passado se torna presente na lembrança do povo e determinava o seu estado de espírito: Por isso estamos alegres.
Recordamos hoje com alegria os que partiram… Trazemos conosco a memória de nossa infância, adolescência e juventude. Tudo à luz deste momento tem um significado alegre.
Aqui estamos no coração do Brasil, palco da história recente do país e de parte da nossa vida. É motivo de alegria ver esta cidade, seus palácios, monumentos e torres e, sobretudo, sua gente que uma síntese do mundo e do Brasil.
A determinação do futuro
A alegria é chamada de volta em tempos difíceis. Não descamba para a nostalgia, mas busca a esperança. O passado e o presente determinam o futuro. É por isso que o profeta escreveu: Trarei à minha memória aquilo que me dá esperança. O futuro se torna presente e recuperamos a capacidade de sonhar. Ninguém pode viver sem sonhos, sem utopias. São eles que nos fazem caminhar. O salmista clama: Restaura, Senhor, a nossa sorte como as torrentes do Negueb!… É milagre rios de água no deserto, mas isso acontecia quando chovia no deserto do Negueb. Quando sonhamos e trabalhamos por este sonho até o deserto é fértil. O salmista fala de semeadura árdua e da alegria da colheita, mesmo com o tempo de espera.
O salmo fala e continua falando a nós. Convida-nos a olhar para os milagres do passado como medida para o futuro; a olhar pela fé os lugares secos como rios em potencial; e chama-nos ao trabalho árduo de lançar a boa semente como prelúdio certo da colheita.
Estamos semeando na certeza da alegria da colheita. Nossas orações devem seguidas de ações, e Deus assim nos abençoa. Alguém já disse que devemos orar como se tudo dependesse de Deus, e trabalhar como se tudo dependesse de nós. Não é correto aquele ditado popular: Deus ajuda na quem cedo madruga?
Nós, na alegria de hoje, já antevemos a alegria de amanhã. Ninguém é uma ilha isolada em si mesmo. Somos seres comunitários, e por isso não nos pertencemos. E, apesar de não termos o pleno controle de nossas vidas, nosso destino está na mão de Deus. Somos igualmente seres dependentes. Daí a nossa oração comunitária e dependente: Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso estamos alegres.
Estamos alegres, estamos felizes neste dia. Vivemos um momento feliz em que o passado é uma lembrança presente e o futuro é um presente possível. É um tempo intermediário que evoca o passado e determina o futuro. Cabe-nos semear agora porque a colheita certamente virá das mãos de Deus.
Estamos alegres porque estamos com os irmãos a quem amamos.