NÃO NOS PERTENCEMOS
Romanos 14:1-12
Pastor Julio Borges Filho
INTRODUÇÃO
– Li uma entrevista da atriz Angelina Jolie na revista Seleções de fevereiro de 2015 na qual o repórter perguntava: “De bordeline você passou a ser conhecida como Santa Angeline. O que a fez mudar?” Ela respondeu que teve duas revoluções na vida. A primeira é que quando foi ao Comboja filmar Lara Croft ficou chocada com a cultura daquele país e com terrível pobreza dos refugiados. “Desde então tenho sido menos autocentrada”. A segunda revolução foram os meus filhos, e disse: “Eles são a resposta à pergunta porque estamos aqui na Terra. Sei que a minha vida não me pertence mais, e, de certo modo, isso a torna mais fácil de suportar”. Pensei comigo que realmente não nos pertencemos e que estamos interligados com as pessoas que amamos e com o mundo.
– O Apóstolo Paulo no texto lido fala disse. Quando vivemos na comunidade da fé, a igreja, não nos pertencemos. Ele afirma que devemos acolher os fracos na fé como irmão sem julgá-los para não destruir a fraternidade cristã. isso é válido para a família, a comunidade básica, e para a sociedade e humanidade toda. Somos seres feitos para a comunhão com Deus, com os outros, e, ainda, com a criação. Examinemos o alcance disso para os nossos relacionamentos.
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PERTENCEMOS AO SENHOR
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“…somos do Senhor” tanto na vida quanto na morte. Somos filhos, de fato, de Deus. Pertencer ao Senhor é ser livre para servir e amar.
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Templos do Espírito Santo
– “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço. Agora, pois, glorificai a deus no vosso corpo” – 1 Coríntios 6:19 e 20.
– Ilustração: O barquinho. É bela a história de um menino que, com a ajuda do seu pai, fez um barquinho lindo e foi brincar com ele no Rio. Veio uma correnteza forte e levou o barquinho deixando o garoto inconsolado. Tempos depois, passando por uma loja, viu seu barquinho numa vitrina colocado à venda. Insistiu com o comerciante dono da loja de que o barquinho era dele. O esperto comerciante disse que o comprou de alguém e que agora o único jeito do garoto tê-lo de volta seria comprá-lo. Ele pediu dinheiro a seu bom pai e o comprou. Saiu feliz da loja com o barquinho nas mãos dizendo: “Barquinho, agora você é duas vezes meu. Primeiro porque eu te fiz, e agora porque eu te comprei.” Somos do Senhor porque Ele nos criou e porque ele com seus precioso sangue nos comprou (redimiu).
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PERTENCEMOS À FAMÍLIA DA FÉ
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A igreja é a comunidade do amor – “Acolhei ao que é débil na fé”
– Os versículos seguintes mostra que o Apóstolo tem posição firme – vrs. 13-18, mas é tolerante e ensina a tolerância com os irmãos que ainda não alcançaram uma fé mais madura.
– O novo Mandamento é sua característica marcante da igreja cristã: Não temos o direito de escolhermos nossos irmãos. Temos aceitá-los como são e amá-los. Uns são fracos na fé, outros legalistas, outros fanáticos, outros orgulhosos. A bondade de uns redime a maldade de outros.
– A lei da mutualidade cristã deve ser também uma marca da igreja. “Amai-vos uns aos outros…” Levai as cargas uns dos outros…” “Alegrai-vos uns com outros…” “Chorai uns pelos outros…” “Orai uns com outros para que sareis”, etc.
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O protótipo de uma nova humanidade em Cristo – A igreja deve ser no mundo uma maquete do Reino de Deus.
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PERTENCEMOS À NOSSA FAMÍLIA
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O pai ou a mãe não se pertencem – É na família que nos assemelhamos à Trindade Santa (pai, mãe e filhos)
– “Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem” – José Saramago.
– Ilustração: Um jovem com uma câmara nas mãos me perguntou de supetão: “Você é livre?” Após respirar prontamente, respondi: “Não. Quem é pai ou mãe é escravo do amor.”
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“…tornar-se-ão os dois uma só carne” – Eis a condição indissolúvel do casamento.
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PERTENCEMOS À SOCIEDADE
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“Amarás a teu próximo como a a ti mesmo”
– Não precisamos de mandamento para amarmos a nós mesmos. Uma pessoa normal se ama sem necessidade de mandamento. Portanto o mandamento é de amar o próximo como amamos a nós mesmos. Mahatma Gandhi dizia que “não precisamos apagar a luz do próximo para que a nossa brilhe”. O Apóstolo Paulo chega a recomendar que devemos considerar o próximo superiores a nós mesmos (Fl 2:3b). A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que deveis amar uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei” – Romanos 13:8.
– Este mandamento inclui todos sem exceção: “Eu porém vos digo: amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai celeste, porque Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos” – Mateus 5: 44 e 45.
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Somos parte da humanidade
– Tudo que afeta os outros é também nosso problema.
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PERTENCEMOS AO MUNDO
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Não sobreviveríamos sem o nosso habitat – Gênesis 1 e 2 – Deus criou o universo, um jardim, e só depois criou o ser humano. Francisco de Assis consideração os seres criados como irmãos e irmãs: “Irmã lua, irmão sol, irmãs estrelas, irmã terra, irmãs árvores, irmãos animais”.
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Estamos interligados com o universo – Somos feitos de poeira cósmica e de uma alma eterna.
CONCLUSÃO
– Eu só existo porque existe um tu (os outros). Quanto mais me dou, mais tenho. Quanto mais me entrego e integro, mais sou. O egoísmo e o orgulho escravizam; o amor e a comunhão libertam.
– Somos seres universais, humanos, sociais, familiares, comunitários, e divinos. Pertencemos ao mundo, à humanidade, à sociedade, à família, à Igreja e ao Senhor. E, quando mais nos entregamos e integramos, mais somos.
– Angelina Jolie tem razão: a ignorância, a pobreza, a miséria do mundo exige uma resposta de nós. Não somos um ilha isolada em nós mesmos. Quando somos pais descobrimos que precisamos dar-nos para que os filhos cresçam. A igreja existe no mundo e não fora dele para ser luz e sal para todos. A sociedade corrupta que aí está é nossa e nós fazemos parte dela. Não estamos aptos a julgarmos nossos semelhantes, e cada ser vivo é nosso irmão na criação.
– Quer vivamos ou morramos, somos do Senhor. Vivamos, pois, como filhos de Deus em meio às trevas.