Sermões

Religião e Ética

Sermão Especial:                      RELIGIÃO E ÉTICA  

Textos bíblicos: Filipense 4:8 e 9; Tiago 1:26 e 27; Rom. 14:17

 

Pastor Julio Borges Filho

 

INTRODUÇÃO:

– Textos da vida:

1º) O Dalai Lama, Tensin Gyatso, em entrevista à revista Seleções de junho de 2015, afirmou que a ética é mais importante do que a religião. Diz ele: “Não chegamos a este mundo como membros de uma religião específica. Mas a ética é inata… Há duas maneiras de olhar a natureza humana. Ora diz que, na origem, os seres humanos são violentos, implacáveis e agressivos. A outra que somos naturalmente afinados com a bondade, a harmonia e a vida pacífica. Este segundo ponto de vista é o meu.” Ele defende a tolerância religiosa como fundamental para uma ética mundial tendo por base o Sermão da Montanha de Jesus.

2º) O Papa Francisco, da Igreja Católica, lançou em maio de 2015 a carta encíclica “LAUDATO SI´ – Sobre o cuidado da casa comum”, dirigida à humanidade chamando a atenção para a defesa da natureza e dos oprimidos da terra. Diz ele em seu apelo: Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir de sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades. ”

3º) A lamentável crise ética das Igrejas Evangélicas Brasileiras, especialmente as mais novas, vítimas da teologia da prosperidade e do grande crescimento que as levou a entrar, sem estarem preparadas, na política e na busca do poder mundano. 

– Texto da Bíblia: Filipenses 4:8 e 9, Tiago 1:26 e 27 e Romanos 14:17.

– O Apóstolo Paulo afirma o que hoje a neuropsicologia confirma: nosso cérebro pode ser treinando se alimentando com pensamentos bons e verdadeiros.

– Tiago, prático, coloca duas bases éticas fundamentais para a religião verdadeira: cuidar dos pobres e necessitados, e guardar-se da corrupção do mundo.

– Paulo, escrevendo aos romanos, pontifica: “O RD não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.” – Rm 14:17.

  1. A BASE ÉTICA – Filipenses 4:8-9
  2. O cultivo da verdade, da pureza, da justiça e do amor

O imperativo paulino: Rm 12:1-3 – Estar sempre abertos de mente para reconhecer os sinais dos tempos, fugir dos preconceitos e fundamentalismo religioso, da escravização de ideologias, e aptos para discernir a vontade boa, agradável e perfeita de Deus no mundo. Isso implica em prática: “Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” – Gálatas 6:9. Pensar no que bom, agradável e perfeito nos liberta, e praticar o bem faz-nos mais humanos e mais parecidos com Jesus. O Apóstolo Paulo rejeita o pensamento único e prega o pensamento positivo e aberto.

– Pessoas autênticas, verdadeiras e bondosas – cultivar o que é bom, justo, verdadeiro, amável, puro e permanente nos torna pessoas melhores e mais humanas. Ilustração: A irmã Antônia, segundo o saudoso Pastor João Filson Soren, era membro da Primeira Igreja Batista de Macaé no Rio de Janeiro, negra, e tinha uma característica boa: realçava sempre o que era positivo nas pessoas e nunca os negativos. Ela era amada por todos na igreja e na cidade por sempre acentuava o que havia de melhor nas pessoas. No velório de Antonio, o maior beberrão da cidade, todos ficaram em expectativa para saber o que ela iria realçar de bom no falecido. Ela entrou, passou a mão no cabelo do corpo, cruzou as mãos, olhou para cima e comentou com saudade: “Ninguém assobiava como o Antonio!…” 

  1. A busca de relações respeitosas e humanas

Generosidade vem de genes: Um sentimento profundamente humano e compassivo. E compaixão é um sentimento que vem das entranhas.  Princípios:

. O poder para servir – Jamais para se servir (corrupção), para oprimir (opressão). É a lição básica do evangelho de Jesus Cristo (ver Mateus 20:20-28). O político nada mais é do um servo do povo.

. Honestidade – É uma consequência lógica do serviço. A desonestidade é uma deturpação do fim último da política. A honestidade é o mínimo que a sociedade requer do homem público.

. Palavra de peso – Hoje palavras são palavras, nada mais do que palavras. Mas a palavra, numa perspectiva teológica, é o poder que move o mundo. E disse Deus: “Haja luz e houve luz”. O que Deus fala é. “E a palavra se fez carne…” – é assim que o evangelista João descreve a encarnação do Cristo. Nada de promessas manipuladoras. O povo precisa crer e confiar na palavra do político. Ele deve falar pelo povo que o elegeu. A mentira tem pernas curtas.

. Fidelidade – Não apenas ao seu partido, mas, principalmente, às causas justas da sociedade e aos seus princípios ideológicos. Ninguém pode viver sem utopias/sonhos. E não devemos jamais trair os nossos sonhos.

. Coragem – Não apenas para assumir riscos, mas para tomar decisões rápidas. A indecisão cria um vácuo político. É preciso também coragem no enfrentamento do mal social e sistêmico.

. Doação à causa pública.

– Conviver com os diferentes e abrir mão de preconceitos culturais e religiosos. 

  1. A BASE RELIGIOSA – Tiago 1:26 e 27
  2. Solidariedade com os excluídos da sociedade e com a criação

– Preocupação básica com os seres humanos – “Não pode haver autêntico sentimento de união íntima com outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos” (Papa Francisco, Carta Encíclica Laudato Si´ par. 91). O Apóstolo Paulo resumiu toda a Lei do AT no segundo mandamento: “Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” – Gálatas 5:14. 

– Estar sempre ao lado dos mais fracos contra a tirania dos fortes deve ser sempre a posição da igreja e dos cristãos. 

  1. Guardar-se da corrupção do mundo

O mal sistêmico (O mundo jaz no maligno/Príncipe do mundo). Tarso Genro, em artigo sobre a corrupção, escreveu: “A história da humanidade é a história da implementação das formas de opressão de seres humanos, uns contra os outros. E a história particular do capitalismo, além de ser a história da democracia moderna e da representação política moderna (conquistadas no século passado), é também a história do refinamento técnico destes processos de violência e dominação.”

A ética das elites:

. A sua essência – Apropriação privada do que é público, o uso de recursos públicos para fins clientelistas, e o uso do mandato popular para explorar a própria população,

. A ética do mercado – Baseada no egoísmo, na globalização competitiva e excludente, submete a vida humana às suas leis selvagens provocando a miséria do povo. Em belo sermão na Bolívia, o Papa Francisco afirmou que o capitalismo é o esterco do diabo. A ministra Carmem Lúcia do STF dando seu voto contra a doação de empresas nas campanhas eleitorais no dia 17.09.15, comentou: “Empresas têm interesses e as pessoas tem dignidade”.

. A raiz de todos os males, segundo o Apóstolo Paulo, é o amor ao dinheiro (posse, poder, prazer, posição). Arpad Toth, poeta húngaro, cantou liricamente o silêncio dos sem voz ou com pouca voz, que são as principais vítimas deste processo, cínico e insano: “Esse é o tempo do Anticristo. Brilha a repugnante sujeira dourada do mundo. E entram no Céu: Nadas engravatados, canalhas sutis.” (…) “Mas eu luto aqui em baixo; e ninguém nem vê. Esses tormentos que me queimam nas noites do meu silêncio.”

Astúcia/prudência – As palavras de Jesus são decisivas: “Sede astutos/prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16). Para discernir o bem e o mal e se ser transparentes e sinceros, para evitar conflitos desnecessários e não fugir dos conflitos inevitáveis, para não fechar a mente e ser aberto às causas justas, para não se corromper com o mal e se comprometer com o bem, para não exagerar e se apaixonar, para não ser ingênuo sem ser maldoso, o cristão precisa da astúcia das serpentes e da simplicidade das pombas. 

  • ÉTICA E RELIGIÃO – Romanos 14:17
  1. A ética precisa da religião

Hans Kung, um dos maiores teólogos da atualidade, lançou um livro UM PROJETO DE ÉTICA MUNDIAL no qual defende a tese: “Sem paz entre as religiões não haverá paz no mundo.” Defende um diálogo permanente entre as grandes religiões para tanto.

– A religião como expressão de fé autêntica revela o melhor do ser humano tornando-o mais humilde e dependente de Deus, e mais sensível às causas justas porque produz uma espiritualidade verdadeira que atrai as pessoas. Exemplos históricos: Moisés, Davi, os profetas de Israel, Jesus, os Apóstolos, Buda, Maomé, Francisco de Assis, Gandhi e Martin Luther King, etc. 

  1. A religião precisa da ética

Religião sem ética é ópio dos povos porque cria falsas ilusões. As maiores bênçãos, com uma leve perversão, transformam-se em grandes maldições. O sol dá energia e calor, mas as insolações matam. Assim a fé deteriora-se em fanatismo, legalismo ou fundamentalismo preconceituoso.

– Uma religião verdadeira tem de ser ética, profundamente divina e humana. 2 Pedro 1:3-7 é resumo bíblico do que acabo de dizer. É um dos textos mais belos da Bíblia por causa de sua riqueza religiosa e ética:

“Visto como seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos tem sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-nos da corrupção das paixões do que há no mundo, por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé, a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade a fraternidade; com a fraternidade, o amor.” 

CONCLUSÃO

Na fé cristã religião e ética são reunidas numa pessoa: Jesus Cristo. Ele é nosso padrão ético e o caminho que leva a Deus. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao pai senão por mim” – João 14:6. E o Apóstolo Paulo num rasgo de inspiração espiritual afirma: “Estou crucificado com Cristo; logo já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”– Gálatas 2:19b e 20. Somos seguidores, discípulos de Jesus Cristo. Seguir os seus passos é a certeza de não errar no tempo e na eternidade.

– Chales Sheldon escreveu um livro revolucionário com um desafio ético pessoal que é uma pergunta: EM SEUS PASSOS, QUE FARIA JESUS?;  e Albert Nolan escreveu um pequeno grande livro sobre a ética social, JESUS ANTES DO CRIATIANISMO, igualmente revolucionário simplificando as propostas de Jesus diante de quatro questões fundamentais resumidas em 4 Pês: A solidariedade/Paroquialismo, o poder, a posição e as posses. Precisamos de uma fé religiosa que case uma ética individual com uma ética para a sociedade.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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