CRISE DE CREDIBILIDADE (4): NA POLÍTICA – 2
CRISE DE CREDIBILIDADE (4): NA POLÍTICA – 2
- Do governo da Presidenta Dilma ao governo Temer (2010-2018)
Dilma Rousselff nunca tinha sido candidata a nada, mas duas coisas a credenciava: Foi torturada pela ditadura militar e não dedurou ninguém, e era tida como uma boa gerente tanto no Rio Grande Sul quanto no âmbito federal quando foi ministra de Minas e Energia e depois da Casa Civil no governo Lula. Foi uma escolha pessoal do Presidente Lula para sucedê-lo na Presidência da República. Ela, com o apoio dele, derrotou o tucano José Serra, e foi eleita a primeira mulher presidenta do Brasil. Infelizmente Michel Temer, do PMDB, foi o seu vice. A campanha foi difícil, especialmente no meio religioso, porque Temer era acusado de adepto do satanismo.
A Presidenta fez um primeiro mandato bom conservando os programas sociais do governo Lula e criando outros como o “Minha Casa Minha Vida” para moradia dos mais pobres, as UPAS para melhorar a saúde popular, “Ciência sem Fronteiras” incentivando jovens universitário a fazer cursos no exterior, “Médicos para Todos” levando saúde ao interior do país, e os PACs – Programas de Aceleração do Crescimento em várias árias de infraestrutura do país. Era legítima, honesta e digna, tanto que recusou o tapete vermelho da Casa Branca quando foi informada que estava sendo grampeada pelo NSA americano revelado por Snowden, e fez um discurso contundente na ONU denunciando tal imoralidade. O Presidente Obama pediu desculpas. Foi reeleita como “um coração valente” numa campanha disputadíssima no segundo turno contra o tucano Aécio Neves. Ganhou com mais de 54 milhões de votos. Aécio não aceitou a derrota apertada. Pediu recontagem de votos e, como presidente do PSDB, levou seu partido a contestar no TSE a Campanha de Dilma contando com o apoio do seu presidente Gilmar Mendes, e aliou-se a Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados para infernizar o governo. Criou-se um clima de ódio com um Aécio sempre com chamas nos olhos vociferando, e Eduardo Cunha chantageando o governo porque já tinha vários pedidos de impeachment da Presidenta em sua mesa. Cunha conseguiu chegar à Presidência da Câmara dos Deputados comprando deputados através do financiamento de suas campanhas eleitorais. A JBS deu-lhe 20 milhões para tanto. Investiu no vendável baixo clero da Câmara, entre os deputados comprados estavam boa parte da bancada evangélica, uma das piores. A retrógrada bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia) se uniu apoiando Eduardo Cunha. Ele mesmo se dizia evangélico sendo aclamado por Silas Malafaia. A presidenta Dilma condenava “o mal feito” e demitiu os suspeitos de corrupção, tentou superar a crise econômica nomeando Joaquim Levi para o Ministério da Fazenda, mas Eduardo Cunha e o PSDB puseram em prática a pauta bomba na Câmara bloqueando as boas iniciativas do ministro. A Comissão de Ética da Câmara, diante da denúncia de contas, fruto de propina, de Eduardo Cunha no exterior, investigava-o. Ele infernizou a vida da Comissão de Ética com interferências indevidas e, diante da decisão do PT de não apoiá-lo na comissão, aceitou o pedido de impeachment contra a Presidenta feito pelos tucanos Miguel Reale Jr e Janaina Paschoal com base numas pedaladas inventadas no corrupto Tribunal de Contas da União, e tudo ficou claro pelo competente advogado de Dilma, José Eduardo Cardoso.
O Golpe Parlamentar de 2016 foi bem arquitetado em cima do apoio popular da classe média facilmente manipulável convocada para as ruas pelo Movimento Brasil Livre financiado pelos irmãos Koch (milionários americanos de direita). A direita e, especialmente a extrema direita, até então envergonhada por causa da ditadura militar, mostrou a cara claramente com cenas de ódio e intolerância. A Lava Jato e a Globo foram essenciais para sua eficácia. Eis os principais personagens do golpe: Michel Temer, o vice de Dilma e capitão do golpe, conspirou abertamente fazendo promessas a deputados e partidos políticos e pedindo o apoio dos Estados Unidos através de sua embaixada em Brasília; Eduardo Cunha, o maquiavélico presidente da Câmara dos Deputados; Aécio Neves, presidente do PSDB, senador inconformado com sua derrota eleitoral; Romero Jucá, senador e presidente do PMDB que queria “parar a sangria”; Sérgio Moro, o juiz da Lava Jato no auge da popularidade, com ações de abuso do poder como a condução coercitiva de Lula e exposição pública e ilegal da conversa entre a Presidente Dilma e Lula para incentivar os manifestantes nas ruas; a Rede Globo, com informações privilegiadas da Lava Jato através do Jornal Nacional dando cobertura exagerada às manifestações de rua; e Gilmar Mendes, Ministro do STF, impedindo através de liminar a posse de Lula na Casa Civil, o que salvaria o governo (Lula dividiria o PMDB, PP e outros partidos que, somados aos partidos de esquerda, garantiria uns 200 votos na Câmara que salvaria a Presidenta. Assim o pedido de impeachment foi aprovado na Câmara e votado pelo Senado com o aval do STF. Tudo já combinado e ensaiado. Os senadores, com vergonha do vergonhoso ato, não cassaram os direitos políticos da presidenta. Michel Temer, o capitão do golpe segundo Ciro Gomes, foi empossado com Presidente da República, o pior que já tivemos com quase nenhum apoio popular e desmoralizado no exterior por sua ilegitimidade e subserviência.
O governo Temer colocou em prática o programa do PSDB, partido que perdeu a eleição, e tratou de destruir as conquistas dos governos anteriores como a Bolsa Família, Minha Casa Minha vida (ambos parados e diminuídos), e extinção do Ciência sem Fronteiras. Seu ministério de centro direita foi se esvaziando até chegar na desmoralização de hoje, como quase todos os ministros indicados por Eduardo Cunha, mesmo preso, como salientou o experiente Senador Renan Calheiros. Aprovou a Reforma Trabalhista que nada mais é do que colocar as raposas (empresários/patrões) tomando conta dos galinheiros (trabalhadores/empregados). Um retrocesso. A Reforma da Previdência, que exclui o Legislativo, o Judiciário, os militares e as carreiras de Estado, baseia-se em mentiras. Dificilmente passará num ano eleitoral, mas tudo é possível no atual Congresso, o pior que já vi nos meus 73 anos. Cerca de 50% dos congressistas é composto de empresários que pensam apenas nas suas empresas e não no povo. As privatizações estão em moda para delírio dos tucanos. A Eletrobrás e a Petrobrás são as principais vítimas, O Procurador Janot, com suas flechadas, acertou em cheio Temer e alguns ministros, e o STF pediu autorização da Câmara dos Deputados para investigá-los. Bilhões de reais, dinheiro público, foram gastos para comprar deputados através de emendas parlamentares, bilhões para perdoar dívidas dos ruralistas (a maior bancada da Câmara) com o Funrural, etc, e Temer se safou. As denúncias da PGR eram contundentes, após a delação da JBS, com a famosa gravação de Temer na calada da noite no Jaburu por Wesley Batista, e com a mala com 500 mil reais de Rocha Loures (amigo de confiança do presidente). Em resumo, temos um presidente que ninguém quer, que até os Estados Unidos (primeiro país a reconhecer o novo governo) ignoram, que todos querem evitar, o pior cabo eleitoral do Brasil, mas que está fazendo o que rica elite brasileira quer, e mais: É de direita, portanto tolerável pela nossa corrupta elite. Os pequenos sucessos na área econômica se deve a Henrique Meirelles, Ministro da Fazenda e representante confiável da economia global, e a no Banco Central, Ilan Goldfajn, representando os banqueiros (os bancos continuam ganhando muito), e a diminuição do consumo dos brasileiros para driblar a crise. E, para concluir, agora o presidente, sem consultar o Conselho da República e em pleno ano eleitoral, decreta intervenção do exército na segurança pública do Rio. É uma temeridade que pode nos levar a um Estado de Exceção com a expansão da violência em outros Estados, e até a supressão das eleições. É uma ação política para melhorar a popularidade do presidente em ano eleitoral com o apoio da Rede Globo (A propagando do governo para a Rede Globo aumentou 140% no atual governo), e foi trágico ver o presidente fazer um discurso moral sem moralidade para justificar a intervenção. O que se precisa fazer é combater as causas e levar a justiça social às favelas com sua urbanização, escolas, centros comunitários, água, esgoto, luz, lazer, e suscitar lideranças, e mais: investir na inteligência policial. A violência no Brasil é sistêmica por causa de nossa iníqua desigualdade de renda. E é bom lembrar que quem sustenta o tráfico de drogas é a classe média e rica, e novamente os pobres serão penalizados e o Exército Brasileiro desgastado.
Julio Borges de Macedo Filho
A seguir: Crise no Judiciário.