Sermões

Evangelhos que chocam (4): A PIOR TENTAÇÃO

Evangelhos que chocam (4):    A PIOR TENTAÇÃO         –  João 12:20-33

            Dentro da série OS EVANGELHOS QUE CHOCAM,  vou sair do Evangelho de Mateus e dar um salto para o Evangelho de João onde um misterioso e desafiador texto nos espera: João 12:20-33.

            Como cheguei a esse Evangelho? Ao longo do meu ministério pastoral tenho identificado tentações aparentemente boas, de pessoas boas, que se eu caísse nelas não seria eu mesmo. Desviaria de mim mesmo. Uma me vem à mente: A fazenda de cacau em Ilhéus… Dois bons diáconos me chamaram à parte com uma oferta tentadora: Ambos possuíam duas fazendas de cacau vizinhas, e concordaram em cada um dar uma parte de um lado e outro do outro para mim, e assim eu seria vizinho de ambos. Já havia na parte que me tocava uma casa de quartos, plantação de cacau e um rio corria nos fundos com uma bela cachoeira. Eu argumentei com eles que não poderia aceitar por que pastor deve ter raízes para cima e não pode ficar preso a propriedade nem a favores. Mas ultimamente, após a decisão, ao completar 70 anos, de deixar o pastorado formal e me dedicar apenas a três coisas essenciais – Pastorear graciosamente, escrever apaixonadamente, e viver alegremente -, algumas tentações têm me deixado a alma angustiada: 1) O amor por antigas ovelhas; 2) Um grupo de evangélicos progressistas em Brasília, 3) O magistério teológico na FTBB, e 4) A tentação da formação política e cristã de novas gerações. Coisas boas e grandes que outros podem fazer, mas tudo que me desvia das três essencialidades acima me desvia de mim mesmo.

João 12:20-33 é uma página que choca porque prova exatamente isso: Uma proposta boa vinda de pessoas boas pode ser ruim dependendo da pessoa se a desvia de si mesmo e de sua missão no mundo. As três tentações do diabo (transforme… pule… curva-se…) são pequenas diante dela. Aproximemo-nos do texto com humildade.


O CONTEXTO
 

            A ressurreição de Lázaro (cap. 11) e suas consequências. Para o Evangelho de João foi o estopim que provocou a conspiração contra Jesus (vrs 45-46 e 57) porque Lázaro era uma testemunha viva de um grande milagre e, por isso, era também preciso eliminá-lo para eliminar a graça e a popularidade de Jesus. Muitos criam nele por causa de Lázaro.

            Jesus ungido em Bethânia (12-1-11) foi também um evento significativo porque ocorreu a apenas seis dias da Páscoa e muita gente se aglomerou para ver Lázaro e Jesus..

            A entrada triunfal em Jerusalém (12:12-19) montado, não num cavalo sinal de arrogância e poder, mas num jumentinho sinal de humildade provocando cânticos de júbilo que irritaram seus adversários.

            A visita dos gregos (12:20-50) provocou uma resposta contundente de Jesus. Qual seria a proposta dos gregos que o Evangelho omite?


A PROPOSTA DOS GREGOS
 

            O rastreamento da omissão do Evangelho nos leva à história cristã. Três sinais importantes eu encontrei na minha procura. O primeiro foi de Stanley Jones, grande missionário metodista a Índia no seu livro “O Cristo de todos os caminhos”. Depois ouvi na internet uma mensagem do Pr Caio Fábio sobre “O ser versus a boa oportunidade”. Mas foi a tradição da Igreja Ortodoxa Grega que me esclareceu melhor. Jesus teria recebido um convite do Rei de Edessa, Abgar V através de uma comissão de prosélitos do Judaísmo que vieram para a Páscoa judaica. Jesus, além da resposta registrada no Evangelho de João, teria enviado um bilhete ao Rei dizendo um de seus discípulos iria a Edessa, e a tradição grega afirma que ao receber o Bilhete de Jesus, o Rei ficou curado de uma grave doença. Tadeu de Edessa, um dos 70 discípulos, teria cumprido essa tarefa e evangelizado o país segundo informação de Eusébio de Cesaréia.

            A proposta do Rei de Edessa era para Jesus deixar sua terra de fanáticos que o levaria à morte e ir cumprir sua missão lá onde teria plena liberdade diante de um povo mais culto que o acolheria bem.


A RESPOSTA DE JESUS – vrs. 23-33

            A resposta de Jesus prova o seu conhecimento dos Mistérios de Elêusis – Cidade a 30 kms de Atenas. Cultuavam Demétria e sua filha Persépoles, deusas da agricultura. Segundo a mitologia grega, o deus Hades sequestra e a arrasta Persépole quando colhia flores com suas amigas até a terra dos mortos.  Desgostosa Demétria não ligou mais para as plantações e houve grande fome…Zeus, que havia permitido que seu irmão raptasse Persépoles resolveu que ela deveria voltar para visitar sua mãe por seis meses e os outros seis ficaria com Hades. E a terra voltou a produzir com as sementes espelhadas pela deusa. Os gregos entenderam bem quando Jesus falou “Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só. Mas se morrer dar muito fruto” Segundo Kierkegaard Jesus não atrai os outros para longe deles mesmos, mas os lança de volta a si mesmos. “Chegou a hora do Filho ser glorificado…”, reconhecido. Quem ama a sua personalidade… perde-a. Quem segue a Cristo será glorificado por Ele (O Cristo desenvolvido em nós) por que as glórias desse mundo são passageiras. Os vrs 23-26 nos dizem que devemos aborrecer a vida sem sentido, o não ser.

            A angústia de sua alma era a angústia de que sua hora havia chegado. Ele conhece também nossas angústias em horas de sofrimento e dor. A oração ao Pai é uma afirmação de da culminância de sua missão no mundo. A voz do Pai foi a confirmação de que o Filho estava no caminho certo

            O julgamento do mundo e a expulsão do diabo – v. 31 e 32.  O mundo é julgado quando seus sistemas e suas leis são rompidas, quando afirmamos o nosso ser e não vendemos nossa alma. Julgamos o mundo quando dizemos não às boas ofertas que nos desviam de nós mesmos. E Jesus fala de sua morte na cruz: “Eu quando for levantado da terra a todos atrairei a mim”. É o poder de atração do amor. Essa também a tríplice missão do Espírito Santo: convencer o mundo do pecado… da justiça… e do juízo… (João 16:8-11).

E, finalmente, Jesus, respondendo ao povo, fala de que ele é a luz e exorta as pessoas a não andarem nas trevas numa vida sem direção e escura, sem identidade e sem rumo (vrs 34-36).

Esteja atento, meu irmão e minha irmã, nem toda boa oferta é boa para você se ela o atinge o centro de sua vida.

            “Tudo o que foi escrito para vosso proveito foi escrito”, e até as entrelinhas. Um presente bom pode ser um presente de grego (O cavalo de pau de Troia). Ele pode destruí-lo. Jesus, se tivesse aceitado o convite do rei de Edessa, certamente não morreria na cruz do Calvário e não haveria Evangelho nem salvação. Não estaríamos aqui agora.

            Aprendamos a buscar nas entrelinhas dos Evangelhos verdades profundas… O que Deus quer é “. Shakespeare escreveu: “Ser ou não ser, eis a questão”. Ser é viver autenticamente e plenamente. Não ser é pecado original porque nos desvia se nós mesmos e do que Deus planejou para nós. É ser aquém do que fomos chamados a ser em Cristo Jesus.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

Um comentário sobre “Evangelhos que chocam (4): A PIOR TENTAÇÃO

  • Artigo preciso e coeso. Que multidões de pessoas leiam essa maravilha! Graça e paz a vós outros.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *