UMA MULHER CHAMADA EVA
UMA MULHER CHAMADA EVA
Em memória de Eva da Silva Muniz
Faleceu ontem, 22.05.2020, a irmã Eva aos 85 anos, uma linda e grande mulher em todos os aspectos. Tinha o grande e pequenino nome da mãe da humanidade. E ela, foi sobretudo, uma mãe de seus dois filhos: Edson e Edilson. O culto de gratidão pela sua vida aconteceu hoje às 16:50 horas na Capela 2 do Cemitério Campo da Esperança em Brasília com a direção do Pastor Francisco Menezes da Igreja Memorial Batista e eu, emocionado, preguei. Foi sepultada a seguir no túmulo do seu esposo Guaraci que nos deixou em 1992.
Conheci a irmã Eva quando pastor da Terceira Batista do Plano Piloto, e ela, pura e transparente, contou-me sua história de fé e heroísmo. Luta renhida para criar seus dois filhos, ainda pequenos, quando se separou de seu primeiro marido. Saiu de Campos para o Rio sem nada, trabalhou como costureira e, quando tudo falhou, chorou à beira do mar pedindo coragem para atirar-se nas ondas vionlentas. Deus, que é socorro bem presente na angústia, veio ao seu encontro através de Guaraci que a confortou e a acolheu.
Quando a conheci já viviam juntos a 15 anos e os filhos já estavam grandes. Minha igreja na época a aceitou por aclamação porque sua igreja no Rio tinha sido extinta e, seguindo minha orientação, não exigiu que primeiro se casasse oficialmente. Cantar no Coral era seu sonho, mas um irmão corista e legalista chamou-a de “amasiada” provocando grande choro nela. Guaraci me chamou e me explicou: “Pastor, Eva sempre desejou casar-se, mas eu resistia porque já me sentia casado com ela. Não quero vê-la sofrer com discriminações na igreja. Por isso quero que o senhor faça nosso casamento.”. Marcamos didaticamente para um domingo à noite. Foi uma celebração belíssima com o templo lotado. Quando Guaraci faleceu, ela me convidou para dirigir o culto de despedida. Lembrei-me que ele, adepto do candomblé, só me chamava de “meu pastor”. Ele me ensinou que a bondade não é patrimônio de nenhuma religião. Em todos há pessoas ruins e boas. Ele era um homem bom.
Quando meu sogro, viúvo, veio morar conosco eu o apresentei a ela, agora membro fundadora da Igreja Cristã de Brasília. Os dois namoraram, o velho se rejuvenesceu, mas ela não quis casar-se de novo. Sou pastor dela pro mais de 35 anos e, no sermão de despedida comuniquei aos filhos, noras e netos presentes que ela está na minha galeria de heróis e heroínas da fé no livro VIDAS PERFUMADAS em gestação.
E agora, depois de sua partida, fica a eterna saudade e a certeza de que na Glória mais uma Eva é bem-vinda. À família o conforto do Pai de todas as consolações.
Brasília, 23 de maio de 2020
Pastor Julio Borges Filho