Tempo de Julgamento
Sermão: TEMPO DE JULGAMENTO – Ezequiel 16:48-50
“Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não fez Sodoma, tua irmã, ela e suas filhas, como tu fizeste, e também tuas filhas. Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, eu vendo isto, as removi dali”.
Pastor Julio Borges Filho
Uma lição paulina fundamental: “Tudo o que outrora foi escrito, para nosso ensino foi escrito…”- Rm 15:4. Aprender com a história é essencial à vida. Aprender com nossos próprios erros é sabedoria; aprender com os erros dos outros é uma sabedoria maior. Vejamos duas histórias próximas de nós.
PANORAMA HISTÓRICO
Recordando a história do povo de Deus do Antigo Testamento: Após a libertação do Egito e a peregrinação por 40 anos no deserto, enfim o povo de Deus conquista a terra prometida. Segue o período dos juízes onde nos é descrita uma história em ciclo: o povo se afastava de Deus, era dominado por outros povos, clamava, Deus mandava um líder (um juiz) que liderava à libertação e, sucessivamente, a história se repete. Esse período, onde não havia desigualdades sociais, poderia ter evoluído para um parlamentarismo das tribos. O que veio, porém, foi o reinado contra a vontade de Deus e de Samuel. Davi, o segundo rei, foi um rei guerreiro, mas agradava a Deus porque era um homem sensível, um artista, e bom. Salomão, com fama de sábio, copiou a império egípcio opressor, explorou o povo ao ponto de, com sua morte, haver a divisão: o reino de Israel ao Norte e o reino de Judá ao sul com a dinastia davídica. Segue-se reis bons e maus em ambos. Israel foi destruído pelos assírios, e estes, a despeito de reavivamento de Nínive com o profeta Jonas, foi varrido da face da terra. Dois reis de Judá (Josias e Ezequias) fizeram reformas e centralizaram o culto no templo de Salomão em Jerusalém destruindo os santuários do interior (Berseba, Betel. Siló, Siquém), e isso provocou o enriquecimento dos sacerdotes e a exploração do povo. Veio o cativeiro babilônico como disciplina de Deus e a destruição de Jerusalém e do templo. Durante o reinado houve muitos profetas, sinais e alto-falantes de Deus, mas foram perseguidos e mortos por denunciar os males das elites dominantes. No exílio se aprende a responsabilidade individual e a cultuar a Deus sem o templo. No pós-exílio, sob o império persa, se produziu quase todo o AT, surgiu o monoteísmo puro e o governo sacerdotal. Seguiu o domínio dos gregos e dos romanos, e quando Deus veio ao mundo na pessoa de seu filho, diz João: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam…”. Segue-se o ápice da rebeldia humana: a morte de Jesus Cristo na cruz do Calvário e a expressão máxima do amor de Deus.
Começa então a história do Cristianismo e da igreja. Após o período apostólico onde temos relatos belíssimo em Atos e na cartas paulinas, enfrentando perseguições com muitos mártires e toda sorte de intolerância religiosa e política, à medida que as igrejas cresciam e eram aceitas veio o retrocesso: o sacerdócio, os ritos, os templos. Com a adesão ao Império Romano veio junto com a fé cristã a imposição da cultura romana a outros povos. Com o surgimento do Islamismo fomos varridos da África setentrional que nos havia doado grandes nomes como Agostinho e Inácio, não por culpa do Islã, mas por causa das brigas entre as lideranças cristãs e a imposição aos árabes da cultura latina .Na idade média veio a inquisição do Papa Gregório IX com muitas mortes nas fogueiras e intolerância. Só na Espanha foram mortos 31 mil pessoas sob a acusação de heresia. Numa bula papal desta época foi feita menção aos gatos como animais demoníacos e dizimaram os gatos da Europa. Festa para os ratos que trouxeram a peste bubônica (peste negra) que dizimou 200 milhões de pessoas. As cruzadas para libertar a terra santa dos infiéis mulçumanos foi um capítulo triste com milhares de mortes de ambos os lados. Mesmo assim Deus nos dá seus dons: Tomaz de Aquino e Francisco de Assis. Veio o cisma do Oriente em 1054 d.C: Roma e Constantinopla eram as sedes das igrejas. A igreja católica se rende ao poder e para sobreviver lança as indulgências para explorar o povo e dominar as consciências. Vem Reforma protestante (o cisma do Ocidente) com Lutero, Calvino e Zwinglio, etc, mas logo de início tornaram-se intolerantes com os anabatistas e os camponeses que são massacrados. Com a teologia da retribuição surge o capitalismo trazendo prosperidade e exploração econômica e a escravidão negra. Deus manda mensageiros: Wesley e outros. A adesão dos evangélicos ao nazismo é outro capítulo de trevas que nos trouxe o genocídio dos judeus e a segunda guerra mundial. Somente 1% dos evangélicos da Alemanha resistiram com a Igreja Confessional clandestina. A resistência foi duramente punida com confisco de bens e morte por enforcamento de seus líderes como Bonhoeffer. Surge o Conselho mundial de Igrejas e a ONU para repactuar as igrejas e as nações. Surgem grandes teólogos para nos fazer pensar e também avivamentos religiosos. Um exemplo é o de Ruanda no final do século passado, mas sem profundidade provocando um genocídio onde cerca de um milhão de pessoas foram mortas numa cruel guerra civil. Os Estados Unidos, a nação mais evangélica do mundo torna-se uma nação guerreira e com profundas desigualdades raciais e sociais. Deus manda profetas como Martin Luther King Jr que é assassinado, Exporta missionários e cultura americana. Isso e a bagunça de nossos dias, e no Brasil essa promiscuidade política de hoje com novas igrejas comprometidas com Mamom, o deus do dinheiro. Neste breve panorama histórico vimos que Israel e a Igreja não aprenderam nada.
Segundo o profeta Ezequiel Jerusalém também não aprendeu nada com a história e tornou-se pior que Sodoma. Por isso o cativeiro babilônico para ela aprender. O sofrimento nos ensina. Romanos 828: “Sabemos que todos as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus…”, e eu acrescento: especialmente as ruins.
A pandemia do coronavírus veio agora, e já era prevista, porque o mundo estava vivendo baseado na ganância que exclui: acumulação de bens nas mãos de poucos em detrimento de bilhões, agressão ao meio ambiente, guerras, e alguns países, sem aprender da história, querendo voltar a um passado de autoritarismo e desumanidade. O que aprender? 1) diagnosticar o mal, 2) aprender lições essenciais de humanidade e verdade, e 3) agir de acordo.
DIAGNOSTICANDO O MAL – Ez. 16:48-50
- Os pecados de Sodoma:
1) Soberba…/Arrogância“orgulho ao extremo” “Se acha melhor que os outros”, “insolência”;
2) Fartura de bens e insensibilidade social: As cidades-estado exploravam o campo.”O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, escreveu Paulo, e ele estava certo. Por isso Abraão foi peregrino e não morou em nenhuma delas porque sonhava, segundo o escritor aos hebreus, com a cidade que tem fundamentos.
3) Prática de abominações – Ações execráveis/idolatria que são sinais da desumanização.
2. O salário do pecado é a morte – Gn 13. Sodoma e sua filhas são destruídas. Minha teoria: Quando Lúcifer se revelou levou consigo 1/3 de anjos que se transformaram em de demônios. 2/3 permaneceram fiel a Deus. Acho que isso nos diz que há no mundo 2/3 de bem e 1/3 de mal. Quando o mal prevalece traz a destruição. A história é uma cemitério de impérios, dizia o saudoso bispo Robinson Cavalcanti, exatamente provando isso.
LIÇÕES ATUAIS
Lições do coronavírus – Como um pequenino ser, invisível aos olhos humanos, consegue apavorar o mundo ao ponto da OMS decretar estado de pandemia? Precisamos aprender com ele algumas lições.
- Não faz acepção de pessoas – Começa atingindo as classes alta e média alta dos países mais ricos do mundo, aqueles que viajam pelo mundo, e pode alcançar a todos e, ao chegar aos pobres e esquecidos vai se alastrar rapidamente.
- A fragilidade dos projetos humanos denunciada por Tiago na Bíblia é demonstrada. O COVID-19 derrubou as bolsas dos investidores que só pensam no lucro próprio e são insensíveis a sofrimento do povo, fechou quase tudo e provoca trilhões de dólares de prejuízo em todo o mundo. Muitos projetos são adiados ou cancelados.
- Humilha a ignorância e a insensatez – Nos países mais desenvolvidos se tem levado o coronavírus a sério. Aqui no Brasil irresponsáveis e ignorantes levaram milhares às ruas para apoiar um presidente incapaz e, o insano presidente, além de incentivar tal insensatez ainda saiu apertando as mãos das pessoas mesmo sendo um suspeito de estar contaminado. É uma vergonha para os brasileiros. Líderes religiosos evangélicos são processados por charlatanismo. Exemplo: O Apóstolo Valdomiro, da Igreja Mundial, vendendo um semente por mil reais para curar o COVID-19.
- Derrotou o neoliberalismo econômico que tomou conta de muitos países. Na Itália, Espanha e França estão estatizando empresas que foram privatizadas, e até mesmo hospitais privados são estatizados para o bem comum. A comercialização da saúde é a herança pior da teoria econômica liberal. No Brasil a salvação está no SUS – saúde para todos. Alguns bilionários americanos contestam a teoria econômica em vigor.
- A solidariedade humana pregado por Jesus é a única saída para a crise. Israelitas e palestinos se unem para vencer a pandemia, e histórias de solidariedade humana estão sendo escritas com gestos belíssimos.. O discurso de ódio é fracasso certo. Só o amor constrói.
- Somos seres finitos e vulneráveis aos males deste mundo. O próprio Jesus nos avisou: “No mundo tereis aflições…” A fé nos dá certeza da vitória, mas não nos vacina com as provações. Cuidado, pois, com os charlatões da fé popular. O perigo de presunção da segunda tentação de Jesus está diante de nós e Deus não nos salvará.
- A humildade e prudência são nossas melhores armas para minimizar a pandemia. “Sede simples como as pombas e astutos como as serpentes”, aconselha-nos Jesus. Reconhecer a nossa finitude e curtir no confinamento a família como célula mater da sociedade. Voltemos a ser crianças recuperando a alegria e o bom humor.
Bem, certamente há outras lições para se aprender porque somos etenos aprendizes.
CONVITE À AÇÃO: Lições do Pai Abraão
- Ação de orar e vigiar. Abraão orou por Sodoma (Gn 13). É uma das orações mais atrevidas da Bíblia. Acho que ele não pediu mais porque só a família de Ló com as família dos noivos de suas filhas eram 10 pessoas Dois pedidos: o nosso e a vontade de Deus ensinados no Getsêmane por Jesus.
- A compaixão. Abraão levantou de madrugada e olhou com compaixão para Sodoma e só viu o fumaceiro da destruição. Olhar semelhante teve Jesus quando, pela última vez viu Jerusalém.
- Ação de denunciar – “Voz profética” é essencial à igreja. “Oxalá todo o povo de Deus fosse profeta”, afirma Moisés. “Se não houver profecia o povo de corrompe.”
- Ação de propagar o bem – Pequenos gestos podem salvar o mundo. Há uma estória trágica e bela sobre uma floresta na África que pegou fogo. Todos os animais se abrigaram numa praia de um rio. Uma andorinha voava, enchia o biquinho de água no rio e jogava sobre as chamas. Depois de muitos voos posou fatigada ao lado de um elefante que lhe disse: “Andorinha, você é muito bobinha. Acha que um pingo de água pode apagar essas chamas?” Ao que a andorinha respondeu: “Estou fazendo a minha parte.
Em tempo de julgamento precisamos ver onde estão o mal e o bem. Precisamos aprender lições essenciais da história para não repetirmos os mesmo erros.
Precisamos agir como cristãos propagando o bem e olhando o mundo com compaixão.. Hans Kung em seu Projeto de uma Ética Mundial afirma: “Não haverá paz no mundo se não houver paz entre as religiões.” Por isso nada de intolerância religiosa.
Santo inconformismo: sonhamos com um mundo melhor com os ideias de justiça, paz e alegria do Reino de Deus.
E, sobretudo, precisamos fazer um autoexame: “Sonda-me, ó Deus…” – Salmo 139:23 e 24.