TEMPLOS VENDIDOS
TEMPLOS VENDIDOS
Julio Borges Filho
A informação de que centenas de templos de igrejas cristãs na Europa estão sendo vendidos para outros usos, inicialmente, chocou-me. Os templos estão sendo usados para bibliotecas, exposições, casa de shows, restaurantes, etc. Pensando, um pouco mais, vejo nisso algo de bom para o cristianismo: a idolatria do templo trouxe muitos males na história de Israel e na história da Igreja. Tanto que em Israel o templo foi construído três vezes e três vezes destruído debaixo do juízo divino. Na Europa agora os templos estão sendo vendidos.
As igrejas primitivas eram simples e não institucionais. Reuniam em lares, teatros, espaços públicos, ar livre e até em cavernas. O que importava era a presença do Espírito Santo na comunidade. Viver no Espírito, porém, é um desafio constante, mas essencial à fé cristã. A evolução para templo começou no segundo e terceiro séculos da era cristã. Os prédios públicos romanos serviram de modelos para os templos. Foi uma conseqüência natural do estabelecimento do clericalismo cristão e da centralização do poder eclesiástico em Roma. Deus precisava de monumentos sagrados quando, na verdade, o clero é que precisava. Ademais é mais cômodo para o povo abrir mão do sacerdócio de todos os crentes e se proteger debaixo da autoridade religiosa. Alguns templos são monumentos fechados durante a semana e abertos no domingo para comunidades fechadas, à semelhança os discípulos antes da ressurreição de Cristo, de portas trancadas. São verdadeiros clubes sem relevância para a sociedade.
Aqui no Brasil a construção templos está em pleno vapor consumindo imensos recursos que poderiam ser investidos em pessoas ou mesmo na tarefa missionária. A uma grande e nova igreja que construiu uma réplica do templo de Salomão em São Paulo. Puro ego de uma líder. Alguém já disse que muitas igrejas só subsistem se estiverem em constante processo de construção de prédios. Sem o templo elas se perdem ou se perderam sem perceberem. Agora, em plena pandemia do coronavírus os templos foram obrigados a se fechar. As igrejas se reuniram virtualmente. Com certeza um dia a crise de fé surgirá também no Brasil. As pessoas considerarão os templos desnecessários por não terem função social e buscarão outras formas de comunhão mais simples e mais eficientes. O interessante na informação do fechamento dos templos na Europa é que as pessoas continuam cristãs, mas sem vínculo com uma paróquia ou comunidade. Tal fenômeno já acontece aqui entre nós. O nominalismo religioso é um fato lamentável nas grandes igrejas, e aumenta cada dia o número de pessoas que consideram a igreja irrelevante.
É preciso recuperar a dimensão perdida da religião, segundo Paul Tillich: a dimensão de profundidade.