EM DEFESA DA VIDA
EM DEFESA DA VIDA
Observações sobre o julgamento do STF
sobre o eventual fechamento de templos no auge da pandemia no Brasil
Observei ontem as manifestações de líderes de associações religiosas, a maioria de evangélicos, e fiquei pasmo com tanta ignorância e arrogância, inclusive do advogado geral de União que é pastor presbiteriano. O mais arrogante de todos ameaçou a suprema corte do Brasil com as palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, no que foi rebatido ética e duramente pelo presidente da corte. Notei que o cristianismo destas pessoas é muito raso a ponto de colocar o templo acima das pessoas numa pandemia que tem levado muitos pastores e membros de igrejas. É esquecido o ensinamento basilar de Jesus que coloca as necessidades humanas como prioritárias na economia divina: “O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado”.
O Supremo aplicou o placar de 9 x 2 com votos substanciais em defesa da saúde pública e da vida. Em outras palavras: O Supremo defendeu a vida que as igrejas deveriam defender, e os representantes eclesiásticos se aliaram aos fariseus e saduceus para defender a morte. Eis dois trechos que me chamaram a atenção: 1) O ministro Fachim disse que seria inconstitucional se a autoridade (governadores e prefeitos) não decretassem limites às aglomerações públicas, assim como é inconstitucional ser contra vacinas e não comprá-la a tempo, e nem providenciar proteção social aos pobres para fiquem em casa; e 2) o ministro Lewandowski comparou a pandemia no Brasil a Londres sendo bombardeada pelos alemães na segunda guerra mundial, e que seria um suicídio os templos se abrirem sendo alvos fáceis das bombas. Tais palavras desmascararam as igrejas empresariais que só pensam na arrecadação de dinheiro e não nas pessoas, além de expor a necropolítica do atual presidente que só pensa em manter cativos parte do eleitorado evangélico. A tese quase unânime do STF é de que não se trata de liberdade religiosa, mas de saúde e preservação da vida humana.
Num momento dramático e triste como o que estamos vivendo, muitas igrejas sérias estão sendo criativas nos cultos virtuais e na assistência aos seus membros por telefone ou individualmente. É a defesa da vida em tempos de pandemia.
Brasília, 08.04.2021
Julio Borges Filho