UM HOMEM TRANQUILO
UM HOMEM TRANQUILO
Em memória de Edson da Silva Leite
Partiu desta vida para uma vida maravilhosamente melhor, um homem que neste mundo vivia em paz com Deus, consigo mesmo e com os outros. Edson era um homem tranquilo e de uma fé inabalável. Filho primogênito da saudosa irmã Eva, minha ovelha amada, eu o conheci ainda bem jovem ao lado de seu inseparável irmão Edilson. Tratava-me sempre com carinho. Uma vez o encontrei sem cabelos na Igreja Memorial Batista de Brasília, depois de um longo tempo sem nos ver, e ele, receioso que eu não o reconhecesse, cumprimentou-me assim: “Pastor Julio, lembra-se de mim? Eu sou Edson, filho de Eva, e estou fazendo tratamento contra um câncer”. Câncer que o levou à morte neste sábado 24.04,2021.
Ele sempre me transmitia paz, e não apenas a mim. Sua grande mãe uma vez me disse: “Quando estou triste, depressiva, telefono pra Edson, e ele logo vem e me leva para passear, e na volta a tristeza e a depressão somem.”. Um fato inesquecível aconteceu a uns 25 anos ou mais. A irmã Eva me falou de um problema que ele e sua esposa Bety estavam enfrentando relacionado à filha Juliana, uma bela menininha de uns 4 ou 5 anos. Eles fizeram o quartinho para ela todo especial, mas ela não queria dormir no quarto porque sentia a presença de um bicho frio com ela. A avó, mulher de grande sensibilidade, também sentiu o mesmo deitando-se na caminha dela. Um culto foi programado, não me lembro se para comemorar o aniversário de Juliana ou para inaugurar o quarto, e eu fui convidado para dirigi-lo. Preguei em Romanos 8:31-39 enfatizando dois grandes desafios paulinos: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” e ”Quem nos separará do amor de Cristo?”. Terminado o culto, Juliana toda feliz, pegou na minha mão e me mostrou seu novo quarto e já não se lembrava da presença do mal frio. E ela não se esqueceu disso. Creio que a uns 5 anos eu a encontrei num culto da Igreja Batista da Graça em Brasília, e ela, já uma linda moça, apresentou-se: “Pastor, lembra-se de mim? Eu sou Juliana, neta de Eva e filha de Edson. Eu lhe mostrei meu quarto.”
O culto de gratidão pela preciosa vida de Edson aconteceu no auditório da Igreja Memorial da qual foi membro por 38 anos, às 13:30 horas do dia 25.04.2021. A liturgia foi simples e significativa começando com o belo hino “Deus cuida de mim” e, depois de uma oração, Luize Foizer cantou “Sua graça me basta”; a leitura bíblica de Romanos 8:35-39 foi feita por todos seguindo do hino “Não tenhas sobre ti”; o sermão do Pastor Francisco Menezes baseou-se na parábola dos talentos fazendo uma inversão da parábola para o que recebeu apenas um talento, o de fotógrafo que foi multiplicado transformando-se num acervo e recebendo as boas vindas do Senhor; um grupo vocal composto de quatro mulheres, entre as quais Juliana, e dois homens, cantou belamente o lindo hino “Asas da alva”; finalmente, representando a família, Juliana fez um depoimento magnífico sobre o pai, “meu pop” assim ela o chamava, destacando, não apenas o dom de grande fotógrafo de vários ministérios e da igreja, mas sua cortesia, bom de papo, dançarino, um lord que detestava grosserias e palavrões, lavador de pratos em casa, assobiador doce, e nunca levantou a voz na família tratando a todos com delicadeza. Em suma, um homem com H maiúsculo. Por isso, mesmo em plena pandemia, os abraços se multiplicavam..
Agora quando Edson, após longa convalescença, parte para os braços do Pai, os desafios paulinos me veem à mente e ao coração. Se vivemos com Cristo vivemos, se morremos, com Ele estaremos para sempre. Que essa expressão de fé e esperança console Bety, sua grande companheira de caminhada por 38 anos, suas duas filhas, Juliana e Fernanda com suas famílias, e seu irmão Edilson e família. Este, sempre emotivo, chorava copiosamente talvez também se lembrando de sua Eva que partiu a menos de um ano. O tranquilo Edson, além das boas vindas de Jesus, certamente reencontrou sua mãe, agora sua irmã na pátria da absoluta paz.
Brasília, 25.04.2021
Julio Borges Filho
# Bem-aventurados os mortos