O SHOW DE XANGAI
O SHOW DE XANGAI
Julio Borges Filho
Após quatro anos de apagão cultural no Brasil quando a cultura de morte e de mentira tentou tirar dos brasileiros o que temos de melhor, ver o show de Xangai no Clube do Choro em Brasília, nesta quinta-feira 16 de março, foi um bálsamo para minha alma. Convidado por um casal da Unb, amigos de minha esposa, participamos de uma mesa especial de pessoas queridas. O público era seleto e amante da boa música e lá estava nossa ministra da cultura Margareth Menezes que, no final, participou do belo show sendo muito aplaudida.
Eugênio Avelino, 75 anos, do sul da Bahia, ganhou o apelido de Xangai quando menino porque seu pai tinha uma sorveteria com este nome. E pegou. Xangai é um poeta da natureza e do sertão descendente direto do sertanista fundador de Vitória da Conquista na Bahia. Violeiro, compositor e cantor de voz forte que alcança todos os tons, tem uma sensibilidade musical e poética sem igual. No show de duas horas deste artista que não envelhece, eu viajei pela minha infância, pelas viagens de carro no nordeste com minha família quando meus filhos eram crianças, recordei canções já quase esquecidas, e voei nas minhas memórias ativadas pelo cantor que cantou coisas passageiras e eternas. Homenageou Luiz Gonzaga, Elomar, Valdique Soriano e outros. Como é divino o dom que Deus dá aos poetas e cantadores. Só os agoureiros religiosos, inimigos do belo e da vida, encontram razão para não gostar de “músicas mundanas” como se a capacidade de criar dos artistas não fosse um dom maravilhoso de Deus.
Foi poesia e música do início ao fim com muito humor e beleza. Duas participações especiais foram lindas: a primeira, de um poeta pernambucano, Antônio Marinho; e a segunda de Margareth Menezes, já quase no final. Ela e Xangai cantaram um cântico das árvores que é um hino de louvor a Deus pelas nossas irmãs verdes.
“Pode voar, porque eu sou a sua outra asa”, cantou Xangai. E nós voamos… “É cantando que carrego a minha cruz”, cantou. E nós cantamos e não olhamos para o relógio porque as coisas do coração são eternas.Brasília, 17 de março de 2023