E S T A M O S A L E G R E S
“Grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso estamos alegres” – Salmo 126:3
(Para o 80º aniversário de minha irmã Lair)
Hoje, comemorando os 80 anos de Lair Guerra de Macedo no SMDB Conjunto 21 lote 3 casa 4 (Brasília), estamos alegres. Uma alegria expressa na Bíblia no Salmo 126 quando o salmista comemora um ato de libertação nacional. E a presença de três irmãos dela (Delile, Alvimar e eu), de duas cunhadas (Marieci e Gislene), de todos os filhos, de duas noras (Marjorie e Carolina), de quatro netos (João Paulo, Manuela, Thomas e Isabella), de sobrinho (Marco Antonio) e outras pessoas amigas, somos convidados a celebrar com alegria o momento presente, evocando o passado e antevendo o futuro.
Viver é isso: estar plenamente presente no momento presente com fazem as crianças. Por isso, afirmou Jesus, delas é o Reino dos Céus porque elas são naturalmente puras, leves e alegres. Estar aqui hoje com Lair é um milagre, um momento eterno onde o tempo que passa, cronos, não conta, mas o tempo de Deus, kairos. Tal é o nosso estado de graça: Estamos alegres com Lair nos seus 80 anos.
Daí podemos evocar o passado chamando-o ao presente pois “cada um de nós carrega e si a sua história”, como canta a poeta. Vejo Lair, embora seja mais novo que ela um ano e quatro meses, ainda pequena lá no Gety, nossa Curimatá natal no sul do Piauí. Vejo-a teimosa, corajosa e decidida não se dobrando à temível palmatória de nossa mãe. Veja-a nos programas da escola de Samuel se oferecendo para recitar versos numa espontaneidade sem igual: “Sou filhinha de papai de perna grossa. Vestido curto papai não gosta”; “Sou doceira de verdade, faço de qualquer qualidade. Só que um dia eu errei, em de açúcar, poder duas colheres de sal.”
O auditório aplaudia e ela saia feliz e correndo. Vejo-a estudando em Corrente, depois em Recife, e recordo-me do seu casamento com Juninho na capela do SEC – Seminário de Educadoras Cristãs celebrado pelo Pastor Merval Rosa. Acompanhei a chegada dos filhos (Ana Heloísa, Silviane, José Neto, João Ádson e Julio Carlyle) no Colégio Americano Batista e o crescimento deles. Filhos crescidos, mais estudos culminando com o mestrado em microbiologia nos EUA. Fui pastor da família em Teresina quando foram para a Universidade Federal do Piauí. Privilégio depois repetido em aqui quando vieram para a Universidade de Brasília.
A luta pioneira no Brasil e no mundo no Programa Brasileiro de DST/Aids no Ministério da Saúde que lhe deu projeção nacional e internacional. Por este trabalho de dez anos desde 1986, trabalhando com dez ministros da saúde, chegou a ser indicada para o Prêmio Nobel da Paz classificada como uma das mulheres que mudaram o mundo. Presenciei várias homenagens a ela, inclusive o título de Cidadã Honorária de Brasília concedido pela Câmara Legislativa do DF. Veio o desastre em agosto de 1996 em Recife com o traumatismo craniano que mudou sua vida, mas não mudou sua determinação e sua fibra. Ela tem alicerces para baixo e para cima capazes de suportar as intempéries da vida. Por isso estamos alegres.
Se Deus nos ajudou até aqui é sinal que continuará ajudando. E aqui, agora, trazemos o futuro para o presente. E faremos isso diante de sua descendência de cinco filhos, um genro, quatro noras, e onze netos. O salmista sonha com torrentes de água no deserto. O deserto é fértil para os que sonham, e Lair e Juninho sonharam e construíram uma família linda que aqui cerca a mãe a avó com carinhos na certeza que a descendência dos justos é abençoada. O futuro sorri para nós neste dia de festa. Por isso estamos alegres.
Para concluir ofereço a Lair um soneto nos seus 80 anos:
UMA MULHER DE FIBRA
Desde pequena já era forte e decidida…
A palmatória de mamãe não bastava
Para abater a sua alma mui aguerrida,
E ela lutava, persistia, sempre teimava.
Cresceu com a beleza das carnaubeiras,
Com a saúde e o verdor dos juazeiros,
Estudou à sombra de belas mongubeiras
Com garra e a sabedoria dos espinheiros.
Cresceu estudiosa, aplicada e boa cristã,
Casou-se e, sonhando com o amanhã,
Teve com seu amor maravilhosos filhos.
E sempre estudando, lutando com arte,
No auge de sua vida veio o desastre…
Tudo mudou, mas conservou os brilhos.
Brasília, 25.03.2023
Julio Borges Filho