EPITÁCIO FRAGOSO: UMA MENTE BRILHANTE
EPITÁCIO FRAGOSO: UMA MENTE BRILHANTE
Em memória de Epitácio Fragoso Vieira
“Pastor Julio, pastor Julio, meu amigo, Epitácio tem meia hora que partiu. Está nos braços de dois irmãos espirituais que vão levá-lo para uma das moradas do Senhor.. Eu tentei ligar, mas você não atendeu. Um beijo.” Assim Marluce, a grande esposa de Epitácio, comunicou-me entre soluços, às 20 horas deste sábado 23 de setembro, a morte dele. Telefonei pra ela e a confortei com as bem-aventuranças dos mortos em Apocalipse 14:13: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas, pois as suas obras o acompanham.” Foram meses na UTI de um hospital em Recife, mas, finalmente, livre, plenamente livre na pátria da absoluta realização humana. Epitácio era cearense de nascimento, paraibano de família, e pernambucano de coração. Uma mente brilhante. Partiu aos 82 anos e, de uma família de dez irmãos, ficaram apenas dois: Ezequias de 84 anos, e Ezequiel de 89 anos.
Conheci Epitácio no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife, onde estudamos. Ele e Ezequias se formaram antes de mim. Já Marluce, sua esposa, conhecia do Colégio Americano Batista um cursamos o Clássico juntos e, no Seminário, chegamos a namorar. Logo depois ela namorou com ele e se casaram com um amor que transcende esta existência. Tiveram três filhos: Daniel, Estela e Helena. A dor deles pela perda de Helena era semelhante a minha e de Gil com a partida de nosso filho Jusiel. Por isso senti a dor deles e escrevi o seguinte soneto para eles:
VI HELENA
Para Epitácio e Marluce
Vi Helena nos versos do pai,
Na dor imensa de sua mãe,
No vento que está aqui e vai,
No lindo sol quando se põe.
Vi Helena, e vi na minha dor,
Vi sua bela cor e sua beleza
Exuberante como a natureza,
E vi seu canto sofredor..
Vi Helena em sua curta vida,
Jardim de flor, flor bem florida,
Um canto belo e lindo de amor.
Vi Helena lá no Eterno Céu,
Vi sua beleza agora já sem véu,
E só vi alegria e esplendor.
Brasílía, 28.03.2017
Desde o seminário descobri em Epitácio uma mente brilhante. Como escrevia bem e como se preparou bem: graduado em teologia, filosofia e letras, e pós-graduado em antropologia. Foi pastor e depois professor da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Deixou-nos livros belíssimos: O Cadilaque e o Beijo da Velhinha (romance), Profissão de Fé (poesia), O Senso Antropológico de Jean-jacques Rosseau (tese de mestrado), o Senso Antropológico de Gilberto Freire (ensaio), A Pedra de Drummond e muitos artigos. No livro A Pedra de Drummond, inspirado no famoso poema do nosso poeta maior, ele diz que a pedra no caminho era a injustiça social. E, falando do Cristianismo, escreveu que precisamos de uma terceira síntese. A primeira foi feita por Agostinho com base em Platão, a segundo, feita por Thomaz de Aquino, foi inspirada em Aristóteles, e defendeu a tese que a terceira síntese do cristianismo seja inspirada em Karl Marx por que a injustiça social deve desaparecer da terra.
Epitácio era um homem das letras, assim como Marluce, sua esposa. Ambos formavam um dupla belíssima e inseparável. Imagino a dor dela, dos filhos e netos com a partida dele. Consola-nos o fato de que deixou de sofrer e foi promovido à Glória onde não há mais dores, lágrimas, pedra no caminho e mortes. Que as consolações do Espírito Santo repousem sobre todos: família e amigos. Quem conheceu Epítácio Fragoso, conheceu um homem raro, simpático, sensível e brilhante. A última vez que o vi foi no ano passado quando o casal veio a Brasília visitar Ezequias. Almoçaram conosco e passamos uma tarde com eles mostrando a capital. Foram momentos inesquecíveis. A saudade é infinita.
Brasília, 23 de setembro de 2023
Julio Borges Filho