Evangelho de João: O Senhor do tempo
EVANGELHO DE JOÃO: VIDA PARA A CIDADE – Pastor Julio Borges Filho
Sermão 3: O SENHOR DO TEMPO/VAMOS A BETESDA – João 5:1-18
Introdução:
– Era sábado, dia de descanso para os judeus…, mas, para Jesus, de trabalho: Meu Pai trabalha até agora… Por isso o convite do Senhor do tempo: Vamos a Betesda.
– Sábado para nós é o dia do cotidiano (tarefas caseiras, lazer, família, feira) e dia de festa, mas Jesus no convida: Vamos a Betesda.
– Betesda é o lugar do pequeno e do fraco, do pobre e do enfermo, dos desesperados que se apegam a um sinal de esperança, do discriminado, do solitário, do desafortunado, do excluído. É também o lugar da graça e da esperança. Betesda deve ser a agenda prioritária da Igreja. Betesda é a pobreza na periferia das grandes cidades. Para nós da ICB, Betesda é o CONIC. Portanto, o convite do Senhor é atual: Vamos a Betesda.
I. Vamos de olhos abertos para a realidade
1. Com u jeito de olhar que abraça – Betesda “Casa da Graça/Misericórdia” (aramáico). Um olhar gracioso que inclui o outro. Jesus ouviu a história do paralítico: 38 anos sem perder a esperança. Jesus para ouvir a história da dor, do sofrimento, da discriminação… A pobreza não é um efeito sem causa. É um mecanismo que se produz e se reproduz na sociedade. O IBGE informa que o grau de pobreza e desigualdade social atinge todas as regiões do Brasil. Nosso desafio é olhar com o olhar de Jesus que são os olhos da Deus na terra… Para tanto precisamos ser afetados radicalmente pela graça num mundo de dês-graça, pela compaixão num mundo sem compaixão… Os desgraçados de Betesda não precisam do favor que aliena e os tornam dependentes, mas dos favores de Deus que os liberta por são puro amor. Vamos a Betesda com um olhar amoroso.
2. O olhar do paralítico: Deus e lembrou de mim!… Isso é fantástico!… Não estamos sozinhos e abandonados no universo. O encontro da esperança. O paralítico não estava acostumado a levantar os olhos. Seu jeito de olhar era cabisbaixo como cabisbaixo é o olhar de milhões de brasileiros. Mas quando o olhar gracioso de Jesus o abraça, ele olhar para cima e sente que a sua hora chegou. O movimento que produz desenvolvimento e liberdade é o movimento que inclui as forças excluídas. É o movimento em que Deus desce à terra e se humilha movido pelo clamor dos oprimidos e pela arrogância dos opressores. É o movimento da graça que afirma a semelhança de todos restaurando a semelhança de Deus em nós. É o olhar que contempla o outro ferido em sua dignidade humana e fá-lo olhar para cima. É para isso que somos convidados a ir a Betesda.
II. Vamos chegar lá
- Pergunta: “Você quer ser curado?” A pergunta de Jesus parece ser óbvia. Mas ela nos fala da iniciativa divina na recuperação do homem e também dos limites de Deus. Nem Deus pode curar quem não deseja ser curado. O Deus que me criou sem eu querer, não me salvará se eu não quiser, escreveu Agostinho. Deus nos respeita e respeita nossas decisões. Por isso a tarefa de perguntar é a tarefa de diagnosticar a vontade respeitando-a. É a sublime tarefa de despertar consciências sem manipulá-las. Não devemos ir a Betesda com soluções prontas. Temos de ouvir os que lá estão sedentos de cura e que esperam contra toda esperança.
- Resposta: Solidão, falta de solidariedade… Quanta gente nunca chega lá. É nossa tarefa promover a solidariedade humana num mundo mais cada vez mais egoísta, numa economia sem coração que exclui milhões, numa sociedade injusta e idólatra cheia de muros que separam as pessoas.
- Proposta: “Levanta-te! Pega a tua maca e anda” – A causa maior de nosso pobreza é a falta de trabalho. São milhões de desempregados que precisam se levantar, tomar seu leito e andar. Levantar é ser semelhante aos outros que não apenas se deitam, mas se levantam; pegar a maca ou o leito é trabalhar mesmo num sábado; e andar é viver. Ah, quantos não chegam lá!… Jesus chega lá. A Igreja precisa chegar lá. Ela é mensageira desta palavra: “Levante-se!…” Se a Igreja não for a Betesda, o único jeito de ser é cabisbaixo. Se a igreja for a esperança sempre é derramada novamente pela Palavra de Deus.
III. Vamos enfrentar e vencer as tentações
- A tentação do templo – O templo enxerga no tempo errado e do jeito errado. É a tentação de perder do foco. O templo era o detentor do poder, da inteligência e da Palavra de Deus. Usou tudo isso para benefício próprio e perdeu a dimensão do ser humano. Perdeu seu patrimônio e precisa ser destruído como destruídas precisam ser todas as formas de dominação, principalmente as religiosas porque feitas em nome de Deus. A inteligência precisa ser responsável e estar a serviço do povo que sofre. As dádivas de Deus, assim como o maná do deserto, não podem ser guardadas egoisticamente sob pena de apodrecerem. Precisam ser repassada imediatamente. E quem mais dá, mais tem. E que não dá, perde. De que adianta o conhecimento e o saber científico sem amor? O apóstolo Paulo nos ensinou isso em 1 Coríntios 13: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, sem amor, não passaria de um sino barulhento e não comunicaria nada; se tivesse o dom de profetizar e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e mesmo a fé que transporta montes, sem amor, não seria. Mesmo que distribua todos os meus bens aos pobres e que entregue o meu corpo para ser queimada, sem amor, nada disso me aproveitará. A inteligência sem amor é uma inteligência irresponsável e pecaminosa. Cria as armas de destruição, maquina o mal, promove holocaustos e a guerra, mata, terroriza. Daí a lição fundamental de Jesus para o templo: as instituições, assim como o sábado, foram criadas para estarem a serviço do homem e jamais para escravizá-lo. O mandamento objetiva a liberdade humana e não a sua opressão. A pessoa humana é absolutamente prioritária na economia divina. Um ser humano, assim como um momento de amor, vale mais que o mundo inteiro, já afirmavam Kiekegaard e Pascal.
- A tentação de contentar com o milagre – É a tentação de se satisfazer com o poder espiritual. Nosso mitiê. Esquecer de encontrar o paralítica novamente: Não volte a pecar… Pecar é retornar ao caminho da paralisia. É ser menos do que fomos chamados a ser. É desvirtuar e desviar para o mal e a negatividade de nossas potencialidades. Pecar é ficar sobre o leito e não andar. Pecar, para a igreja, é afastar-se de sua missão redentora. É manipular as pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. É não priorizá-las. É se contentar com perpetuação das dessemelhanças entre os seres humanos. É defender o status quo pecaminoso. A evangelização não é só pescar. É, principalmente, tratar do peixe. Devemos evangelizar humanizando e humanizar evangelizando. E o ser humano precisa não apenas do milagre da cura, mas do discipulado, da ética do Reino e de atenção constante. Precisa do não voltes a pecar…
IV. Vamos a Betesda nos encontrar
- Como o paralítico – A igreja é mendiga dos favores de Deus. Não podemos esquecer que somos o paralítico.
- Sendo chamados sempre de novo: Vamos a Betesda. Este chamado que sempre se renova até ser encarnado em nossa vida. Conheci no 2º Congresso Brasileiro de Evangelização, em 2003, o jovem Paulo Rocha Junior, o Pedro do Borel. Seu testemunho me emocionou e pode ser resumido nestas suas palavras: Em uma manhã estava meditando no morro do Borel, e comecei a imaginar que seria um privilégio ir a Jerusalém e andar por onde Jesus andou. Fiquei quieto ali só sonhando. De repente meu coração se encheu de uma presença doce e ouvi Deus falou comigo que privilégio não seria andar por onde Jesus andou, mas permitir que Ele ande através de mim por onde não andou. Não era fácil deparar com a realidade do morro. Entrar nas casas, ver como as pessoas vivem, atender crianças e adultos em estados críticos no ambulatório. Às vezes tenho vontade de desistir quando o que vejo parece não ter solução. Tamanha injustiça,, violência e miséria. Porém vejo que é possível mudar. Tenho em minha vida o desejo, não apenas de andar por onde Ele andou, mas permitir que Ele ande através de mim onde me colocou, e esse lugar se chama Morro do Borel.
Conclusão:
– Desanimado: “Olhe você está curado. Não volte a pecar…”
– Vamos a Betesda!… Ir às muitas e diferentes Betesdas do Brasil e no mundo é uma missão salvadora. Salvadora da civilização brasileira que não pode sobreviver com índices tão alarmantes de injustiças e desigualdade, com um Brasil que ri para não chorar e um Brasil que chora para não morrer. Salvadora da Igreja que se perde reproduzindo as formas de uma sociedade pecaminosa e se afasta de Jesus Cristo e de sua missão; salvadora de vidas feridas em sua dignidade humana. É uma missão de fé, esperança e amor. É missão profética porque confronta com estruturas iníquas que oprimem o ser humano. É missão do Reino que é eterno. Portanto, absolutamente imprescindível.
– Nossa Betesda é o CONIC (SDS) no coração de Brasília. Aqui entre tantos edifícios há funcionários públicos, trabalhadores, estudantes, artistas, intelectuais, prostitutas, travestis, drogados, mendigos, meninos e meninas de rua… Por aqui passa diariamente a cidade em multidões sedentas e famintas da Palavra de Deus. Aqui Deus nos colocou e aqui é nosso campo de batalha. Vamos após Jesus. Sem Ele seria loucura qualquer ação. Demos nossas mãos, unamos as batidas de nossos corações às batidas do coração do Senhor. Esta é uma missão comunitária, coletiva e social porque todos as soluções ou são sociais ou não são soluções. Vocês querem ir com Jesus, o Senhor do Tempo, a Betesda? Respondam: Vamos a Betesda!…
Pregado na Igreja Cristã de Brasília no domingo 10/03/2011.
Prezado pastor Júlio
Obrigado pela mensagem. Agora que descobri o site da igreja ficarei freguês.
Suas palavras me chamam a atenção para detalhes que não conhecia. Que o Deus da sabedoria continue lhe dando esta sensibilidade.
a paz!
pr. flávio (Caxias – Maranhão)