O Tempo Essencial
Por Nilson Pereira de Moura, bacharel em teologia, membro da equipe pastoral da ICB.
A Bíblia diz que há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu. Por vezes muitos tentam voltar no tempo para refazer uma caminhada deixada para trás em algum momento da vida e ao fazer isso descobre que já não é o tempo apropriado para retomá-la. É o processo da vida, um tempo certo para cada momento debaixo do céu. O texto de Eclesiastes 3:1-6 ajuda na compreensão de que tudo tem o seu tempo:
“Tudo tem uma ocasião certa, e há um tempo para todo o propósito debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de deixar de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora; tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de ficar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz“. (NVI).
Todos nós temos de viver no tempo apropriado. A criança aprende seus primeiro passos no seu tempo, os adolescentes vivem suas crises de identidades no tempo certo, jovens e adultos também vivem o que é próprio de seu tempo. Há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu para se viver o que é essencial à vida. O texto abaixo transcrito traz uma excelente contribuição para entender o que é essencial à vida. É de autoria do escritor, teólogo e pastor Ricardo Gondim e pode ser lido no livro: eu creio, mas tenho dúvidas. “Tempo que Foge” – páginas 102-3.
Esse mesmo texto tem circulado na internet como sendo do educador, escritor e teólogo Rubem Alves, por isso, na primeira versão publiquei-o como sendo do Rubem Alves, mas atendendo a observação de um leitor do sitio da Igreja Cristã de Brasília, reedito o texto fazendo correção da autoria.
“DESCOBRI QUE TEREI menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltavam poucas, passou a roer caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter à miséria do mundo.
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e se perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de ‘confrontação’, onde ‘tiramos fatos a limpo’.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou as diferentes traduções da Bíblia.
Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Gosto, e ponto final!
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar explicando se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia de Chico Buarque e de Vinicius de Moraes; a voz de Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, de Thomas Mann, de Ernest Hemingway e de José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo”.
Os textos de Eclesiastes e de Ricardo Gondim, na verdade, são a dupla face da mesma moeda – o primeiro, fala do tempo essencial de Deus – o segundo, do tempo essencial do ser humano. Na verdade, são textos complementares para se viver o que é essencial na vida e sem seus penduricalhos, deixando tudo que nos atrapalha para traz sem ficarmos fincados no passado ou consumidos por possibilidades futuras. Viva a cada minuto como se fosse o último.
Como dito inicialmente, há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu. Vivenciar momentos passados para tentar realizar coisas que ficaram pendentes é impossível. É na verdade correr atrás do vento, não é essencial. Não há mais tempo para se viver de futilidades, mediocridades, gabolices, projetos megalomaníacos, de melindres de pessoas que apesar da idade adulta continuam imaturas, ou dando mais importância aos rótulos. Quero pelo contrário, viver “ao lado de gente humana, muito humana”. É como está escrito: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Acrescenta Gondim: “Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos”. O apego ao debate por rótulos e não pelo que é essencial é perda de tempo. A busca pelo tempo passado pode causar surpresas ou até mesmo decepções, e o ser consumido pelo futuro é também desperdício de tempo. Então, apenas viva com dignidade o que é essencial na vida presente com ética sem se preocupar com os rótulos. Seja agradecido a Deus pela experiência de descobrir que o essencial é que vale a pena ser vivido.
Estamos no tempo certo, o tempo da graça de Deus como está em Ef 2,10 “Porque pela graça vocês são salvos, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom Deus”, graça manifesta na plenitude dos tempos no filho amado. Gálatas 4,4-5:
“Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque são filhos, Deus enviou ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. (B. Séc 21).
Enfim, em Eclesiastes 3,10 é dito: “Tudo que ele (Deus) fez é apropriado ao seu tempo. Também colocou a eternidade no coração do homem; mesmo assim, ele jamais chega a compreender inteiramente o que Deus fez”. É tempo da graça. O essencial é viver pela graça de Deus. O escrito na versão de Rubem Alves termina afirmando: “O essencial faz a vida valer apena”. É verdade, o que vale a pena ser vivido é o essencial. O resto é penduricalho.
A paz
Pastor Nilson Pereira, que o Senhor continue abençoando, capacitando, a cada dia de sua vida. Apreendi muito com esse sermão de muito valor.
Prezada irmã Silvania, obrigado pelo seu apoio. Ore por nós.
Graça e Paz.
Nilson Moura, pr.
A Paz, Pastor Nilson Pereira que o Senhor continue a cada dia abençoando, capacitando para sua boa obra, levando a sua palavra que é a verdade para os muitos que não conhece. Esse sermão é de muito valor