Evangelho de João – O Paráclito
EVANGELHO DE JOÃO: VIDA PARA A CIDADE – Pastor Julio Borges filho
Sermão 13 – O P A R Á C L I T O – João 14:16-23, 15:26 e 27, e 16:7-14
Introdução:
– O Evangelho de João não menciona o Evangelho da Infância, mas faz no seu prólogo uma declaração extraordinária: Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhe o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creram no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai – João 1:11-14.
– Não sou dogmático, mas creio no dogmas cristológicos do nascimento virginal, da morte vicária na cruz, da ressurreição, da ascensão, do pentecostes, e da segunda vinda. Dogmas que são negados por teólogos modernos como mitos. Um jovem discípulo que fez doutorado na Alemanha disse-me, quando estudante, não crer mais no nascimento virginal de Jesus. Eu, então, lhe expliquei que a concepção de Jesus pelo Espírito Santo na virgem Maria é importante para a nossa fé porque passamos por processo semelhante: é o Espírito Santo quem gera em nós o novo ser à semelhança de Cristo. Por isso, como afirmou Thomas Merton, só os ingênuos acreditam que a felicidade é fruto de nossos dons naturais. A salvação é um dom de Deus. Um grande amigo também não crê mais na Trindade desconhecendo que somos seres trinitários porque criados à imagem e semelhança da Trindade Santa.
– Mas como definir a ação do Espírito em nós? Jesus no-lo diz, e só o Evangelho de João registrou nos capítulos 14, 15 e 16. E é importante notar que tal ensino faz parte da última semana de Jesus na terra. Provavelmente dois dias antes de sua morte. Faz parte, pois, do Livro da Paixão (João 12-21). E é sempre bom nos lembrar que João escreveu o seu Evangelho para evangelizar a cidade grega de Éfeso, e escreveu na língua grega. Reflitamos, pois, sobre o Paráclito, a terceira pessoa da Trindade Santa, segundo o ensino do Senhor Jesus Cristo. Podemos resumir tudo em sete declarações fundamentais.
- O Espírito Santo é o outro Paráclito que estará para sempre conosco – 14:16-23
– O termo grego é parakletos, é uma palavra que não tem tradução. A versão de Cipriano de Valera (1960) traduziu como Consolador, termo enraizado, mas não é uma boa tradução porque expressa apenas consolo. Moffat o traduz como Ajudante. A Bíblia de Jerusalém escreve Paráclito. Parakletos, para os gregos, significa alguém que se chama: 1) para dar testemunho a favor de alguém num tribunal; 1) um advogado chamado para defender o acusado quando ele poderia receber uma pena grave; um conselheiro que é chamado para aconselhar numa situação difícil; alguém que é chamado quando um batalhão de soldados está deprimido e desencorajado para infundir ânimo e coragem. Em todos os casos um parakletos é alguém que se chama na hora de grande necessidade. Neste sentido a tradução O Consolador faz sentido, já que tal palavra vem da palavra latina fortis= valente. O Consolador é, pois, o Encorajador. O Espírito Santo transforma a vida derrotada em vida vitoriosa. Diante da difícil tarefa dos discípulos, só o Paráclito poderia encorajá-los.
– O termo outro merece um destaque especial. No grego há duas palavras para outro: eteron e allon. Éteron significa outro diferente (donde vem a palavra heterogênio, etc); allon significa outro da mesma qualidade. O termo usado em João é allon. Portanto, o Paráclito é da mesma qualidade de Jesus Cristo.
– …a fim de que esteja para sempre convosco. Somos morada de Deus, templos do Espírito Santo: Se alguém me ama guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.
- É o Espírito da verdade desconhecido do mundo, mas conhecido por nós porque estará em nós – 14:17-23.
– O conhecimento natural não basta
– O verdadeiro conhecimento: Deus em nós. O Reino de Deus está dentro em vós, afirmou Jesus.
- O Paráclito dará testemunho do Filho nos dando poder de também testemunhar – 15:26 e 27.
– O testemunho do Espírito – Quando dá vida ao Evangelho revelando Cristo.
– O nosso testemunho – Quando vivemos numa comunidade cristã; quando o testemunho vem do interior; e quando o testemunho falado é atestado pelo testemunho da vida. Sem o testemunho da vida o testemunho da palavra não tem valor; sem o testemunho da palavra o testemunho da vida não tem explicação.
- É vantajoso que Jesus vá porque só assim o Paráclito virá – 16:7.
– O Espírito só veio plenamente por causa dos eventos salvíficos de Jesus Cristo. É o que diz João 7:37-39. Era preciso que Cristo fosse glorificado para que o Espírito encontrasse base para ser derramado.
– Jesus poderia ser perseguido, preso, julgado, morto, mas não o Espírito. Onde o discípulos estivesse (na prisão, nas cavernas, nos lares, no trabalho, etc).
- A missão do Paráclito é tríplice: convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo – 16:8-11.
– Do pecado por não crêem em mim. Pecado no singular é incredulidade. Só o Espírito pode convencer o incrédulo a crer.
– Da justiça porque vou para meu Pai, e não me vereis mais. Jesus é o padrão ético do cristão. O objetivo da vida cristã é nos fazer semelhantes a Ele. E só através do Espírito isso é possível. O livro “Em seus passos, que faria Jesus?”
– Do juízo porque o príncipe deste mundo já está julgado. O mal não terá a última palavra. Por isso cantou Lutero: O grande acusador dos servos do Senhor, já condenado está, vencido cairá por uma só palavra.
- O Espírito da verdade nos guiará em toda verdade – 16:12 e 13.
– A revelação, por essência, é um processo progressivo. Deus se revela nos trovões e relâmpagos do Sinai, no cicio suave ouvido por Elias no Horebe, na voz dos profetas de Israel, e, finalmente, na encarnação do Verbo: Este é meu Filho amado, a Ele ouvi. Ilustração: A transfiguração de Jesus (Moisés e Elias). Agora devemos ouvir a definitiva Palavra de Deus.
– A revelação de Deus aos homens é a revelação de toda a verdade. Disse Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida… E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. E Paulo: Em Cristo estão escondidos os segredos de todo o mistério e toda a ciência. A revelação é um contínua abrir-se do significado e o sentido de Jesus Cristo. Portanto, é mais que uma verdade teológica, mas total.
– Tudo o que é revelado provém de Deus. A verdade não é um descobrimento do homem, mas um dom de Deus. Por detrás de toda verdade, está Deus. Por isso Paulo escreve: Nada podemos contra a verdade senão pela verdade…
– A revelação de Jesus Cristo é a verdade suprema. Ele, segundo o escritor aos hebreus, é a expressão exata do ser de Deus. E Paulo arremata: Nele estão contidos os tesouros de todo mistério e toda a ciência. Augusto Cury descobriu isso e está vendo milhões de livros.
- Ele glorificará o Filho – 16:14.
– O Espírito Santo não chama atenção para si mesmo, mas para Jesus Cristo. Ele me glorificará porque há de receber o que é meu e vo-lo há de anunciar.
– Ele expressará a beleza de Cristo em nós. O Reino de Deus está dentro de vós, afirmou Jesus. Hino expressivo: Que a beleza de Cristo se veja em mim, toda sua admirável pureza e amor. Ó Tu, Chama Divina, todo meu ser refina até que a beleza de Cristo se veja em mim.
Conclusão:
– A ênfase exagerada só no Espírito Santo tem trazido muitos males à espiritualidade cristã: exageros, gritarias, fanatismo, egos, personalismos, falsas visões, etc. A espiritualidade cristã tem de ser integral e trinitária: a verticalidade do Pai, a horizontalidade do Filho, e a profundidade do Espírito.
– Há uns 27 anos passei com a família por São José dos Campos para visitar um casal de ovelhas do meu primeiro pastorado: Silas e Zilda. Ele era tenente da Aeronáutica e vice-moderador da Primeira Igreja Batista da cidade. A igreja, sem pastor, estava em pavorosa por causa de duas irmãs profetisas que resolveram, em novo do Espírito Santo, confessar os pecados dos outros: adultérios e outros graves delitos. O que fazer, perguntou-me ele. Aconselhei-o a chamar as irmãs e ler para elas Mateus 18:15-20 onde Jesus orienta como se deve tratar o irmão errado, perguntando: As irmãs fizeram isso ou Jesus tem duas palavras? As irmãs, chorando, confessaram que tudo não passava de mentiras para chamar atenção para elas mesmas. E a igreja encontrou a paz.
– Para cumprirmos a missão louca (ovelhas no meio de lobos) dada por Jesus, só no poder do Espírito, o outro Consolador. É ele quem nos capacita a testemunhar, mas o poder de convencimento é só dele. Nosso poder faz das pessoas parecidas conosco mesmos (proselitismo), mas o poder do Espírito faz as pessoas parecidas com Jesus. E este é o objetivo da vida cristã e o germe de uma nova humanidade redimida.