A PONTE, peça de teatro
A PONTE, peça de teatro
Em homenagem ao diretor e ao elenco de três boas atrizes
Julio Borges Filho
Convidado por minha mulher com ingressos-cortesia dados por Fernando Guimarães, fui ao CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, assistir a peça A PONTE do dramaturgo canadense Daniel Maclvor com direção de Adriano Guimarães tendo três excelentes atrizes (Bel Kowarick, Maria Flor e Liliane Rovaris). Confesso que nem sabia o nome da peça, mas mesmo assim fui motivado pela gratuidade e por Maria Flor de quem sou um fã. Fui recompensado assim como todo o público que lotou o teatro.
A peça fala da intimidade de três irmãs – Teresa (Liliane Rovaris), Agnes (Bel Kowarick) e Luise (Maria Flor – reunidas na casa da família pela enfermidade de morte da mãe. A gente ri, emociona-se e até chora com o drama profundamente humano das três irmãs. Teresa, a mais velha, é uma freira que mora numa fazenda agrícola, mas que vai se desnudando na peça revelando suas dúvidas, interrogações e incertezas. Duas coisas a motivam: a fazenda com seus animais e a fé. Agnes é uma atriz revoltada e bêbada, vítima dos pais que a obrigaram, quando adolescente, a doar sua filhinha, mas vai se reencontrando ao reencontrar sua filha agora adolescente e grávida.
Luise, a única a permanecer na casa da mãe, é estranha e viciada em séries de televisão, profundamente religiosa, que, por ser a caçula, se acha preterida em tudo. A mãe é separada do pai e pede às filhas para visitá-lo provocando raiva em Teresa. Os monólogos das três são de uma beleza e profundidade humana apaixonante. O de Luise (Maria Flor) foi belíssimo e emocionou o público presente. Finalmente, após muita conversa, as irmãs se reencontram no lugar “A Ponte”, local predileto da mãe, e retornam à infância vendo uma menininha cavalgando nas formas de uma nuvem a caminho da busca de Julia, filhinha de Agnes, para morar com elas. É tronando-se criança que nos reencontramos.
Deixei o CCBB meditando na vida e sua profundidade. Nós podemos julgar ninguém porque não conhecemos seus dramas e contextos. Como Teresa, em seu monólogo, confessa que é simples e claro se ligar com os animais, mas com seres humanos devemos ficar abertos ao imprevisível. Eu, um pastor de gente, nunca me canso de surpreender com as pessoas. É triste constatar que muitos querem rotular as pessoas sem levar em conta suas individualidades. Reflexões como a da peça são necessárias para a recuperação de nossa humanidade. Jesus, quando andou por aqui, não julgava ninguém, mas condenava os hipócritas e moralistas da época que impunham pesadas cargas aos outros e eles mesmos não as levavam. A desumanidade, os preconceitos e a moralidade que condena têm de ser denunciados como nocivos ao ser humano.
Vale a pena assistir à peça numa época em que precisamos de pontes que unam as pessoas e as famílias. A bela canção de Paul Simon & Garfunkel, “Os sons do silêncio” que inspira a peça, incentiva-nos a enfrentar a escuridão da alma na estrada da existência.