A S R I V A I S , peça de teatro
A S R I V A I S , peça de teatro
Julio Borges Filho
Confesso que fui assistir AS RIVAIS para agradar minha esposa que cuida da técnica vocal da peça teatral exibida do Teatro Sílvio Barbato no SESC do SCS, mas fui agraciado com uma excelente atuação dos cinco atores com destaque para Maria Eleide Moreira a quem considero a melhor atriz de Brasília. Eu, acompanhado de minha esposa e minha filha, gostamos muito, rimos e nos emocionamos com a comédia pernambucana que se inspira no cordel e no realismo nordestino.
A peça tem direção de José Hernandes e, além de Maria Eleide (Umbelina), conta com os seguintes atores: Madelon Cabral (A Morte), Clara Camarano (Nossa Senhora das Dores), Lucas Lima (filho de Umbelina e Anjo da Guarda), e Genice Barego (anjo da Guarda).
Umbelina Maria das Dores é uma nordestina arretada que pariu nove filhos, e ficou apenas com o último em que ela deposita o sonho de eternizá-lo como personagem de Cordel porque, segundo ela, as palavras são eternas. Os outros filhos a Morte levou, vítimas da crupe. Abandonada pelo marido, Zé da Catingueira, antes do nascimento de seu último filho, sua raiva vai para a mulher que o arrancou dela que é sua primeira rival. Por isso ela plantou espinhos no caminho por onde os amantes partiram. Seu sítio, portanto, é o Sítio dos Espinhos no Vale da Misericórdia. Ela está muito doente e enfrenta a Morte que vem o seu encontro. O diálogo entre ambas é cheio de humor e filosofia e ela torna-se famosa por desafiar a Morte fazendo um trato com ela. Esta só a levaria após a concretização de seu sonho.
Seu filho, José Maria do Ventre Jesus, quer construir seu próprio caminho. Quando ele sai de casa, ela e descobre que sua rival é a Vida que o levou. É curada de sua enfermidade pelos anjos da guarda de Nossa Senhora das Dores que vem confortá-la e ela mata a sede dela e dos anjos com refresco de aluá (feito da casca do abacaxi). Aliás, na recepção tomei o gostoso refresco. Só, clama pela Morte. Esta vem ao seu chamado, mas diz que é uma mulher de palavra: vai cumprir o trato e aconselha: “As palavras são eternas, mas as histórias de cada vida pertence ao destino, e só os poetas podem ver”. Assim ela se entrega ao destino e decide viajar a Juazeiro do Norte para viver entre os heróis do cordel pois sua vida é um folheto. Sua terceira rival é a solidão.
Como nordestino me deliciei com o imaginário, com a linguagem autêntica e poética, com o sofrimento e a alegria de Umbelina. Todos os atores são excelentes, mas Maria Eleide Moreira dá um show. É uma atriz completa. Retornei leve para casa porque a vida pode ser pesada, mas, se levada com humor, torna-se leve. A mulher nordestina é forte e guerreira.