AINDA ESTOU AQUI – O filme
Assisti com minha esposa em novembro de 2024, no Cine Cultura Liberty Mall, o filme “Ainda Estou Aqui” de Walter Salles, mas só agora escrevo sobre ele por causa de um pedido de um precioso amigo. É a história autobiográfica de Marcelo Rubens Paiva sobre sua mãe Eunice Paiva depois que seu esposo Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, foi preso e desapareceu no auge da ditadura Militar no Brasil em 1971. Eunice Paiva, encarnada na atriz Fernanda Torres, é advogada que, em consequência de sua dor, tornou-se militante política e, no final da vida, já com Alzheimer, vivida na imortal atriz Fernanda Montenegro.
Eunice Paiva é corajosa e decidida e, por isso mesmo, a ditadura a prendeu juntamente com sua filha adolescente Eliane Paiva. Preocupação dupla com o marido e sua filha. Não se intimida, porém, luta até que o Estado lhe entrega a certidão de óbito do esposo. Impressionou-me o desemprenho dos atores, de um modo especial das duas Fernandas, filha e mãe. Elas são perfeitas nos simples gestos.
O filme torna viva a memória do auge dos anos de chumbo. Lembrei-me de meu saudoso irmão caçula perseguido e caçado na mesma época. Daí a minha emoção ser dobrada. Três lições se destacam: A primeira é que preciso aceitar a dor da perda para superá-la, a segunda é que não podemos aceitado calados a voz da injustiça e do arbítrio, e a terceira é que é importante recordar o passado ruim para não repeti-lo no futuro. Todo brasileiro deveria assisti-lo, especialmente aqueles que pediram a volta da ditadura militar sob a tutela de um homem que não sabe governar nem a si mesmo, para sentir na pele o que é a ausência de liberdade e o império da força bruta e desumana.
O filme foi estreado no Festival de Veneza em setembro deste ano e aplaudido por dez minutos pelo público e com aclamação pela atuação de Fernanda Torres, e recebeu o prêmio de melhor roteiro. A Academia Brasileira de Cinema o escolheu para representar o Brasil no Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. Vamos torcer para que ele seja o escolhido.
Brasília, 29 de dezembro de 2024
Julio Borges de Macedo Filho