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As Bases da nova igreja

Texto base: At. 2:1-11

 

1 – Contextualização

Jesus morreu. E com sua morte parece que todo o sonho morreu junto. A esperança de um reino onde a glória de Israel fosse restaurada, onde não houvesse fome (Jesus multiplicou comida), onde não haveria doenças (Jesus curou todo tipo de doenças), onde não haveria morte (Jesus ressuscitou mortos), morreu junto com Ele na cruz. E agora? Não dá para imaginar o sentimento de frustração, solidão e abandono que tomou conta dos seus seguidores.

Mas de repente vem a notícia. Ele está vivo. Apareceu para alguns. A notícia provocou o roteiro natural a toda notícia como essa: descrença, exigência de provas, surpresa, deslumbramento, confusão. E agora? Qual o próximo passo?

Mas da mesma maneira que voltou, Ele partiu novamente. Ascendeu aos céus. É claro que o sentimento agora é outro. Não é mais de abandono e solidão. Jesus venceu a morte. Seu poder é maior que tudo. Mas Ele se foi novamente. E agora? A dúvida e confusão continuaram. Não houve ainda tempo para se assimilar tudo que havia acontecido em tão pouco tempo.

Jesus vai mas promete o Espírito Santo que daria todo o apoio e direcionamento necessário. Em meio a todo esse turbilhão de sentimentos e informações, os discípulos se reúnem para buscarem a vontade de Deus e entender o que deveria ser feito.

Numa dessas reuniões o Espírito Santo se manifesta e enche a casa onde estavam reunidos. Nesse momento os que estavam presentes começam a falar em outras línguas, “segundo o Espírito lhes concedia que falassem.”

Ao mesmo tempo na cidade toda homens piedosos ouviram aquela voz, cada um na sua própria língua, os orientando. Todos se dirigiram ao mesmo lugar, provavelmente não a casa onde os discípulos estavam, pois não caberiam todos.

Essa reunião marcou o início da Igreja e definiu algumas de suas estratégias. Jesus lançou, mostrou e viveu os valores do Reino. Agora estava lançada a base da Igreja, que deveria ser o corpo que abrigaria a todos que o aceitassem como razão de suas vidas.

Os princípios e regras gerais para a existência dessa comunidade deveriam ficar muito claros desde o começo.

 

2 – As bases da nova comunidade

Em primeiro lugar fica claro que quem chamou e lançou as bases foi o próprio Deus, através do Espírito Santo. Quem veio, veio porque foi atraído pela voz do Espírito, não por uma convocação dos discípulos. A nova comunidade tem o aval de Deus.

Outra característica importante daquela primeira reunião foi o fato de que todos ouviam em sua própria língua. O que isso quer dizer? O que Deus estava querendo dizer e ensinar com isso?

Gostaria de destacar 3 princípios implícitos nesse fato e que, creio, Deus estava querendo colocar como princípios básicos da Igreja:

 

1 –  A igreja não deveria ter problemas de comunicação. É claro que o primeiro obstáculo, e o mais óbvio, que o fato de todos ouvirem em sua própria língua, veio superar foi o problema da comunicação. Não haveria necessidade de intérpretes. Na igreja Deus falaria diretamente ao homem. Os interessados teriam constantemente acesso e canal aberto de comunicação. Não haveria mais necessidade de intermediários. A rasgadura do véu do templo no momento da morte de Cristo significou isso. O acesso a Deus estava liberado a todos. Os códigos e símbolos da conversa entre Deus e seus filhos não precisariam mais ser interpretados. Eu falo, Deus ouve, entende e responde. Eu ouço e entendo a resposta. Simples assim.

E no Pentecoste Deus não deu entendimento para que todos tivessem condições de entender a mensagem falada pelos discípulos. Não. Cada um ouviu e entendeu a mensagem segundo a sua língua, seus códigos e chaves de entendimento. A mensagem não desafiou os homens ao entendimento, ela foi ao encontro da capacidade de entendimento de cada um.

 

2 – A mensagem adaptou-se à cultura de cada um. O fato de cada um ouvir em sua própria língua não se limitou apenas à linguagem, a se ter um dicionário comum, mas o entendimento da mensagem se dava de acordo com os valores culturais de cada um. A mensagem teve o mesmo peso para cada um, apesar da bagagem cultural de cada um ser diferente. Os desafios apresentados significavam o mesmo para cada um. Apesar de serem todos judeus, a proposta “transcultural” de Deus era clara. Porém nem todos entenderam. O peso da visão hegemônica da cultura judaica era tanta que alguns interpretaram a diversidade cultural como fruto de embriaguês.

 

3 – O Evangelho é universal. Esse talvez  fosse o princípio mais revolucionário e difícil de ser aceito pelos judeus. Representava uma quebra radical de paradigma. A salvação e o Reino dos céus não eram propriedade exclusiva dos judeus. Deus não era exclusivo dos judeus. Os próprios discípulos só vieram a entender a dimensão e o alcance desse princípio com o episódio de Pedro e Cornélio, narrado em Atos 10.

O Evangelho de Jesus Cristo é uma opção de vida real e  possível em qualquer tipo de cultura. Também as tensões e confrontos do evangelho com a cultura se dão em todas as culturas. Se formos analisar friamente as exigências de estilo de vida que o Reino exige em confronto com os valores culturais estabelecidos vamos constatar que, provavelmente, todas as culturas serão desafiadas igualmente. Muitas das dificuldades que vemos em culturas diferentes das nossas são na realidade diferenças entre as culturas e não entre o evangelho e a cultura.

 

3 – Conclusão

Como igreja e como disseminadores do evangelho devmos estar atento a essas questões: Nossa mensagem é clara? Todos que ouvem entendem claramente o que estamos falando? Usamos a mesma linguagem de nossos interlocutores ou exigimos que, ao conversar sobre o evangelho, as pessoas adquiram um vocabulário diferente ou entendam as palavras com significados próprios que somente os “iniciados “ entendem?

O Evangelho que pregamos se apresenta como uma alternativa de vida para a cultura onde estamos inseridos? Aproveita e respeita seus valores, ou significa uma ruptura e a adesão a valores de culturas estrangeiras?

E, por fim, nossa proposta de evangelho é universal? Apresenta-se com o mesmo grau de desafio a todos, ou é exclusivista, deixa naturalmente algumas pessoas de fora, por causa de seus valores ou condições de vida?

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