As Confissões
AS CONFISSÕES
Filme “As Confissões (Le confissioni, Itália/França, 2016, de Roberto Andò)
Julio Borges Filho
Assisti hoje, 16 de novembro de 2016, o filme As Confissões que um precioso amigo jornalista me recomendou. É um filme raro sobre a economia mundial e sobre como as decisões são tomadas no mundo.
O Diretor Geral do FMI – Fundo Monetário Internacional, convoca uma reunião de cúpula dos ministros da economia do G8, as oito principais economias do mundo, para ultimarem um plano secreto para salvar o mundo da crise econômica. Curiosamente ele convida uma famosa escritora de livros infantis e um frade, também escritor de uma ordem católica do silencio. Tudo acontece num hotel na Alemanha num lugar paradisíaco cujo dono, um homem muito rico, era demente e se esqueceu de tudo, inclusive das senhas de suas contas bancárias.
O filme é um sermão sobre como as coisas acontecem no mundo numa economia sem coração cujos planos anticrises sempre começam prejudicando os mais fracos. Por isso os países mais pobres do mundo devem pagar as contas dos mais ricos. O diretor do FMI, um rico banqueiro, convidou o frade porque queria se confessar em busca de perdão. E logo após sua confissão de horas, suicida-se ou é assassinado. O frade torna-se a caixa preta dele e é ameaçado de morte porque os oito ministros não querem que o plano secreto seja revelado o que causaria um caos nos mercados em todo mundo. Daí pra frente é um suspense atrás de outro, mas o frade conta com o apoio da escritora. Durante a trama fica desmascarado o mal econômico do mundo.
O frade, que também já havia sido um matemático, representa a espiritualidade humana, a justiça, a piedade, o julgamento de Deus, e uma nova proposta de uma ordem mundial. Diante de uma equação que não significava nada, os ministros se dividem e o plano é cancelado. Os ministros mais sensíveis eram o italiano e a ministra do Canadá, mas todos vazios e infelizes. São forçados a comunicar, em fim, o suicídio do banqueiro, e na cerimônia fúnebre o sermão do frade é implacável. Usando textos do livro de Isaias e palavras de Jesus sobre o acúmulo egoísta de bens e sua condenação aos escribas e fariseus de que eles pagaram todos os tributos, mas desprezavam a justiça e a misericórdia. Uma condenação dura ao capitalismo concentrador de renda e provocador de desigualdades.
Uma piada contada pelo diretor do FMI, antes de sua morte, à ministra canadense, resume tudo. Um homem muito rico precisava de um transplante de coração. Os médicos lhe oferecem um coração de uma criança, e ele rejeitou dizendo que era muito jovem. Ofereceram-lhe um coração de um homem de meia idade e ela também o rejeitou. Finalmente, oferecem o coração de um banqueiro de 70 anos e ele o aceitou. Os médicos perguntaram: “Por que?” A resposta: “Porque é um coração que nunca foi usado.” Tal sarcasmo cai bem para os banqueiros que acumulam trilhões de dólares e cuja ambição acumulativa não tem limites, e tudo às custas das pessoas mais vulneráveis do mundo.
Saí do cinema pensativo sobre a economia do Brasil. Vem aí planos anticrise, e imaginem por onde vão começar? Pelos ricos? Não!… Pelos pobres e trabalhadores. Esta é a justiça humana de nossos economistas de plantão, de políticos e dos bancos e da mídia que os servem. Bem, só Deus para fazer os homens verem os erros que cometem vitimando os inocentes. Isso é essencial para se ver além das notícias publicadas diariamente. A própria justiça humana é casuística. Vejam os bilhões aplicados ilegalmente no exterior e que estão agora sendo repatriados. São dos pobres. É claro que não. A desigualdade do Brasil clama aos céus.
As riquezas que não se perdem são as riquezas do espírito, da piedade e de uma verdadeira humanidade em Cristo. “O mundo jaz no maligno” é o veredicto bíblico, mas tudo um dia será finalmente julgado justamente. “Nós esperamos novo céu e nova terra nos quais habitam justiça”.
Não percam esse filme. É raro e necessário.
(Artigo recuperado – Novembro de 2016)