CRISE DE CREDIBILIDADE (1): PERTURBANDO E CONSOLANDO
CRISE DE CREDIBILIDADE (1): PERTURBANDO E CONSOLANDO
Julio Borges Filho
Decidi, na reta final de minha vida, optar por três coisas essenciais: pastorear graciosamente, escrever apaixonadamente, e viver alegremente. Tenho feito isso, não tanto como gostaria, mas sem desviar.
Ao completar 70 anos deixei o pastorado formal, passei o pastorado de minha igreja para um bom pastor mais jovem, e, buscado inspiração para escrever, já tenho cinco livros prontos e ainda estou grávido de sete outros nas seguintes áreas: poesia, memorial, sermões e romance. Tenho de pari-los para não morrer de parto. O projeto para o memorial é aproveitar a minha ainda boa memória para resgatar o meu testemunho histórico do Brasil desde a minha infância, vocação, educação, pastorados, e ter sido também uma testemunha histórica do Brasil nas últimas sete décadas. E isso inclui o tempo de chumbo com a ditadura militar, o retorno às liberdades democráticas, e a atual e também escura realidade. E como Drummond, nosso poeta maior, sou também “gauche na vida”. Portanto, não sou senhor da verdade, porque conheço em parte (1 Co 13:12). Minha visão não é a de um cientista político ou de um historiador, mas de um simples profeta, e “não havendo profecia o povo se corrompe” (Provérbios 29:18).
Como pastor, pregador e professor sempre fui um provocador porque descobri que só os transgressores mudam a realidade, e isso como uma verdade bíblica comprovada pela história da humanidade. Os acomodados e omissos nada mudam. No Seminário, em Recife, nossa turma marcou época e nosso discurso de formatura “Novos rumos para a Igreja” (pronunciado por mim e escrito por mim, Djalma Torres e Josafar Nascimento) permanece atual. Já no meu primeiro pastorado nas Alagoas fui o primeiro pastor batista a batizar amasiados numa época que não existia divórcio, a consagrar diaconisas em todas as igrejas que pastoreei, a receber membros de outras igrejas não batistas sem rebatizá-los, e a ordenar uma mulher ao Ministério Pastoral, etc. Recebi uma oposição dura de meus colegas pastores pelas novidades, mas venci sem muitos obstáculos e nenhuma briga. Estar na vanguarda e sempre provocar amorosamente as pessoas é meu método de mudança. Logo na primeira aula de uma nova turma na Faculdade Teológica Batista de Brasília, dizia aos devotos alunos: “Minha missão como professor é confortar os perturbados e perturbar os confortados.” A abertura de mente passava pelo choque. Por isso me alegro quando recebo uma mensagem: “Estou chorado(a)”.
Todos que me conhecem sabem que sou um pastor amoroso que, ao longo dos meus 49 de pastorado, nunca discriminei ou manipulei ninguém, mas a todos tratei com amor e respeito, até mesmo os que me criticavam, mas sempre tive uma atenção especial pelos mais pobres, humildes e machucados na vida. Tanto que não sei o que é inimigos e nunca guardei rancores em meu coração. Nunca vivi iludido com as perspectivas boas sobre mim dos bondosos rebanhos. Por isso não sei o que é depressão que tem vitimado muitos colegas. Aqui, em minha página no facebook, tenho uma diversidade de amigos que vai da esquerda à extrema direita, mas todos são preciosos amigos e respeito suas opiniões. Só não tolero a intolerância. Por isso peço que respeitem as opiniões dos outros.
Finalmente, considero-me um anarquista no bom sentido da palavra: não absolutizo nada (pessoas, partidos políticos, ideologias, governos, sistemas humanos. etc). Idolatria, já dizia Paul Tillich, o maior teólogo do século 20, “é a absolutização do finito”. Minha luta nunca é contra pessoas porque todos somos pecadores, mas contra “os principados e potestades… e “contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes” (Ef 6:12), isto é, contra os sistemas perversos que oprimem e escravizam pessoas, especialmente os mais pobres e excluídos. O diagnóstico bíblico é devastador: “O mundo inteiro jaz no maligno” ( 1 Jo 5:19). Só Deus é absoluto e merece todo louvor e adoração e os ideais do Reino de Deus de justiça, alegria e paz (Rm 14:17) me satisfazem. Seguindo, pois, os passos do Seu Filho Jesus Cristo, meu único Senhor, vou provocá-los sobre a crise de credibilidade que vivemos em nosso querido Brasil em todas as áreas, e pedir a vocês que me ajudem a escrever meu livro de memória do atual momento que vivemos. O povo tem memória curta. Prometo chumbo grosso a seguir, mas por pouco tempo para não cansar meus amigos, e sintam à vontade para compartilhar e criticar.