LAÉCIO E AMÉLIA
Em memória de Laécio Barros transferido da terra para o céu em 17.03.2022
Quando cheguei a Brasília, em junho de 1979, para assumir o pastorado da Terceira Igreja Batista do Plano Piloto, hoje, Igreja Batista Capital, o que mais me acolheu foi a bela e a simpática presença de um casal, entre outros: Laécio e Amélia Barros. Convivi com eles por dez anos e construímos ligações eternas de amizade, não apenas pela boa relação pastor-ovelhas, mas porque consagrei-os ao diaconato, e celebrei os casamentos dos três maravilhosos filhos: Laécio Jr com Aldinha, Marcelo com Karla e Márcia com João. A alegre e dinâmica mocidade da igreja era terreno fértil para bons e felizes casamentos.
O casal construiu uma família linda, ajustada e integrada na igreja. Sim, porque a memória do justo é abençoada, como diz o Provérbio 10:7. Andavam sempre juntos e sempre alegres e dedicados à Causa Santa. Eles, ainda hoje, quando ele já passa dos 80 anos, formam o casal mais harmonioso e mais bonito que vi ao longo de todo o meu ministério. Um dia, visitando o amado casal, constatei isso. Enquanto Amélia, como uma Marta, andava de um lado para outro providenciando o lanche, Laécio, sentando numa cadeira de papai, disse-me feliz: “Minha maior alegria é sentar nesta cadeira e ver Amélia passando de um lado para outro.” Captei nestas simples palavras um amor conjugal maduro, cheio de alegria, paz, felicidade e encanto. Ele se declara a ela no seu aniversário de 19 de maio de 1990 com o seguinte verso:
Conquistou meu coração
E me levou de vencida.
Tornou-se, sim, é verdade,
O amor de minha vida.
E ela me confessou no almoço comemorativo dos 80 anos dele em julho de 2015: “Quando o vi pela primeira vez, botei os olhos nele e disse: É ele. E meu amor por ele continua o mesmo hoje desde aquele dia”
Por incrível que pareça, só recentemente soube que o casal perdeu, ainda pequenina, sua primeira filha Eliane. Esta traumática dor os uniu ainda mais a mim e a Gil que perdemos a mais de 19 anos um amado filho.
Recordo-me de momentos gostosos na igreja com tiradas bem humoradas de Laécio a quem defino com a palavragrega mais usada no NT, kalos que significa “beleza simpática, bom, caloroso.. Cito alguns momentos.
1º) Estávamos iniciando a construção do templo da EQN 407/408, em Brasília. O templo provisório era um barraco cheio de colunas já destruído. As pessoas precisavam se contorcer, dependendo do lugar onde estavam sentadas, para ver o que acontecia na frente. Laécio, diretor da Escola Bíblica Dominical, saiu com esta joia de fino humor: “Sei que muitos dos irmãos sofrem de problema de coluna. Mas tudo está preparado para a construção. Temos Brita lá fora, Brito aqui dentro.” Era uma alusão ao saudoso irmão Elso Brito, regente do Coral Mensagem na época. Estava iniciada a memorável campanha do “Basta…”
2º) A igreja comemorava meu aniversário no dia 26 de novembro. Curiosamente o zelador da igreja, Xavier, fazia aniversário no mesmo dia e também fazia a festa. Laécio, dirigindo a festa, saiu com esta: “Antes de sair de casa pensei comigo mesmo: E se o pastor Julio não vier? E se o Xa-vier?”
3º) Era domingo de carnaval. Laécio era o diretor da EBD, e no encerramento da escola comentou: “Agora cada um dos irmãos vai para seu bloco.”
4º) Marquei com o querido casal de diáconos uma visita a um jovem da igreja acidentado num jogo de futebol. O jovem chamado Eugênio era atacante do time da igreja, e na ânsia de fazer um gol deu um carrinho e chocou-se com a trave do campo de pernas apertas. Foi levado imediatamente para o Hospital Santa Luzia e teve de ser operado. Subi no apartamento onde moravam na SQN 308 para pegá-los. Ao sair o nosso diáconos avisou pros filhos: “Crianças, não se preocupem se demorarmos. Eu, Amélia e o pastor vamos a uma boate.” A risada foi geral. Quando entramos no quarto do hospital para visitar o jovem recém operado, Laécio o saudou alegremente: “Eugênio, você está de-pau-perado”. O jovem, que estava noivo, sorriu alegremente. Lembro-me que, também sorrindo, eu comentei: “Acho que a palavra ‘depauperado’ tem sua origem nisso mesmo.”
5º) Após as homenagens prestadas a ele e a ela no almoço dos 80 anos no domingo 13 de julho de 2015, na bela casa de Laecinho e Aldinha, foi agradecer dizendo que seria suscinto para não atrasar o almoço e disse: “Não me recordo do homem que evangelizou Moody, o grande evangelista norte-americano. Mas ele se aproximou de Moody e disse “Moody”, e Moody mudou.”
São tantas as boas lembranças que trago em minha mente e coração do amado casal: os versos de Láecio bem rimados nos meus aniversários, o apoio ao seu pastor em todos os momentos, a consagração ao diaconato deles e de outros num culto belíssimo, o casamento dos filhos, suas bodas de prata não comemoradas, mas lembradas por mim em pleno culto, a consagração a Deus e à igreja. Após deixar definitivamente o pastorado da Terceira Igreja em 22 de fevereiro de 1989, pouco nos encontramos. Eles peregrinaram pelo Rio e, finalmente, fixaram residência em Uberaba-MG onde mora sua filha caçula. Quando soube em 2013 que Laécio iria se operar no Hospital das Forças Armadas, fui visitá-lo com Gil, minha esposa. Lá estava a mulher de verdade, Amélia, a seu lado. A alegria do reencontro foi imensa, e ele, mesmo no leito, estava bem humorado e com ânimo e fé vigorados. Depois da cirurgia eu e Gil os visitamos mais duas vezes na casa de Laecinho e Aldinha. Na festa do cinquentão Laecinho, eu os vi mais uma vez e, desta vez, com a família toda reunida acrescida de netos.
No almoço de comemoração dos 80 anos de Laécio (13 de julho de 2015), fui lembrado e convidado pelo seu primogênito para falar um pouco sobre ele. Aceitei o encargo com alegria. Lembrei-me do livro que estou escrevendo sobre meus heróis e heroínas da fé ao longo do meu ministério de quase 47 anos. VIDAS PERFUMADAS é o nome do livro inspirado no jantar oferecido a Jesus pelos irmãos de Betânia à véspera de sua crucificação conforme registra João 12. Resolvi escrever esta crônica que, acrescida dos dados que me foram entregues por Amélia, será um dos capítulos. Laécio e Amélia são meus heróis da fé, vidas perfumadas que levam o perfume de Cristo por onde andam, colunas da igreja, exemplos para uma igreja que glorifica falsos heróis. Meus heróis e heroínas são pessoas concretas, verdadeiras e simples como eles que como velas vão se consumindo alumiando outros. Que Deus os conserve conosco por muitos anos, sempre juntos, sempre belos e alegres. Separá-los, jamais. Eles estão unidos por Deus no tempo e na eternidade.
Laécio Barros nasceu em 05.07.1935 e, ele sempre dizia com humor e orgulho que ele e Roberto Carlos nasceram em Cachoeiro do Itapemirim, e nos deixou em 17.03.2022 com pouco menos de 87 anos. Seus últimos anos fora perseguidos, como os do Apóstolo Paulo, com quase total cegueira, o que o abateu grandemente. Agora deixou seu céu temporário ao lado da irmã Amélia, filhos, noras, netos e bisnetos para viver no céu eterno ao lado de Jesus Cristo e de uma multidão incontável de irmãos. João, seu amado genro, o precedeu. Imagino Jesus, de pé, recebendo-o: “Muito bem, servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” – Mateus 25:21.
O culto de gratidão pela sua vida aconteceu na sexta-feira 18.03,2022, no templo do Campus Norte da Igreja Capital, às 15 horas, e durou uma hora meia com um roteiro simples: Uma palavra de acolhida com oração de gratidão pelo Pastor da Igreja Batista Capital Gilberto; cântico congregacional “Precioso é Jesus” dirigido por um grupo de louvor da igreja; reflexão por mim e o Pastor Mateus, ex-pastores da família e da igreja; hino “Porque Ele vive”; palavra da família com a direção de Laécio Jr, o neto Victor, Carlos Alberto, e Amélia que nos surpreendeu com palavras firmes, saudosas e amorosas; palavra e oração pelo Pr, Felipe da 2º IB de Uberaba, igreja atual do casal; e cântico congregacional enquanto o corpo era retirado para cremação. Foi uma celebração alegre e bem humorada parecida com Laécio Barros.
Finalmente, ofereço ao amado casal um soneto comemorativo dos 80 anos dele:
O CASAL MILHÃO
Para Laécio e Amélia
Casal 20 é bem pouco para um casal exemplar.
Casal 1000 chega mais perto para o qualificar.
Para um casal lindo e alegre esta nota é pouco,
Casal milhão seria melhor, e eu não sou louco.
Ao chamar um se é obrigado ao outro chamar,
Pois eles estão muito ligados pelo verbo amar.
A harmonia, a paz e a alegria moram com eles,
E este bom legado foi passado aos filhos deles.
Hoje ele completa ao lado dela oitenta anos,
Uma vida feliz, venturosa e sem desenganos,
Pois eles se uniram no tempo e na eternidade.
Deus do seu trono lá céu sorri para seus filhos
Que vivem o céu na terra sem sair dos trilhos,
Deixando bom exemplo para qualquer idade.
Brasília, 06.07.2015
Pastor Julio Borges Filho