MERCEDES SOSA VIVE
MERCEDES SOSA VIVE
Julio Borges Filho
Ontem, 04 de abril de 2019, vivi momentos de imenso prazer que me foi proporcionado pela boa música. Convidado por um amigo, Edgar Fagundes, fui, com minha esposa e ainda convidei outras pessoas amigas, ao show das Merceditas “Tributo a Mercedes Sosa”. Aconteceu no Teatro Galpão do Centro Cultural Renato Russo na famosa W3 Sul aqui em Brasília. Uma hora e meia de música latino americana da inesquecível cantora.
Minha paixão por Mercedes Sosa começou a uns 40 anos quando em visita a São Paulo minha irmã mais velha, Enir, apresentou-me um LP da cantora com a “Cantata Sul Americana”. Gravei tudo numa fita K7 e trouxe a voz inesquecível para dentro de minha casa e de meu carro. Criei meus filhos com música latina e brasileira. Um dia, passando por Salvador, hospedei-me na casa do coronel do exército Sóstenes Nogueira, amigo,e diácono da Igreja Batista da Graça. Ele me pediu a fita para tirar uma cópia e morreu tragicamente num desastre automobilístico. Assim perdi a fita. Só agora reencontrei a cantata revolucionária no Youtube e me deliciei de novo ouvindo-a. Acho que nos anos 80 do século passado ela veio a Brasília e cantou no Teatro Vila Lobos lotado e eu estava lá. Ela e um violonista apenas. Sentada ela cantava sem nenhum gesto, apenas “a voz dos sem voz” nos encantava. Seu sentido de vida era este: “Eu nasci para cantar, minha vida é dedicada a cantar…” Mesmo idosa e doente, cantava, pois era a voz da América Latina. Morreu aos 74 anos, mas vive e sua voz ecoa eternamente pelo universo. Ontem As Merceditas reascendeu em mim e no auditório lotado as canções de “La Negra”, como a cantora era chamada pelos seus fãs devido à sua ascendência ameríndia.
As Merceditas, comprometidas com o Movimento Nova Canção, inspira-se em Mercedes Sosa. É um quarteto vocal e instrumental com os seguintes membros: Eleni Fagundes, Ednea Fagundes, Eliane Timm e Eulália Augusta, tendo Edgar Fagundes acompanhando no acordeão e na gaita de boca. Outros instrumentos são tocados pelo quarteto: violão, tambor, chorão, etc. Afinadas, elas encantaram a todos com 18 músicas do repertório da cantora argentina. Destaques para “Volver aos 17”, “Gracias a La Vita”, “Eu tenho tantos irmãos”, “So le Pido a Deus”, “Te Recordo Amanda”, “Negrita” e “Maria, Maria” (com a cantora venezuelana Damares Castilho. Excelentes vozes, mas Eliane Timm me fascinou pelos recursos vocais e presença de palco. Cantaram no castelhano impecável da musa inspiradora. Um show inesquecível.
Para concluir, deixou a versão em português de “So le Pido a Dios”, a oração comprometida e encarnada da famosa cantora:
Só peço a Deus
Só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a ressequida morte não me encontre
Vazia e só sem haver feito o suficiente
Só peço a Deus
Que o injusto não me seja indiferente
Que não me esbofeteiem a outra bochecha
Depois que uma garra me aranhou esta sorte
Só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um grande monstro e pisa forte
Toda a pobre inocência do povo
Só peço a Deus
Que o engano não me seja indiferente
Se um traidor pode mais que alguns
Que esses alguns não o esqueçam facilmente
Só peço a Deus
Que o futuro não me seja indiferente
Despejado está o que tem que caminhar
A viver uma cultura diferente
Só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um grande monstro e pisa forte
Toda a pobre inocência do povo