O IRMÃO MAIS IRMÃO
O IRMÃO MAIS IRMÃO
Em memória de Alvimar Guerra de Macedo
Acordei hoje achando que estivesse acordando da sesta após o almoço. Achei tudo estranho. Olhei o celular, e eis três chamadas de zap e um áudio de minha cunhada Marieci entre 03:14 e 3:30 hs. Ela chorava no áudio dizendo: “Julinho, pelo amor de Deus, Julinho, pelo amor de Deus, ore por Alvimar. Nós estamos na emergência do hospital Brasília. Ele não está bem, Julinho, por amor de Deus. Eu já liguei para tanta gente e ninguém me atende. Tem misericórdia, Jesus!. Peça ao Senhor, você que tem o dom da oração, da intercessão, reze por Alvimar. Ele está com insuficiência respiratória. Reze, Julinho, me ajude por amor de Deus”. E ela terminou seu clamor ofegante. Telefonei às 7 horas, e ela, agora calma, me disse: “Alvimar partiu. Bertrand está aqui comigo e eu não avisei a ninguém. Avise a Delile e a Carlyle…” Um sentimento profundo de perda e omissão porque, estando dormindo com o telefone no silencioso, não pude atender os rogos de minha amada cunhada num momento dramático de sua vida. Alvimar foi irmão mais que irmão que sempre atendeu a sua família prontamente como médico, além de ter uma profunda sensibilidade social para atender todas as pessoas, especialmente os pobres de Curimatá e parentes, no hospital de Base de Brasília.
Alvimar, partiu aos 82 anos comemorados com um belo jantar à base de carneiro, no dia 20 de junho, preparado pelas mãos habilidosas de sua esposa, cercado de dois filhos e seus irmãos Delile, Carlyle, Lair e eu. Estava feliz e queria, na hora do bolo, que Marieci e todos os irmãos falassem. Ele falou emocionado dizendo que na vida colocou em prática o precioso ensinamento de mamãe de amar o próximo com a nós mesmos. Não tiramos nenhuma foto nesse seu jantar de despedida. Ele era o mais sensível e emotivo de todos nós. Chorava sempre quando eu lhe contava a história de Pedro Bloch sobre um menino que preocupava aos pais porque, em tudo, achava que o irmãozinho dele era melhor. Os pais o levaram ao grande psicólogo infantil. Ele lhe perguntou: “Você é bonito?”. Resposta: “Sou, mais você precisa ver meu irmão. É muito mais bonito do que eu.” O psicólogo insiste: “Você é inteligente?”. Resposta do menino: “Sou, mas meu irmão é bem mais inteligente”. Após umas 15 perguntas com as mesmas respostas, Pedro Bloch, já impaciente, perguntou: “Escuta, mocinho, existe alguma coisa na qual você é melhor do que seu irmão?” O menino prontamente responde: “Eu sou mais irmão.” E eu arrematava: “Alvimar é mais irmão”. E ele chorava emocionado.
Contei esta história no sermão do seu casamento com Marieci que eu tive o privilégio de celebrar. Ele era mais irmão porque o seu amor pela sua família não tinha limite: Era mais filho, mais irmão, mais pai, mais esposo, mais avô (de Isabella, Giovanna, Henrique e Helena), mais tio, mais amigo, mais humano. Depois que papai morreu repentinamente, ele ficou com sentimento de culpa porque não deu, como médico, mais atenção a ele. Aí cuidava de mamãe com carinho ao lado de Estelita, minha saudosa irmã. Ele é que me comunicou a morte de Alírio e de Estelita em desastres automobilísticos. Cuidou de sua primeira sogra, D. Lizete, cuidou de Edna, sua primeira esposa e mãe de seus três filhos (Viviane Stella, Alvimar Bertrand e Frederico) com uma dedicação extrema. Sofreu muito com a morte de Osimar, seu irmão gêmeo. Quando Edna partiu, ele entrou em depressão e chorava muito, até que conheceu Marieci, e aí então ele foi cuidado como o amor maravilhoso dela. Onde estava um, estava o outro. Viajaram pela Europa, por Santiago do Chile, e ela cuidava dele com admiração e carinho. Era o médico da família que nos atendia por telefone. Foi um dos maiores clínicos de Brasília e chefe da Clínica médica do Hospital de Base por muitos anos, inclusiva recebeu o título de médico do ano da Associação Médica de Brasília. Foi médico também do HFA.
Depois da notícia se sua morte, precisamente em 1º de julho, dia do aniversário de nosso pai, meu celular ficou ligado e quase não consegui escrever esta crônica porque a todo instante recebia telefonemas de parentes, amigos e conterrâneos. Alvimar, ao partir, deixa em nossos corações uma saudade infinita, uma lacuna insubstituível, mas a certeza de que Jesus o recebeu em Glória e, quem sabe, tendo ao lado os nossos pais, seus três irmãos que partiram antes dele (Alírio, Estelita e Osimar), Edna, e seu sorridente sobrinho (Jusiel), meu filho, que nos deixou a mais de 20 anos.
Brasília, 1º de julho de 2023
Julio Borges Filho