O MAL NO MUNDO
O MAL NO MUNDO
Julio Borges Filho
Publique recentemente no Facebook, como provocação, uma breve reflexão do pensamento do sociólogo Jessé Souza com o título “Um dedo na ferida da classe média”. A reflexão do sociólogo me incomodou e resolvi publicá-la para incomodar outros. A reação mais dura que recebi foi a de uma amada sobrinha, incomodada com a generalização da reflexão, colocou a sua posição sobre a divisão da humanidade que, segundo ela, é provocada pela religião, a política e a economia. Achei interessante a colocação dela e resolvi refletir um pouco sobre o mal no mundo que é o que, realmente, divida as pessoas.
Tudo o que é bom pode ser desvirtuado gerando o mal. Até mesmo as melhores bênçãos, com uma leve perversão, podem se transformar em grandes maldições. O sol dá energia e calor, mas as insolações matam. A água mata nossa sede, leva nossa roupa e nos limpa, mas as inundações matam e, se poluída, também mata. Assim acontece com tudo de bom que Deus deu ao homem. Por exemplo, ninguém pode viver sem a política, a economia, a justiça, a comunicação, a ecologia e a religião. A política boa é a busca do bem comum e o bom político é o que busca o bem de todos. O poder é para servir como nos ensinou Jesus, mas muitos se servem do poder (corrupção), e muitos usam o poder para oprimir, destruir, dominar e manipular outros (opressão).
A economia se é boa leva o bem-estar para todos, especialmente, para os mais pobres. Se é iníqua leva às desigualdades sociais dividindo a sociedade humana entre pobres, classe média e ricos, e ao consumismo que destrói tudo, inclusive os recursos naturais. Hoje, o maior escândalo do mundo é que 1% dos mais ricos controla 50% da riqueza da terra. O Papa Francisco, com razão, disse que o capitalismo “é o esterco do diabo”. A justiça é para todos porque todos são iguais diante da lei. Mas não é assim: que tem um bom advogado pode se sair bem, o juiz pode ser corrompido e parcial, alguns se acham acima da lei, e outros usam seus cargos e a polícia para atingir seus objetivos de notoriedade e sua justiça própria. A comunicação é própria do ser humano como criado à imagem e semelhança da Trindade Santa, e hoje ela se desenvolveu com muitos meios (imprensa, rádio, telefone, televisão e internet.
O mundo ficou pequeno. Mas se os meus de comunicações, se não forem regulados, podem ser usados para manipular as pessoas e estarem a serviço de uma ideologia. Ela é um bem público para todos. Sem uma boa relação com a natureza (ecologia) a agressão dos rios, florestas, animais gerará morte e desequilíbrio climático. A poluição do meio ambiente precisa de controle ou todos pereceremos. Esta é a nossa casa comum. E, finalmente, a religião pode ser boa ou ruim. É boa se nos humaniza em gestos de amor, solidariedade, e combate o preconceito porque o sentimento religioso (fé) purifica nossa natureza corrupta. É ruim se gera fundamentalismo, fanatismo, e até mesmo terrorismo, e várias formas de desumanização.
Em suma, o que quero dizer é que o mal está no coração do homem nos divide e tem o poder de fazer algo bom em ruim. Quando alimentamos o ódio, a mágoa e o preconceito em nosso coração vemos o outro como inimigo, se discorda ou é diferente de nós, e isso nos diminui como pessoa humana. Vejo muita gente boa se perder por causa de uma mágoa, pela ambição, pela paixão política e pelo fundamentalismo religioso. A paixão política ou religiosa coloca as pessoas em partidos ou religiões diferentes e não se percebe que um partido não é o todo, e que uma religião não é detentora de toda verdade. A ambição de ganhar mais, de ter mais, sem se pensar nos outros nos perverte. Nós da classe média nos endividamos porque queremos ser ricos, os ricos querem ser mais ricos sem pensar nos pobres e famintos do mundo. O Apóstolo Paulo disse que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. ”
De onde vem o mal? Há várias respostas, mas basta aqui as duras palavras dia Tiago, irmão de Jesus: “De onde vem as guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?” O bem e o mal estão em todas as áreas e invade as instituições humanas se estruturando. Vêm do coração humano e de sua liberdade e pode invadir tudo que tocamos. O diagnóstico do Evangelho nos afirma que o mal não triunfará e que o bem terá a palavra final e que no final da história, Cristo castrará, tirando todo poder, dos governantes humanos e demoníacos, e o entregará ao Deus e Pai, e então “Deus será tudo em todos”. Será o início de uma história nova de uma humanidade nova livre do mal. Por enquanto, cabe-nos orar: “Livra-nos do mal…” E cultivar em nós e em nossa família o amor, vida simples e solidariedade humana.
[ Artigo recuperado 03/2016]