O SUPREMO SE APEQUENOU
Julio Borges Filho
Assisti ontem, 04 de abril de 2018, o julgamento pelo STF do pedido de HC do ex-presidente Lula. Acho que foi o mais longo de sua história. A presidente Carmem Lúcia não quis colocar em pauta o HDC sobre a prisão na segunda instância porque, dizia ela, isso seria “apequenar o Supremo”. E ontem o Supremo foi apequenado vergonhosamente.
No dia anterior aconteceram coisas tristes para o Brasil. O chefe dos procuradores da Lava Jato, Dallagnol, prometeu jejum de comida, jamais do imoral auxílio moradia. O comandante do exército, General Villas Boas, publicou no seu Twitter que o exército é contra a impunidade e que estaria pronto a assumir sua tarefa constitucional, o que foi potencializado pelo JN da Rede Globo como pressão ao STF (nosso fraco presidente não repreendeu seu subordinado) além de outras manipulações próprias do jornal. O filósofo Roberto Romano disse que o recado do general tinha destino certo: a ministra Rosa Weber. Funcionou. Grandes jornais pediam a prisão de Lula. Juristas renomados davam parecer favorável a Lula defendendo a constituição.
A artimanha ou golpe de Carmem Lúcia funcionou porque ela conhece a ministra Rosa Weber. Esta julgou dizendo que votava contra sua convicção seguindo a regra válida, mesmo que anticonstitucional. Foi coerente, mas sua fidelidade à decisão de 2016 da qual ela foi contra, prejudicou o ex-presidente colocando a instituição acima do cidadão a quem o STF deve servir assegurando-lhe justiça. Carmem Lúcia, ao assentar em cima do pedido do Ministro Marco Aurélio em dezembro para o julgamento da prisão da segunda instância, pressionada, colocou no Plenário o HC de Lula antes. Isso provocou um arrependimento do ministro que queria levantar uma questão de ordem, e não o fez em respeito à cátedra da presidência. O STF está dividido entre a turma constitucional (Celso de Mello, Marco Aurélio Levandowski, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, e Rosa Waber) e a turma da Lava Jato (Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes, Fux e, é claro, Carmem Lúcia). Os constitucionalistas ganhariam se a prisão na segunda instância fosse votada. A decisão de 2016 que permitiu a prisão na segunda instância foi feita no auge de popularidade da Lava Jato que contribuiu, e muito, para o Golpe Parlamentar que derrubou a Presidenta Dilma. A Constituição foi violentada em nome do combate à corrupção. Hoje apenas 30% dos brasileiros acreditam na operação de Curitiba, tal o seu desgaste por causa de seus abusos e pela sua perseguição cruel a Lula e ao PT.
O julgamento foi uma exibição do conhecimento jurídico de cada ministro justificando sua posição. Destaco os votos de Gilmar Mendes, Rosa Weber e Celso de Mello. O de Gilmar porque ele foi a favor da prisão em segunda instância em 2016 e, agora, convertido à Constituição, é o voto da virada. Foi um desabafo coerente. O seu ataque à mídia brasileira, especialmente às pressões da Globo através do Jornal Nacional, ficou para a história. Eu, não gostava do ministro, mas o admirei pela coragem e autenticidade. Atacou o PT por causa de sua intolerância quando oposição a FHC. O de Rosa Weber foi uma decepção. Após três preliminares, votou contra, não por concordar com a prisão na segunda instância, mas porque é a regra em vigor. Defendeu sai coerência, mas se prejudicou como ministra da mais alta corte do país por trocar o certo, e sabendo disso, pelo errado. O voto de Celso de Mello foi uma aula e um pronunciamento histórico. Começou falando dos dias sombrios da ditadura militar e dando um pito magistral ao comandante do exército e na Rede Globo. Depois fez uma enfática defesa do preceito constitucional da presunção de inocência até o trânsito e julgado (Art. 5ª parágrafo 5), defendeu o Estado de Direito contra os abusos e a maquiagem jurídica que favorece a um estado de exceção. A Constituição é claríssima para exatamente não ser renegada porque defende a liberdade do cidadão. E o ministro disse isso de modo duro, claro, mas sempre elegante e educado. Os alunos (os outros ministros) ouviram em silêncio a aula do mestre.
O que se espera agora do STF? Simplesmente que corrija o erro grasso de sua presidente e coloque a prisão da segunda instância rapidamente em votação. O aval de ontem deu a Sérgio Moro a satisfação de seu grande sonho: prender Lula amanhã. A decisão pequena do Supremo contra Lula foi também contra a 35% dos eleitores brasileiros. Quem sai ganhando com isso? A Lava Jato, a Globo, a elite econômica, o PSDB, a direita e a extrema direita, o capital internacional, os EUA que quer a continuação de um governo subserviente a seus interesses. Quem perde? O Brasil que está sendo avacalhado com o ódio, injustiça e com o fascismo triunfando. Só a história vai nos revelar quem são os vilões e quem são os bandidos. Bela é a frase atribuída ao Papa Francisco: “O maior crime de Lula foi ter lutado contra a fome no mundo. Os poderosos costumam ser implacáveis contra esse delito. ”