Vida para além da morte
Pastor Julio Borges Filho
Introdução:
– A morte de um ente querido provoca em nós interrogações sobre a vida após a morte. Cada pessoa, desde as crenças populares, tem sua teologia. Isso tem a ver com a escatologia, a ciência das últimas coisas. Devemos estar sempre “preparados para responder” a todos a razão de nossa esperança – 1 Pe 3:15. Teologia é a fé em busca do entendimento (Ancelmo).
– Declarações preliminares:
1ª) Os atos salvíficos de Cristo: encarnação, morte na cruz, ressurreição, ascensão, pentecostes, e segunda vinda;
2ª) O essência na vida cristã: a fé, a esperança e o amor – 1 Co 13:13;
3ª) O objetivo da vida cristã: Sermos semelhantes a Cristo (uma nova humanidade redimida) – Gn 1 e Rm 8.
4ª) O céu é a pátria da absoluta realização humana, e o inferno, a da absoluta frustração humana. Uma é dádiva divina, a outra, merecimento humano.
– Vida para além da morte: Eu já estudei muito o assunto e cheguei a algumas conclusões baseada no ensino bíblico e na minha experiência pessoal e pastoral. Serei simples e didático e espero provocá-los. É na provocação que a inteligência se aguça.
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O ensino bíblico à luz do Novo Testamento
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No Antigo Testamento:
– Não há separação entre corpo e espírito: “tu és pó e ao pó voltarás”. Quando a pessoa morria juntava-se aos seus antepassados. Era a cessação da vida. No exílio babilônico surge a ideia da ressurreição coletiva (Ez 37:1-14 ) – O vale de ossos secos, o que um início da doutrina da ressurreição do NT. Na época de Jesus líderes religiosos se dividiam sobre o assunto: os saduceus não criam na ressurreição dos mortos e os fariseus criam (Lc 20:27-40). A base no AT para a ressurreição dos mortos: Is. 26:19 e Dn 12:2.
– A ideia de vida eterna era muito vaga: estava relacionada ao templo (Salmo 23). O livro de Eclesiastes traz um vislumbre da vida eterna quando afirma que “Deus colocou a eternidade no coração do homem” (3:11). E o Salmo 139 fala do “Caminho eterno”. Era proibido o culto aos mortos, mas mortos eram reverenciados. Em alguns livros apócrifos há ideia de purgatório e de culto aos mortos. A trasladação de Enoque e Elias falam de uma vida que transcende este mundo. Mas, de modo geral, o AT é horizontal e se preocupa com esta vida.
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O ensino do Novo Testamento
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A escatologia de Paulo – A fé na ressurreição é fundamental. Em Jesus Cristo ressuscitado se autocomunicou o futuro. Ele é o primeiro entre muitos irmãos (Rm 8:29; 1 Co 15:20; Cl 1:18). Nele a utopia se tornou topia. Ele é a nossa esperança (Cl 1:27). Já ressuscitamos com Ele e vivemos a realidade da nova vida em Cristo aqui e agora (Cl 3:1-4). Nada nos poderá separar do seu amor (Rm 8:31-39). Aqui já temos a garantia do futuro em Cristo (Efésios 1:13 e 14). Todavia a plenitude da salvação é a plena glorificação do cosmos (1 Co 15:22-28; Efésios 1;9 e 10). Os corpos ressuscitados serão celestes e incorruptíveis (1 Co 15:35-42). Aos tessalonicenses e aos coríntios Paulo fala da segunda vinda e da ressurreição dos mortos assim: 1 Ts 4:16-18; 1 Co 15:50-54. A morte não era problema para o Apóstolo que falava dela com naturalidade como algo vencido por Cristo (Fl. 1:21-24; 1 Co 15:55-58). O que Deus tem preparado para os que o amam é algo indescritível: “Nem olhos viram nem ouvidos…”
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A escatologia de Pedro – Devemos estar preparados para dar a razão de nossa esperança, como mansidão e temor, e com boa consciência (1 Pe 3:15 e 16). A segunda vinda do Senhor será um acontecimento cósmico com erupção de novos céus e nova terra nos quais habita justiça (2 Pe 3:10-33), e que a demora de sua vinda é para dar oportunidade de salvação a todos (2 Pe 3:8 e 9). Os ímpios serão destruídos (2 Pe 3:7).
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A escatologia de João – Somos gerados em Cristo filhos de fato de Deus (João 1:11-13), que nos dá a vida eterna (3:16; 7:38 e 39 e 17:3) aqui e agora (10:10); não entraremos em condenação (5:24), somos chamados a vivermos em amor (13:34 e 35), com uma missão no mundo (20:21). O endereço do céu (14:1-6). Os mortos em Cristo são bem-aventurados e os obras os acompanham (Ap 14:13). Termina o Apocalipse com o julgamento e a destruição da Babilônia, a cidade do mal, e a erupção da Nova Jerusalém, a capital do universo redimido (Caps. 18 a 22).
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A escatologia do escritor aos hebreus – A esperança é a âncora da alma (6:19) e Cristo nosso único e perfeito Sumo Sacerdote (cap. 7) sendo seu sacrifício eficaz para sempre (9:23-26). Os seres humanos morrem uma só vez, “vindo, depois disto, o juízo (9:27). Vivemos na nova aliança em Cristo e temos acesso à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, pois estamos arrolados nos céus (12:22-24).
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A experiência dos cristãos primitivos
– Lucas: A vinda do Reino de Deus (Lc 17:20-37). A parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), e o bom ladrão da cruz (23:39-43) e a morte de Estevão (Atos 7:54-60). A volta de Jesus como eminente.
– Mateus/Marcos: A chegada do Reino de Deus ao mundo, a segunda vinda (Mt 24 e 25) e o grande julgamento – Mt 25:31-46
– A martíria, os mártires cristãos
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Conclusões:
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O novo nascimento em Cristo nos torna de fato filhos de Deus e, por isso, não entraremos em condenação, e mais: começamos a viver a vida eterna aqui e agora. O céu, portanto, antes de ser um lugar é um estado de espírito (Hino 490 CC).
2) Na morte já teremos corpos novos e incorruptíveis no céu e participaremos, por isso mesmo, na vitória final do Senhor sobre o mal, do julgamento do mundo e da redenção da criação e do cosmos.
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As interpretações através dos séculos
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A tradição hebráica do AT (Adventistas, teólogos conservadores, etc…): Quando a pessoa morre, morre mesmo, e aguarda a ressurreição na volta de Cristo. Mas isso, para eternidade, é como um segundo.
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O Hades (sheol): onde os espíritos aguardam a ressurreição em Cristo. O purgatório e o limbo (abolido) católicos…
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Minha posição pessoal e de muitos teólogos modernos: a ressurreição é o processo salvífico de Cristo que começa com o novo nascimento, continua na vida cristã (o homem interior), e termina aqui com a morte, tendo sua plenitude na redenção de toda a criação e do cosmos com uma humanidade plenamente redimida. Os mortos em Cristo virão com Ele e os que estiverem vivos serão trasladados (arrebatamento da Igreja). Imagem: o casulo e a borboleta.
– Minha experiência de morte e de outros cristãos.
Livros recomendados:
- Boff, Leonardo – “Vida para além da morte”, Editora Vozes, Rio de Janeiro
- Moody Jr, Raimundo A – “A vida depois da vida”, Editorial Nórdica Ltda, Rio.