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LADRÕES DA ESPERANÇA – Sermão

Marcos 11:15-18

INTRODUÇÃO

O texto da vida: Pela primeira vez no Brasil nos últimos anos uma elite política e empresarial está sendo presa e julgada. Hoje, graças a ação da Polícia Federal do Brasil aliada ao Ministério Público e à Justiça Federal, a tampa da fossa se abriu com um mau cheiro terrível e abala a credibilidade do governo e do Congresso Nacional com muitos representantes do povo envolvidos. Isso só no âmbito federal. O que dizer da corrupção nos Estados e municípios, nas grandes incorporadoras, na mídia, na religião, e na sociedade? Estamos diante de uma oportunidade única na história para corrigir rumos e abrir as portas da esperança para todos.

O texto da Bíblia: A expulsão dos vendilhões do templo de Jerusalém por Jesus, foi o estopim para a conspiração contra Ele que o levou à prisão, julgamento e morte na cruz. Ele contrariou os interesse dos banqueiros da cidade que, aliados aos sacerdotes, exploravam o povo simples que vinham oferecer sacrifícios no templo. As moedas para as ofertas tinham de ser sagradas, e as pombas e animais oferecidos em sacrifícios tinham de ser puros, sem defeitos. Isso só os banqueiros saduceus poderiam providenciar com gordas comissões para os sacerdotes.

– A corrupção de ontem de hoje rouba a esperança do povo. Em quem confiar se líderes políticos e religiosos são corruptos? Tudo é vendido, inclusive orações e milagres. O mesmo é válido para a manipulação popular para servir interesses políticos. Onde está a verdade?

– A partir do texto bíblico analisemos como a corrupção entra sorrateiramente nas pessoas, na sociedade, nas instituições e no próprio Estado. É a força do mal simbolizada por Mamon, o deus do dinheiro, e o amor dinheiro, segundo o Apóstolo Paulo, “é a raiz de todos os males” – 1 Tm 6:10. Pascal disse que o homem tem em sim algo tenebroso que o afasta de Deus, mas acrescenta: “O homem não é um animal nem um anjo. É o home”.

  1. OS VENDILHÕES DO TEMPLO

  1. A corrupção religiosa é a pior das corrupções porque é feita em nome de Deus. A corrupção no templo começou na sua construção com a criação de uma casta sacerdotal e muito luxo, e com a exploração de mão de obra escrava. A centralização do templo como lugar de culto nos tempos de Esequias e Josias criou o templo armazém para sustentar o sacerdócio. Foram destruídos e profanados os antigos santuários do interior (Betel, Siquém, Siló, Berseba, e outros). Além da monarquia, um dos motivos que levou ao cativeiro babilônio, foi a corrupção da elite de Jerusalém e do templo. Os babilônio destruíram o templo que foi reconstruído no Império Persa com as lideranças e Neemias, Esdras e Zorobabel.. Os persas não permitiram o retorno da monarquia, mas permitiu um governo religioso dos sacerdotes com ênfase à dinastia de Sadoque. Os gregos destruíram em parte e profanaram o templo que foi reformado, alcançando o esplendor da época de Salomão, pelo rei Herodes, o Grande. Judeus e cristãos fundamentalistas sonham com a construção do terceiro templo em Jerusalém, o que poderia provocar uma terceira guerra mundial.

  1. O templo nos dias de Jesus era administrado pelos sacerdotes que, aliados à classe sacerdotal dos saduceus, utilizavam o templo para exploração do povo que vinha de boa fé adorar a Deus em Jerusalém. Os animais trazidos pelo povo não eram puros e precisavam comprar animais puros no templo. As moedas estrangeiras ou impuras tinham de ser trocadas pelas medas sagradas e abençoadas pelos sacerdotes. Os banqueiros de Jerusalém se enriqueciam e com eles o alto clero. Isso provocou a ira de Jesus Cristo que, com um chicote nas mães, expulsou os vendilhões e derrubou as mesas dos vendedores e, citando Isaias, disse que a Casa de Deus era casa de oração para todos os povos, e, citando Jeremias, eles a transformaram em covil de ladrões que roubavam a fé e a esperança do povo.

  1. A igreja hoje e as lições históricas esquecidas

– A centralização do culto retorna ao templo ao templo com construções de templos luxuosos com seus monumentais edifícios de educação religiosa. Já foi até construído em São Paulo o templo salomônico pela Igreja Universal do Reino de Deus que é um monumento à idolatria e à imbecilidade. Boa parte do meu ministério pastoral foi enfatizando que o templo deveria ter uma função social e não apenas eclesiástica. Nossa igreja, a Igreja Cristã de Brasília, não tem templo e nunca o terá.

– O clericalismo se acentua em todas as igrejas. A hierarquia católica jamais permitiria que um jovem como Jesus chegasse ao papado. Nas Igrejas evangélicas, inclusive as igrejas livres que enfatizam o sacerdócio de todos os crentes, cada dia mais se acentua o poder do clero.

– A busca do poder pelo poder ou para se servir se faz presente em igrejas grandes de milhares de membros e o anonimato se acentua.

– A teologia da prosperidade avacalhou tudo, especialmente nas igrejas pentecostais e neopentecostais. Em suma pouco se aprendeu da história do AT e da Igreja, e as igrejas evangélicas nada sabem da Reforma do século 16.

  1. A CORRUPÇÃO NA HISTÓRIA DO BRASIL

  1. A colonização portuguesa e a vinda da corte para o Brasil – O brasil foi saqueado pela corte e elite portuguesas. A vinda da corte com D. João VI trouxe muitos benefícios e muita corrupção. As Capitanias Hereditárias foi a mais completa reforma agrária feita do país. A República não melhorou o quadro, embora houve avanços com a conquista do Estado laico.

  1. A construção de Brasília e os governos militares acentuaram a corrupção. Na construção de Brasília os empresários de São Paulo faturaram alto às custas dos operários nordestinos, muitos deles mortos e enterrados no concreto das construções. Nos governos militares surgiram os grandes mega empresas e a Rede Globo de TV. Nada era fiscalizado e a mídia impressa e falada, com raríssimas exceções, era servil.

  1. As grandes privatizações no governo FHC desviaram bilhões de reais e enriqueceram as elites econômicas brasileiras. Os 32 casos de corrupção da época não foram fiscalizados nem julgados porque a Polícia Federal e o Ministério Público eram dirigidos por aliados do governo.

  1. Os governos Lula e Dilma se caracterizaram pela autonomia do Ministério Público, da Polícia Federal e foi criada a CGU. As denúncias pipocaram, mas houve transparência e não interferência governamentais dos julgamentos. Mas Lula e o PT se submeteram ao fisiologismo do PMDB e de outros partidos dando origem ao mensalão e a atual crise na Petrobrás. Em suma, apesar da inclusão de 50 milhões de brasileiros com os programas sociais como o Bolsa Família, não houve um projeto sério para o Brasil, mas um projeto de poder. O PT perdeu uma oportunidade histórica e única.

  1. A HISTÓRIA DE REPETE

  1. Primeiro como tragédia e depois como comédia (Karl Marx). E há houve no Brasil uma crise moral e de desesperança. As multidões, como no tempo de Jesus, andam aflitas e exaustas como ovelhas sem pastor.

  1. A ética das elites continua atuando livremente

-A sua essência – Apropriação privada do que é público, o uso de recursos públicos para fins clientelistas, e o uso do mandato popular para explorar a própria população,

– A ética do mercado – Baseada no egoísmo, na globalização competitiva e excludente, submete a vida humana às suas leis selvagens provocando a miséria do povo.

– A raiz de todos os males, segundo o Apóstolo Paulo, é o amor ao dinheiro (posse, poder, prazer, posição).

  1. – SEMEADORES DA ESPERANÇA

(Exemplos bíblicos: Noé/filhos do arco-íris – Abraão/intercessão por Sodoma – José do Egito/sonhos grandes… – Moisés /intercessão pelo povo idólatra – Elias e os cinco mil não se curvaram a Baal – Paulo/anátema por amor a seus compatriotas

  1. As igrejas alternativas são um sinal de esperança para a igrejas no Brasil. Elas não ao preconceito e ao clericalismo e são aliadas dos pobres e excluídos.

  1. O poder para servir – Jamais para se servir (corrupção), para oprimir (opressão). É a lição básica do evangelho de Jesus Cristo (ver Mateus 20:20-28). O político nada mais é do um servo do povo.

  1. Honestidade – É uma consequência lógica do serviço. A desonestidade é uma deturpação do fim último da política. A honestidade é o mínimo que a sociedade requer do homem público. Devemos combater o mal onde ele se manifesta.

  1. Palavra de peso – Hoje palavras são palavras, nada mais do que palavras. Mas a palavra, numa perspectiva teológica, é o poder que move o mundo. E disse Deus: “Haja luz e houve luz”. O que Deus fala é. “E a palavra se fez carne…” – é assim que o evangelista João descreve a encarnação do Cristo. Nada de promessas manipuladoras. O povo precisa crer e confiar na palavra do político. Ele deve falar pelo povo que o elegeu. A mentira tem pernas curtas.

  1. Fidelidade – Não apenas ao seu partido, mas, principalmente, às causas justas da sociedade e aos seus princípios ideológicos. Ninguém pode viver sem utopias/sonhos. E não devemos jamais trair os nosso sonhos. Precisamos urgentemente de uma reforma política

  1. Coragem profética – Não apenas para assumir riscos, mas para tomar decisões rápidas. A indecisão cria um vácuo político. É preciso também coragem no enfrentamento do mal social e sistêmico. Creio no profetismo comunitário e não personalístico.

  1. Astúcia/prudência – As palavras de Jesus são decisivas: “Sede astutos/prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16). Para discernir o bem e o mal e se ser transparentes e sinceros, para evitar conflitos desnecessários e não fugir dos conflitos inevitáveis, para não fechar a mente e ser aberto às causas justas, para não se corromper com o mal e se comprometer com o bem, para não exagerar e se apaixonar, para não ser ingênuo sem ser maldoso, o político precisa da astúcia das serpentes e da simplicidade das pombas.

  1. Doação à causa pública – Políticos por vocação e não por profissão. Rubem Alves disse que a política como vocação é a mais dobre da vocações, e que a política como profissão é a mais vil das profissões.

CONCLUSÃO:

A revolução ética/moral do Brasil objetiva a construção de uma nova sociedade baseada na justiça social e na solidariedade humana, na construção de instituições sólidas, eficientes no serviço público. Nossa luta é combater e evangelizar os principados e potestades.

– Para tanto é imprescindível a participação de todas as forças da sociedade brasileira. Os jovens e os estudantes, pela seu não-conformismo, devem estar na vanguarda deste movimento. Só assim a política terá uma boa ética. A maioria silenciosa deve se manifestar sem nenhuma manipulação política, midiática, econômica ou religiosa. O poeta húngaro Arpad Toth escreveu

“Esse é o tempo do anticristo.

Brilha a repugnante sujeira dourada do mundo.

E entram no céu: Nadas engravatados, canalhas sutis (…)

Mas eu luto aqui em baixo; e ninguém nem vê.

Esses tormentos que me queimam as noites do meu silêncio”.

– Só Jesus, como o chicote nas mãos, para ensinar que com o povo não se brinca. Qualquer projeto que busca o poder para se servir (corrupção), ou pelo próprio poder (tirania) é corrupto. A história é um cemitério de impérios. O julgamento de Deus é implacável para os líderes políticos, econômicos e religiosos, e também para funcionários desonestos que ainda não descobriram que o poder só se legitima pelo serviço e pela busca do bem comum.

Oremos pelo nosso Brasil neste momento de julgamento e desesperança. Que a justiça seja justa em seu julgamento. Precisamos do chicote divino em todas as áreas.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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