A DRACMA PERDIDA
Sermão: A DRACMA PERDIDA – Lucas 15:8-10
Pastor Julio Borges Filho
INTRODUÇÃO
– Nunca preguei antes na parábola de Jesus da Dracma Perdida registrada no capítulo 15 do evangelho de Lucas. Mas ela, das três registradas no mesmo capítulo, é a mais profunda. Fala de uma rara e preciosa moedinha de prata perdida por uma mulher que não descansa até encontrá-la e, quando a encontra, faz festa de grande alegria com suas amigas. É pura interioridade e preciosidade da vida humana que fala a nós profundamente. Apenas três versículos de significado profundo sobre o valor do ser humano e sobre o amor de Deus.
– Nesta mensagem proponho uma reflexão tripla: 1) A recuperação do precioso texto bíblico; 2) O nosso valor diante de Deus; e 3) Em busca de nossa dracma perdida.
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A DRACMA PERDIDA, vrs 8 e 9
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A insignificância
– Uma moeda grega de prata equivalente a um denário (um dia de trabalho na época), cerca de cem reais. Para uma mulher pobre cuja riqueza são dez dracmas, uma faz imensa falta.
– Às vezes somos dominados por um complexo de inferioridade. Não valemos muito, somos insignificantes. Colabora com isso a crítica dos bons e que se consideram superiores e justos (fariseus e escribas, vrs. 1 e 2). Duas frases dizem tudo: “Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir” e “Murmuravam os escribas e fariseus dizendo: Ele recebe pecadores e come com eles”. Aqui nós temos dois tipos de santidade: a verdadeira e a falsa. A verdadeira atrai os pecadores (Jesus), a falsa afasta as pessoas (escribas e fariseus) por se julgarem superiores. Deus continua usando as coisas frágeis para humilhar as fortes.
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A preciosidade
– É uma parábola sobre uma mulher, logo é tudo muito delicado, sensível e precioso. A dracma era usada para enfeitar vestidos de noiva e para ornamentar enfeites preciosos na cabeça semelhantes em significado às alianças de hoje. .
– Somos a dracma perdida de Deus, logo somos preciosos e infinitamente mais preciosos.
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Vale a pena procurá-la
– Varre a casa calçada de barro batido, acende uma candeia porque as casas pobres tinham apenas a porta de entrada e não janelas, e procura diligentemente até encontra-la. Tal determinação já determina o valor especial da moeda.
– Depois faz festa com suas amigas e vizinhas: pura alegria
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O VALOR DA PESSOA HUMANA, v. 10
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A busca do pecador
– A importância do indivíduo é uma característica lucana. As parábolas de Marcos diz respeito ao Reino de Deus; as de Mateus ao julgamento final e à vida em comunidade; as de Lucas tratam de indivíduos. E esta de modo especial é dedicada à mulher. Como Jesus entendia mulheres!… Quem sabe a dracma não faz parte dos enfeites de um vestido de noiva…
– Jesus fez bem mais do que usar uma vassoura e lamparinas para nos encontrar. Ele esvaziou-se a si mesmo… enfrentou o deserto da incompreensão humana, as forças do mal na política, na economia e, principalmente na religião, a dor, a morte de cruz…
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O arrependimento
– É a mentonoia, a mudança de mente e de caminho. Envolve o reconhecimento intelectual (Eu sou um pecador), os sentimentos (a tristeza pelo pecado), e a disposição de mudar de vida. É dizer sim ao toque de Jesus Cristo em nossa vida. Este um dom humano. Os demônios não se arrependem. Dois exemplos bíblicos: Judas e Pedro. Judas tem remorso que o levou ao desespero e ao suicídio porque caminhou apenas os dois passos iniciais do arrependimento; Pedro arrependeu-se: reconheceu o erro de negar Jesus, sentiu tristes porque chorou amargamente, e voltou-se para Jesus. Pecar é errar o alvo, é caminhar na direção errada. Arrependimento é volta com fé à direção certa.
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A festa no céu
– Um só pecador que se arrepende provoca festa nos céus. O universo é amigo e festeja uma só pessoa que entra em harmonia com Deus. Os anjos cantam por ela. Como somos importantes diante de Deus!… Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se? Diz-nos Jesus. A ofensa a uma só pessoa é ofensa a toda criação de Deus, afirma Kiekegaard. A morte de um é morte de todos. Ernest Hemingway escreveu seu livro “Por quem os sinos dobram” sobre a guerra civil espanhola inspirado nas seguintes palavras de Jonh Donne: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” Há uma interligação de cada ser humano com os outros, com Deus e com o universo.
– Vale a pena investir no ser humano. O filme “A irmã Dulce” me emocionou. Ela tinha o dom de humanizar as pessoas. Eis a poesia que fiz após assistir o filme: IRMÃ DULCE
O amor para ser amor
Tem de encarnar-se
Numa pessoa que ama.
Sem nada pedir em troca,
Sem busca de aplausos
É uma acesa chama.
Amor assim humaniza,
O ser humano prioriza,
Não tem medo de nada.
Expressa o amor divino
Contra todo vil desatino
Que faz da vida, charada.
Vi isso numa mulher
Que acolheu o pobre
Praticando grande fé.
Irmã Dulce pequenina,
Mais parecia menina,
Mas era grande mulher.
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A NOSSA DRACMA PERDIDA
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É o sentido da vida
– A mim a preciosa parábola fez-me viajar para o mais profundo do meu ser a fim de procurar o que de precioso perdi na aventura da vida. O que seria minha dracma perdida? Viajei pela experiência dolorosa de meu pai ao perder a filha amada, penetrei na sua visão e no enigma de minha vida que viria tempos depois, andei pelo meu nascimento e pela sobrevivência milagrosa, pelos meus sonhos de menino e adolescente, pelas crises existenciais da juventude, pelos amores da minha vida, pelos pastorados, pela partida de meu filho há doze anos, e descobri que sem a missão a mim confiada minha vida perderia o sentido no mundo. Acho que captei isso, ainda que negativamente, na poesia Frustração de 1981:
Frustração é sentir o vazio na vida,
a inutilidade das ações,
a tristeza no rosto.
e a frieza na alma.
Frustração é, em suma, sentir
a ausência de Deus em tudo que se faz.
– Desviar é não deixar de procurar, é desistir da fé, é desistir dos sonhos e de sua vocação. Em suma, é desistir de si mesmo ficando abaixo do que deveria ser. É viver em pecado errando o alvo.
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Desvios
– A militância política, mesmo com seus aspectos positivos, foi um desvio de minha missão pastoral. Agora, já aos setenta anos, quero começar uma ação pastoral eficiente. A impressão que tenho é que só agora estou devidamente preparado para tão santa e essencial tarefa. O pastor é alguém que ama apaixonadamente as pessoas. Quero, pois, encontrar a minha dracma perdida e alegrar-me com meus amigos e amigas. A dracma é o pastorado. Gostaria, no entanto, de exercê-lo alegre, leve e graciosamente em Brasília. Ele constaria de duas partes: Pastorear graciosamente, escrever apaixonadamente, e viver alegremente. Estou, porém, plenamente aberto ao soprar do vento de Deus. Irei aonde ele me levar.
– Minha oração é que Deus me ilumine nesta encruzilhada decisiva da reta final de minha missão no mundo dando-me decisões corretas e ações corretas. Estou em estado de graça e alegria. Minha candeia é o Espírito Santo e minha vassoura é minha fé e sensibilidade. Com minha dracma perdida encontrada, tecerei um novo e último capítulo em minha vida juntando todas as dracmas a mim confiadas para enfeitar duas ações essenciais: pastorear graciosamente e escrever apaixonadamente. Confesso: estou encontrando dracmas perdidas e amadas. É um momento de alegria e de festa. É pura graça divina. E Agradeço a todos e a todas que me ajudaram nesta busca. Mesmo sem saberem foram anjos e anjas de Deus porque sem minha missão não sou nada. Alegrem-se comigo.
CONCLUSÃO
– Você pertence a Deus. Com você Ele ficou mais rico e o céu se alegrou. Por você Jesus Cristo esvaziou o céu e veio ao mundo. Ele o(a) encontrou provocando festa diante dos anjos de Deus. Ele o salvou para uma missão na terra e no universo.
– O tesouro da mulher da parábola são suas dez dracmas. Seu trabalho é procurar a que se perdeu e se alegrar ao encontrá-la. Deus fez o universo infinito, mas se preocupa com cada pessoa a ponto de entregar seu filho amado para nos achar. Cada pessoa encontrada é a sua alegria e a alegria do céus. Você tem dez dracmas, mas concentre-se na dracma perdida, aquela que dá sentido à sua vida que talvez esteja enferrujada nalgum canto de sua existência, Qual o nome dela?
– Exercício espiritual: Minha dracma perdida
Nunca tinha lido uma interpretação tão sensível e diferente a respeito dessa parábola. Poema lindo o do senhor. Eu era criança quando ouvi essa estória na igreja, na escola dominical. Ficou guardada no fundo do meu coração, pegando poeira. Hoje lembrei dela. Acontece que ainda criança parei de ir à igreja e eu nunca li a bíblia. Nunca deixei de orar, só que sempre sentindo essa inferioridade. Estou com 27 anos. Lembrei dessa estória hoje e percebi que talvez nunca tenha a esquecido por um motivo. Acho que minha dracma perdida é a fé, todos esses anos me esforço pra encontra-lá, em diferentes lugares, sempre me esforçando pra acreditar que Deus me ama e me escuta. Talvez essa parábola possa me ajudar a encontrar minha dracma e a criança que fui. Obrigada por compartilhar aqui seu texto e sabedoria. Mexeu comigo. Um abraço de São Paulo
Martina, seu comentário me emocionou. A fé é a sua dracma perdida, você disse. Mas você nunca a perdeu de fato pois varrendo sua memória lá estava ela. Que bom que minha mensagem a ajudou. O pastor-amigo: Julio Borges Filho