A L E I D E C R I S T O
Sermão: A L E I D E C R I S T O – Galatas 6:1-5
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo”
Pastor Julio Borges Filho
INTRODUÇÃO:
– Na carta aos gálatas o Apóstolo Paulo faz um libelo defendendo a liberdade cristã contra os judaizantes que defendiam o jugo da lei. Defende a liberdade cristã de dois perigos: o legalismo e o abuso da liberdade. No capítulo 5 chega a dizer: Ou lei ou Cristo. Como é que aqui no capítulo 6 ele fala da Lei de Cristo? O que o Apóstolo diz é que os problemas de uma sociedade cristã e a realização de sua liberdade tem sua resposta numa lei maior, a Lei de Cristo, que não bem uma lei, mas uma encarnação de vida. Uma história nos ajudará a entender essa lei.
– Um severo pastor anglicano, crítico ferrenho do arcebispo chefe de sua igreja, pai tirano de sete filhos preparava-se para fazer a sabatina bíblica diária antes do jantar quando alguém bate à porta. Era um mendigo. Ele o convidou para entrar e jantar iniciando a sabatina. Disse: “Já que você está aqui pela primeira vez, vou começar a sabatina por você. Quantos são os mandamentos da lei de Deus?” O mendigo calmamente respondeu: “Onze”. O pastor censurou severamente sua ignorância e leu em Êxodo 20 os dez mandamentos. O mendigo disse: “Está certo, pastor, mas o senhor se esqueceu do Novo Mandamento de Jesus: ´Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros´ – Jo. 13:35. “ Dito isso tirou o disfarce de mendigo e era o arcebispo que pediu licença e saiu. Diz a história que o pastor, diante do constrangimento diante de sua família transformou-se em um pastor amoroso, um pai terno e bom, e um esposo excelente. A lei de Cristo, se praticada, transforma vidas porque é fundamental para a vida em comum. É com a prática dela que somos identificados como discípulos de Jesus Cristo. O amor é o sinal de Cristo no cristão.
– A comunhão e a unidade cristã é o distintivo da Igreja de Cristo. Ela deve ser a base de toda a sua missão no mundo. Na oração intercessora pelos seus discípulos, Jesus pediu ao Pai: “Que eles sejam um em nós para que o mundo creia que tu me enviaste”.
A lei de Cristo é a lei do amor
– O amor é o único poder que não corrompe porque baseado na conquista e na sedução. Busca-se o bem das pessoas ou pessoas amadas. Que o livro de Gênesis registra que o homem e sua mulher estavam nus e não se envergonhavam, queria expressar isso: Transparência sem máscaras, comunhão completa baseada no amor que não domina o outro. Lutero disse que “o cristão é livre e não é escravo de ninguém, mas pelo amor é escravo de todos”.
– É o amor ágape. Considero a língua grega perfeita. Por isso é a língua do Novo Testamento. E nela há quatro palavras para “amor”: fileo=amizade, eros = amor sexual/paixão, sturge, amor materno e paterno, e ágape para o amor de Deus, o amor apesar de…
– A lógica de João: 4:7-12 (v.11) – “Irmãos, se Deus de tal maneira nos amou, nós devemos também amar uns aos outros”. Achava eu que João estava errado. Ele deveria antes escrever: “Irmão, de Deus de tal maneira nos amou, nós também devemos amá-LO”. Com o tempo eu evoluí e descobri que o Apóstolo do amor estava correntíssimo porque Deus merece o nosso amor. Quem não merece é aquele que fala mal de nós, que pisa no nosso pé´, que nos ofende. Amar até o inimigo é um preceito exclusivo do Cristianismo. A igreja é a comunidade do amor. Não gosto daqueles pregadores que ao fazer o apelo dizem: “Não convidamos vocês para aceitarem a igreja, mas a Cristo.” Pura ignorância. Ao aceitar Cristo o pecador é arrolado na comunhão dos salvos. É fácil pescar, o difícil é tratar o peixe. É na vida em comum que o peixe é tratado.
- A lei de Cristo é a lei da mutualidade
– “Sede servos uns dos outros em amor” (Gl 5:13), “Levai as cargas uns dos outros”, “orai uns pelos outros”, “alegrai-vos”, “chorai uns pelos outros”, “amai uns aos outros”,
– É dando-nos uns aos outros que nós nos encontramos. Michel Qoist: “Procurei a Deus e não o encontrei, procurei a mim mesmo e não me encontrei, procurei o meu irmão e encontrei os três”. É a verdadeira espiritualidade (v.1). Devemos corrigir o irmão caído com espírito de brandura tendo o cuidado de também não cair. É a espiritualidade que livra-nos do orgulho (v. 3) e nos faz assumir a nossa responsabilidade levando nosso próprio fardo (v.4). Esta é a espiritualidade verdade vivida por Cristo. Tal espiritualidade atrai as pessoas. É por isso que Jesus ataia os publicanos e pecadores. A espiritualidade falsa, farisaica, afasta as pessoas porque é hipócrita e centrada em si mesmo.
– Três historinhas:
1ª) Uma menina chinesa andando pelas ruas de Hong Kong ia atravessar uma rua movimentada com um menino quase do seu tamanho nas costas. Um missionário viu aquilo e se ofereceu para levar o menino dizendo que ele era pesado para ela. Eis a resposta da menina: “Não é pesado não, é meu irmão”. Como precisamos recuperar a palavra “irmão” na igreja!…
2ª) Um árabe contemplava o deserto na luz dúbia do entardecer. Viu de repente uma figura pavorosa e deu uns passos para trás achando que era um monstro. Encheu-se de coragem e se aproximou mais descobrindo que se tratava de um homem. Aproximou-se ainda mais e descobriu era seu irmão. Aproximar do outro é a única maneira de enxergá-lo sem as deformações do preconceito. Quando encontro alguém que se parece antipático, aproximo-me e descubro virtude que desconhecia e assim me transformo enxergando o outro, e, indiretamente o outro é transformado.
3ª) Dois amigos também árabes, Mussa e Naguibe eram inseparáveis nas viagens comerciais pelo deserto. Um dia, à noitinha, diante de uma fogueira, discutiram e Naguipe, exaltado, deu um murro na cara de Mussa. Este então escreveu na areia: “Aqui, por motivo fútil, Naguibe esmurrou seu amigo Mussa”. Tempos depois atravessando um caudaloso rio, Mussa foi levado por uma correnteza e Naguipe atirou-se nas águas e salvou seu amigo. Mussa então escreveu numa rocha na beira do rio: “Aqui, como o perigo da própria vida, Naguibe salvou seu amigo Mussa”. A Lei de Cristo nos ensina isso: As ofensas devem ser gravadas na areia que logo o vento apaga, mas as coisas boas devem ser gravadas na rocha para durar para sempre. A bem-aventurança dos mortos (Ap 14:13) nos fala disso: “Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham”. Isso é uma maravilha da graça de Deus: o que fizermos de ruim já foi perdoado no sangue de Jesus Cristo, mas o que fizermos de bom nos acompanha por toda a eternidade.
CONCLUSÃO
– Comunhão cristã é a essência da igreja. Se ela falhar nisso, falhará em tudo. É nossa principal missão no mundo, nossa responsabilidade (v. 5)
– A Lei de Cristo, que levou sobre o peso do nosso pecado, é a lei que devemos encarnar em nossa vida em comum. A igreja deve ser um pouquinho do céu aqui na terra como nos ensinou Jesus a orar no Pai Nosso: “Venha a nós o Teu Reino, e seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. A lei de Cristo não uma lista de preceitos como era a Lei de Moisés, “mas o ideal da vida humana como foi encarnado na pessoa de Jesus Cristo (1 Co 9:211)” BJ. É o projeto de Deus para uma nova humanidade.
– O objetivo da vida cristã: sermos semelhantes a Cristo. Isoladamente ninguém pode espelhar toda a beleza de Cristo porque Ele tinha todos os dons e virtudes. Juntos, como corpo de Cristo podemos fazê-lo. A Igreja deve ser a maquete do Reino de Deus no mundo, e só consegue isso praticando a Lei de Cristo. Todos: “Levemos as cargas uns dos outros, e assim cumpriremos a Lei de Cristo”.
– Pequeno grande hino: “Pai, faz-nos um, Pai, faz-nos um. Para que o mundo saiba que enviaste Jesus. Pai, faz-nos um”