A PALAVRA É DEUS E HOMEM
Sermões natalinos (30): A PALAVRA É DEUS E HOMEM – João 1:1-14
Pastor Julio Borges Filho
INTRODUÇÃO
– Hoje comemoramos o Dia da Bíblia e estamos em véspera de mais um Natal de Jesus Cristo. Portanto, nada mais oportuno do que meditarmos num dos textos mais profundos da Bíblia que fala exatamente da Palavra de Deus que se fez carne expressando assim o coração da fé cristã. Erradamente dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é revelação de Deus/Palavra de Deus. A Palavra de Deus é Jesus Cristo. Não somos islâmicos que afirmam que a Palavra de Deus se fez livro, o Alcorão; somos cristãos que confessam que a Palavra de Deus se fez carne.
– Hegel, o grande filósofo alemão, defendeu que a inteligência do universo é espírito e que este tendia a se manifestar na inteligência humana, e assim materializar-se. O filósofo não andou longe da verdade cristã: O Criador do universo é Espírito e se manifestou de muitas maneiras na história humana e, e finalmente, tornou-se homem. É o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem. E nEle o nosso futuro é maravilhoso: uma humanidade verdadeiramente divina e humana.
– Aprofundemos neste Dia da Bíblia e neste Natal no mistério divino revelado na encarnação de Jesus Cristo e descrito profundamente pelo apóstolo do amor no texto sagrado que hoje está diante de nós.
-
A PALAVRA É DEUS – VRS. 1-9
-
“No princípio era o verbo/a palavra…”
– Ninguém, mais do que João, escreveu sobre a majestade divina de nosso Senhor Jesus Cristo. “Ele disse que Cristo, em sua essência divina, é a Palavra do Pai Eterno. Se a Palavra existia desde o princípio antes de qualquer criação, então essa Palavra é Deus.” (Lutero). Somente o Criador pode existir isolado da criação. João, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”. A Palavra não é algo criado, é eterna, portanto, Deus. O logos é a vontade Deus em ação.
-
O Apóstolo do amor usa o cântico que inicia a Bíblia para fazer tal afirmação dogmática: “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Deus disse: Haja luz; e houve luz” – Gn 1:1-3. O Verbo/A Palavra de Deus era Cristo. Com Sua Palavra criadora Deus criou todas as coisas: o sol, a lua, as estrelas no céu, a terra, as águas, as árvores e relvas, os habitantes das águas, répteis e animais, e, finalmente, o ser humano que o fez conforme a sua imagem e semelhança. Note-se que o Pai Eterno, em Gênesis 1, apenas falava no singular. Para criar o homem e a mulher, coroas da criação, invocou sua pluralidade: “Façamos o homem conforme a nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” – Gn 1:26. Somos seres criados pela pluralidade do Deus Uno (Pai, Filho e Espírito Santo/Mãe). Nossa essência primária é trinitária e espiritual, e todo e qualquer organismo humano e social só terá pleno sucesso se levar em conta essa essência, a partir da família. Rubem Alves foi o educador brasileiro que chamou mais atenção para tanto. A educação, afirmou ele, não é apenas ensinar a criança aritmética, português, etc, é ensiná-la a viver sabiamente. Quando professor na Faculdade Teológica Batista de Brasília, dizia aos alunos: “Minha missão é consolar os perturbados e perturbar os confortados” O professor é alguém que aguça a inteligências dos alunos para tomar decisões livres e certas. Assim estamos eternamente ligados a Deus, o que de Deus, do caos fez maravilhas, deu sentido à vida, e agora se manifesta em carne para nos redimir. Não estamos sozinhos no universo. Deus nos ama e vem a nosso encontra na pessoa de seu Filho Unigênito. Com isso concorda plenamente o Apóstolo Paulo quando afirma: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis…” – Cl 1:16. Quando o Espírito Santo fecundou a virgem Maria, aconteceu o miliagre dos milagres na história humana como bem expressa Santo Aostinho: “Jesus Cristo como Deus não tinha mãe, e como homem não tinha pai”. O Eterno tornou-se temporal; o Infinito, finito; o onisciente, ciente; o onipresente, presente. Paulo, escrevendo aos filipenses disse que Ele se esvaziou a si mesmo…
-
“A vida estava nele e a vida era a luz dos homens…” – vrs. 4-9. A vida, um dom de Deus, estava nele e era a luz dos homens. Jesus mesmo disse: “Eu o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” – Jo 14:6. Em várias passagens João registra Jesus afirmando: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” – Jo 8:12. Seu ministério terreno centrou-se na Galiléia dos gentios para cumprir a profecia do profeta Isaias: “O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz” – Mt 4:16. João, o precursor e maior homem nascido de mulher, não era a luz, mas veio para que testificasse da luz.
-
A PALAVRA É HOMEM – vrs 10 e 14
-
“O verbo estava no mundo…” João reafirma isso quando diz em sua 1ª carta que nossos olhos viram e nossas mãos apalparam o Verbo da vida. Não uma aparência de homem, mas homem; não era um anjo, mas um homem de carne e osso exposto a mal do mundo. Nasceu um bebezinho indefeso numa invasão em Belém da Judéia, seus pais fugiram para o Egito, agora terra da libertação, porque a Canaã bíblica, governada por um tirano, tornara-se terra da opressão e da morte de inocentes, frequentou a escola de uma sinagoga em Nazaré na Galileia, frequentava o templo com seus pais, reivindicou maioridade aos 12 anos quando discutiu com os doutores da Lei no templo de Jerusalém, foi batizado profetizando sua morte e ressurreição, foi tentado pelo diabo, tornou-se um servo que não tinha onde reclinar a cabeça, gostava de festas, ensinou, pregou, curou e precisou de amizades masculinas e feminina, experimentou a angústia e a depressão no Getsêmane, foi preso, julgado injustamente, pregado numa cruz, morto. Era um homem verdadeiro que viveu no mundo do seu tempo, a plenitude dos tempos.
-
“E o verbo se fez carne e habitou entre nós…” Morou conosco, fez tenda em nosso acampamento, respirou nossa poeira, andou por nossas estradas, percorrei vilas e cidades, sofreu nossos males, gozou nossas alegrias e nossas comidas e bebidas. Viveu intensamente sua vida, e tudo de modo cheio de graça e de verdade. O homem novo penetrou na história humana para resgatar o projeto original de Deus resgatando nossa plena humanidade.
-
O sepulcro não podia detê-lo porque ele era a vida que vence a morte. Leonardo Boff, num rasgo de inspiração escreveu: “Humano assim como Jesus só sendo Deus mesmo”.
-
NOSSA FÉ, ESPERANÇA E AMOR É ELE – vrs 11 e 12.
-
Cremos em Jesus Cristo e esta fé nos faz filhos de Deus – “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Fomos gerados, de fato, filhos de Deus. O mesmo Espírito que gerou Jesus no ventre de Maria, opera em nós, graças à obra vicária de dele, em nós, e faz-nos novas criaturas. “Se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas velhas já passaram; eis que se fizeram novas” – 2 Co 5:17.
-
Nossa esperança é Jesus Cristo – Vivemos nesta esperança, a de sermos plenamente humanos como Jesus, semelhantes a Ele, mas jamais iguais a Ele. Seremos nós mesmos plenamente humanizados e divinizados. Seremos deuses e homens, e reinaremos com Ele pelos séculos dos séculos, isto é, por toda a eternidade. Se a teoria da evolução estiver certa há de ser explicada assim: fomos barros, alma vivente, seres humanos, pecadores salvos, e seremos semelhantes a Ele por havermos de vê-LO como Ele é – 1 João 3:2.
-
Nosso padrão ético é Jesus Cristo – Nele seremos o que fomos chamados a ser: filhos de Deus, seres amoráveis e amorosos. Aqui ainda estamos sujeitos a preconceitos, limitações de julgamento, raiva, ódio, frustrações, mas queremos andar como Ele andou neste mundo. Somos seus discípulos e Ele é nosso Mestre que nos ensina a lavar os pés uns dos outros, a não julgar ninguém, a reconhecer nossos limites e finitude, a sermos mais humildes e a nos apegar às coisas lá do alto onde a traça e a ferrugem não chegam e onde ladrões não roubam.
CONCLUSÃO
– A encarnação da Palavra de Deus une definitivamente Deus e o homem. Jesus Cristo levou para o céu algo que não trouxe de lá: sua humanidade. Ele, aqui, trouxe o céu para o nosso coração.
– Confessemos nossa fé, nossa esperança e nosso amor como filhos de Deus em Cristo,
De três maneiras:
-
Um vela acesa e recitanto João 8:12 (Luzes apagadas”;
-
Lendo em uníssono o Credo Apostólico:
Creio em Deus, Pai todo Poderoso, Criador do céu
e da terra, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso
Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da Virgem
Maria, que foi crucificado sob o poder de Pôncio
Pilatos, sepultado, e ao terceiro dia ressurgiu da
morte, que subiu ao céu e assentou-se à direita do
Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os
mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja, na
remissão dos pecados, na ressurreição da carne, e na vida eterna.
-
E cantato o hino “Aleluia” completo:
Aleluia…
—————
Ele vive…
—————
Ele volta
—————
Ele reina….