Sermões

A VOZ ESTRANGEIRA DE DEUS

Evangelhos que chocam (2):     A VOZ ESTRANGEIRA DE DEUS                     – Mateus 2:1-12

            O Evangelho de Mateus traz de modo surpreendente novo a tensão entre a linguagem da terra e a linguagem do céu. No capítulo 1 vimos A VOZ FEMININA DE DEUS (As avós de Jesus: Tamar, Raabe, Rute, Betseba, e ainda Maria). No capítulo 2 é a vez da visita dos magos que nos mostram que Deus não pode domesticado.

            O encanto da visita dos magos: um conto fantástico (Lenda do século 8: três (Baltasar, Gaspar e Belchior), inclusive com um rei trapaceiro e cruel.

Lições preciosas: 1) O anúncio nascimento através de uma estrela; 2) As incertezas da viagem; 3) O fim não era o fim; 4) A solene adoração em Belém com presentes principescos (Os padres da igreja viam nos presentes a realeza, o ouro; a divindade, o incenso; e a paixão, a mirra. Já um amigo psicólogo destacou a providência para a viagem da família sagrada ao Egito: ouro para o sustento, mirra como remédio, e incenso contra os insetos).

Por que a parte que choca é evitada? – A voz estrangeira de Deus: o Evangelho nas outras religiões, em outras culturas, e na ciência.

OS PRIMEIROS ADORADORES DO MESSIAS DE ISRAEL

            São estrangeiros – Os magos, caldeus no original,  aprenderam sobre o nascimento do Messias através de suas práticas religiosas consideradas infiéis para os judeus. Examinam as estrelas na lógica de sua religião. A voz do céu está escrita nas estrelas. Magos: praticantes de artes mágicas (adivinhos, feiticeiros, astrólogos, bruxos. práticas rigorosamente proibidas na lei mosaica (Dt 18:10 e 11; Atos 19:8; Gl 5:20). Podem ser considerados astrônomos antigos oriundo da Média (Pérsia, Babilônia ou Arábia). A fama dos magos foi grande entre os anos 500 a.C e 200 d.C. Alguns eram matemáticos, outros astrólogos, alquimistas, e eram contratados a peso de ouro para fazerem horóscopos para antecipar grandes acontecimentos. Havia profecias que anunciavam nascimentos de reis e grandes catástrofes através do aparecimentos de sinais nos céus como cometas. Tanto que a morte de Julio César foi predita por um cometa e também o suicídio de Nero. Na China, Grécia, Egito e Babilônia tal crença era propagada. Quanto à misteriosa estrela há, através dos séculos, muitas interpretações: Kepler achava que era a conjunção dos planetas Júpiter e Saturno que teria acorrido no ano 6 a.C, o cometa Halley para alguns astrônomos, teólogos vêm nisso a presença de um anjo luminoso, e o autor de “Eram os deuses astronautas” vê um disco voador, etc.

            Os sacerdotes e escribas, que conheciam as Escrituras, tanto que encontraram em Miquéias 5:2 a localidades, Belém da Judéia, mas não sabiam de nada do nascimento do messias porque a sabedoria comum, mesmo dos livros sagrados, são vozes vindas da terra.

            No palácio de Herodes a voz da terra se torna pura opressão e ameaça de morte com uma estanha aliança entre o palácio e o templo. Herodes pergunta, os sacerdotes respondem, e a matança de crianças se consuma pela vozes da terra.

             As vozes do céu vêm através de uma incessante atividade misteriosa de uma estrela, de anjos e sonhos. Quando as vozes da terra se tornam ameaçadoras e destrutivas, o mistério da voz de Deus, de sua ação na vida das pessoas e nações, se contrapõe a essas vozes. A voz de Deus não está no palácio nem no templo. Os sacerdotes não podem ouvir a voz de Deus porque, com os olhos fixos nas Escrituras, não têm tempo de olhar as estrelas. E, como dizia Olavo Bilac em belíssimo soneto, “só quem ama pode ter ouvidos capaz de ouvir e entender estrelas.” Há um conhecimento complementar que não pode ser atingido por práticas naturais; precisa da ação de Deus para ser efetivado. 

O EVANGELHO NAS OUTRAS RELIGIÕES/FÉ CRISTÃ E CIÊNCIA
 

            A paz no mundo passa pelas religiões – “Não haverá paz no mundo sem paz entre as religiões” (Hans Kung em seu Projeto de Uma Ética Mundial).

            Cenas no AT – Abraão e Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, a quem Abraão deu os dízimos. No politeísmo antigo havia o Deus Altíssimo, Deus acima de todos os deuses, indiferente aos homens, e os deuses intermediários menores. No livro do rabino Nilton Bonder, O Caminho de Abraão, há muitas histórias preservadas pelo judaísmo e pelo islamismo. Uma delas diz que Abraão recebeu em sua tenda um politeísta fanático que propagava a sua fé. Abrão, impaciente com o homem, o expulsou de sua tenda, e depois foi conversar com Deus. Deus lhe disse: “Abraão, eu tolero aquele homem a 20 anos e você não o tolerou nem por algumas horas?” Getro, o sogro de Moisés, era um sacerdote em Midiã.  Os dez mandamentos (Código de Hamurabi). O templo é uma herança pagã, tanto que o propiciatório nada mais era do que um pedestal para Deus se assentar e conversar com o sumo sacerdote no Lugar Santíssimo.

            Cenas no NT – Jesus e o encontro com o centurião de Carfarnaum, com a mulher sírio-fenícia, com os samaritano… As parábolas fariseu e o publicano e a do Bom Samaritano que fazer vilões os religiosos e heróis hereges e pecadores. Os escribas e fariseus e os prosélitos (Mateus 23:13,15). Os Filósofos gregos e a teologia cristã. A competência da alma em matéria de religião.

            Paul Tillich e Minha experiência pastoral –  Para Tillich, comunidade espiritual de Cristo é uma só: A visível (a igreja) e a latente (outras religiões).  Pierre Well: Fundação Cidade da Paz (Granja do Ipê) e sua conversão numa caverna entre monges budistas.

 D E S A F I O S 

                   A tolerância religiosa e uma fé não fundamentalista são essenciais à fé cristã. É bom reconhecer que o nosso conhecimento, como diz Paulo, é em parte, e não somos senhores da verdade, e tão pouco podemos engessar Deus. A renovação da mente (Rm 12:1-3) é um imperativo nosso. Conta-se que no fundo de um poço morava uma  rãzinha que achava não havia nada maior do que ele. Um dia apareceu no seu poço outra rã bem viajada que, inclusive, já tinha visto o mar. Trava-se entre elas o seguinte diálogo. A rãzinha: “Você já viu o mar?” A outra responde afirmativamente. “O mar é deste tamanho”, e abriu as patinhas. “Em bem maior”, responda a outra. “É maior do que o meu poço?”, insiste a rãzinha. “Seu poço não é nada diante do mar”, responde. E a rãzinha, irada, grita: “Ponha-se pra fora do meu poço, sua subversiva e herege, porque no mundo não há nada igual ao meu poço.” Quando Cristovam Buarque foi governador do DF, pediu-me para organizar um Fórum Religioso de Diálogo com o governo do DF. Argumentava ele que isso facilitaria o diálogo porque havia muitas solicitações religiosas. Gostei da idéia. Fale com o então Arcebispo de Brasília, Dom Armando Freire Falcão, e ele indicou um bom padres. O presidente do COPERV/DF, Rev Rui, disse-me que ele mesmo representaria os evangélicos. O presidente da Federação Espírita do DF, Murtinho, também veio para o Fórum, depois um Pai de Santo representando as religiões afro-brasileiras e, finalmente, dois representantes das religiões orientais. Recordo-me de quatro experiências marcantes: 1) a abertura do Fórum quando o pregador não foi o arcebispo católico nem o pastor evangélico, mas o espírita; 2) através de Roberto, líder da Comunidade Barrai em Brasília, entrei e orei em sua casa para abençoar sua família, a seu pedido; 3) o encontro com representantes de religiões orientais na Colégio das Nações no Lago Sul; e, 4) a freira budista Suely e sua intervenção na aposentadoria de Gil, minha esposa, e sua atitude de oração num encontro com deputados distritais.

            O diálogo inter-religioso/diálogo fé ciência – Li uma matéria do jornal El País intitulada: “O Bom Samaritano era ateu.” Dizia que numa pesquisa ficou demonstrado que as pessoas religiosas são menos altruístas que as pessoas ateias.

            Como evangelizar sem ser intolerante? Quando pastor da Primeira Igreja Batista de Teresina, os jovens me desafiaram para evangelizar um povoado no Maranhão dominado por um famoso feiticeiro. Foi com um certo medo porque era então um pastor jovem. Pedi permissão ao feiticeiro, ele deu e pediu que o culto fosse realizado na frente de sua casa, e ele mesmo assistiu. Gostou e me pediu para voltar. Era um homem quase analfabeto, mas sábio e carismático, vítima do preconceito religioso. Tive uma ovelha macumbeira que me ensinou muitas coisas, entre elas, que a bondade não é patrimônio religioso. Conto a história. Quando pastor da Terceira Igreja Batista de Brasília, na Asa Norte, conheci a irmã Eva… Minha experiência no Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como Água Mineral. A vida: “Sem o testemunho da vida o testemunho da palavra não tem valor; sem o testemunho da palavra o testemunho da vida não tem explicação. Nosso desafio é ver a pessoa humana antes de julgar a  sua crença.

            Exercícios de amor falam mais alto do que palavras. No Ministério Urbano a presença vem antes da pregação porque precisamos, antes de tudo, conquistar para depois ser ouvido. O proselitismo objetiva o crescimento da igreja e torna as pessoas alcançadas semelhantes a nós. A evangelização objetiva levar Jesus Cristo às pessoas para que elas sejam semelhantes e Ele. 

            “Que é inteligente?”, perguntam os sábios e respondem: “Aquele que aprende de todo ser humano.” Não somos donos da verdade, somos eternos aprendizes de Jesus Cristo: “Aprendei de mim…”

            A fonte do desejo de poder é o controle. O fanatismo e o consumo querem colocar para dentro o que é externo, o primeiro pela certeza e o segundo pela posse. O extremo oposto da espiritualidade não é o materialismo ou a ciência, mas o fanatismo. No Evangelho de Jesus Cristo não há lugar para os dois, mas para o amor que conquista e atrai. “Eu quando for levantado da terra a todos atrairei a mim.”

            Toleremos os outros, toleremos a nós mesmos e, como Abraão, sacrifiquemos a nossa certeza na busca da boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Vivemos num mundo onde ouvimos mais as vozes da terra do que a do céu. Levantemos nossos olhos e olhemos como os magos as estrelas. Às vezes precisamos tirar nossos olhos da Bíblia de modo frio, intolerante e cruel como os dos escribas, sacerdotes e Herodes, para ver o que Deus quer nos mostrar nos encontros diários com pessoas e com a natureza.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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