Evangelho de João: O Senhor da quantidade
EVANGELHO DE JOÃO: VIDA PARA A CIDADE – Pastor Julio Borges Filho
Sermão 4: O SENHOR DA QUANTIDADE/DESAFIOS – João 6:1-15
Introdução:
– Este é o milagre mais popular de Jesus, tanto que é o único registrado pelos quatro evangelistas. É o quinto sinal do Evangelho de João e apresenta Jesus como O Senhor da quantidade. Mas, para além da multiplicação dos pães e peixes, aqui encontramos grandes desafios para a igreja.
– Arnold Toynbee, em seu manumental Estudo da História, afirma que “uma civilização sem desafios deve perecer.” Isso se aplica à igreja e à vida. Bertrand Russell segue na mesma direção quando disse que “aqueles que temem os desafios da vida já morreram pela metade.”
– Portanto estamos diante de um texto revolucionário repetido por todos os evangelistas. Por isso mesmo é desafiador em todos os sentidos. Aproximemo-nos dele tentando evitar o perigo da espiritualização.
I. O desafio de uma visão – v. 5ª, Marcos 6:30-34
1. Missão cumprida, descanso merecido – O texto nos fala de nossos limites: mesmo o Filho de Deus precisou de descanso. Uma verde planície perto de Betsaida Julia.
2. Visão de uma multidão que nos persegue – O povo está sedento e faminto da Palavra de Deus.
3. Uma visão inspirada em Cristo
– Uma visão cheia de compaixão – Ele não vê com os olhos dos sociólogos… dos psicólogos… dos políticos… dos turistas…, mas com os olhos do Redentor: Compadeceu-se delas, porque eram como ovelhas sem pastor”. Um visão cheia de compaixão. Onde nós só vemos uma flor, um poeta vê beleza e poesia; onde nós só vemos uma gota d´água, um cientista ao microscópio vê um mundo onde incontáveis seres habitam; onde só vemos uma multidão de pessoas incômodas, Jesus vê homens e mulheres que ele veio salvar. Os sentidos nos dão uma visão carnal, a mente nos dá uma visão racional, e a fé nos dá a visão de Cristo.
– Uma visão das necessidade humanas. A referência a 1 Reis 22:7 tem uma dimensão política. Refere-se às palavras do profeta Micaías ao rei Acabe: o povo desgarrado sem pastor, sem liderança, sem esperança. Precisamos nos conscientizar das necessidades populares porque vivemos diante um deficit de esperança quando a descrédito nas lideranças políticas e religiosas. Precisamos ampliar nossa agenda de oração com as necessidades de nossa cidade.
– Uma visão terrível de pessoas vocacionadas para serem filhas de Deus, desorientadas e descaminhadas para a perdição. A compaixão é o fundamento da solidariedade humana.
II. O desafio da avaliação – vrs. 5b a 9, Mc. 35-38
- Soluções;
– Os discípulos: Despede-os… = Fuga.
Resposta de Jesus: Daí-lhes vós mesmos de comer.
– Um economista pessimista (Filipe): Cálculo (200 denários) = 14.000,00. E não resolveria o problema.
– André (prático e irônico): Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente?
- Quantos pães tendes? Ide ver
– É a hora do inventário: 5 pães e 2 peixinhos.
– Um exercício necessário, mas frustrante. É a avaliação do temos e somos.
– A avaliação é fundamental: viver sem perder o sentido da vida.
III. O desafio da organização, v. 10 e Mc. 6:39 e 40
- A organização da multidão: grupos de 100 e de 50. Grupos alegres, de convivas em banquete. Pareciam canteiros sobre a relva. Muita gente sem organização é massa de manobra; organizados é povo.
- Planejamento objetivo
IV. O desafio à consagração, v. 11ª
- Oração consagratória: Bendido é Tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo, que fazes a terra produzir pão.
- O pouco que temos nas mãos de Jesus opera maravilhas. Ou consagramos tudo ou perdemos tudo. O que temos um dia nos será tirado.
- A superficialidade de nossa consagração
– Duas ilustrações: 1) O menino e a mão presa no vaso precioso
2) O sonho do Papa – Sonho que se transformou e pesadelo. Sonhou o Papa que estava enfrermo precisando de um transplante de coração. Colocou o problema para a multidão de fies reunida na Praça de São Pedro, em Roma: Meus filhos, preciso de um coração. E todos gritaram: Eu te dou meu coração. O Papa ficou confuso porque precisava só de um coração. Após um momento de pausa, teve uma idéia. Pegou um pena de ave e disse ao povo: Sobre quem cair esta pena, este dará o coração para mim. E soltou a pena que saiu dando voltas ao vento e quando se aproximava de uma pessoa esta sobrava, e a pena nunca caia. Eis o retrato da superficialidade de nossa consagração. Oferecemos tudo, mas retemos tudo ou quase tudo. No livro “Por que as igrejas morres” o autor apresenta 52 razões, mas a principal é a teologia da acomodação.
- A igreja como comunidade do Espírito (não na perspectiva institucional): dons, capacidades, todos trabalhando e consagrando tudo. É o anarquismo cristão/o governo de Cristo.
V. O desafio à ação de repartir, v. 11 b, Mac 41b a 44
- Solidariedade: compartilhar com os outros o que recebemos da mão do Senhor. Interpretações do milagres: 1) Eucarístico (Católica); 2) multiplicação dos pães e peixes (tradicional); e 3) a solidariedade: cada um, sensibilizado, colocou para fora o lanche que trazia de casa (William Barklay).
- A ação foi simultânea alcançando a todos
- A matemática de Jesus: 5+2= 5.000+ 12
VI. O desafio a um estilo de vida simples, vrs 12 e 13
- Um não ao desperdício (poupança): um cesto para cada discípulo incrédulo.
- Vivemos numa sociedade de consumo: desafios
VI. O desafio à oração, vrs 14 e 15, Mc. 6:45 e 46.
- Administrar multidão x monte: o mundo e Deus. Não podemos trair a Jesus Cristo e à missão do Reino. Todas as vezes que a igreja se aproximou do poder político e econômico, corrompeu-se e se afastou de Cristo tornando-se irrelevante para o mundo.
- A oração pode ser uma bênção ou uma maldição. Bênção se nos põe em comunhão com Deus fugindo das tentações; maldição se é usada como arma para oprimir ou manipular outros.
Conclusão:
– Na relação com a multidões precisamos ter certeza da presença do Senhor.
– Certeza de o que fizermos, poderemos fazer melhor. Deus abençoa os inconformados como o que são e com o que fazem.
– Deus procura pessoas com
. uma visão inspirada em Cristo
. que tenham coragem de fazer uma constante avaliação
. Que saibam organizar as massas transformando-as em povo de Deus
. que consagrem tudo que é e tem e conclame outros à consagração
. Que estejam prontos a passar adiante o que recebem das mãos do Senhor
. Que vivam com simplicidade numa sociedade consumista e egoísta
. E que, sobretudo, orem fugindo das tentações da popularidade, política e econômica.
– Exercício: Quando contemplo minha cidade, o que me faz chorar (Neemias). Provavelmente é aí que Deus quer que você aja. E lembremos sempre: Jesus é o Senhor da qualidade.