Maturidade espiritual
Pr. José Carlos de Souza Santos
“Para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo…” Ef. 4:14 e 15.
Somos fadados à maturação: “Envelhecer é inevitável, amadurecer é opcional”!
Todo ser humano tem um ciclo natural. Nascemos, crescemos e morremos. Passamos por fases: primeira infância, segunda infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice. Como disse: estamos fadados à maturação.
Em se tratando de vida cristã, não é diferente. A vida cristã é dinâmica e constante. Não há como parar. É preciso crescer e buscar a maturidade. Há uma necessidade latente de movimento. Não podemos ficar parados no estágio inicial da conversão. É preciso crescer, como diz o texto; “… cresçamos em tudo”.
O psicólogo americano Starbuck, cita os três tipos básicos de conversão religiosa: a conversão negativa (mera submissão), a conversão volitiva, e a conversão gradual. Lembremos as três conversões de Pedro:
1ª – A conversão por submissão: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram” Mt 4:18 a 20.
2ª – A conversão volitiva (vontade): “Pedro tu me amas?” Jo 21:15-17. Conversão do coração.
3ª – A conversão gradual: Pedro vai à casa de Cornélio e é confrontado em seu Judaísmo pelo evangelho agregador de Cristo. “Mate e coma… Não chame de maldito aquilo que Deus abençoou”. Atos 10: 13-15. Pedro quando entendeu isto disse: “… quem era eu para que pudesse resistir a Deus”. At 11:17. “… este é o Senhor de todos”. At 10:36. Assim, Pedro cresceu e pode contemplar a grandiosidade do evangelho.
Por longos anos de estudo, sempre me deparei com o texto de Efésios 4: 7- 16 sendo ministrado como a “Doutrina dos dons”. Sempre que queremos ensinar sobre hierarquia e dons, recorremos a este texto. Porém, percebo que o importante não é a divisão dos cargos e dons; não é saber quem é profeta, bispo, evangelista, pastor ou mestre. Importante é o apelo que Paulo faz para que cresçamos. “Para que não mais sejamos como meninos…” Na ânsia pelo “poder”, as pessoas sempre almejam os cargos de maior destaque. Há uma busca incessante pelo pódio. Nossa egolatria nos orienta a buscar os melhores lugares. Lugares de destaque para que sejamos vistos e admirados.
Do mesmo modo como esperamos que um ser humano se desenvolva fisicamente e chegue a desempenhar as funções normais do corpo e da mente, praticando as atividades de um indivíduo socialmente produtivo; também esperamos que o servo de Deus alcance a maturidade emocional e espiritual. Porém, na prática isto não acontece. Há pessoas que não atingiram e nem vão atingir a maturidade física, emocional ou espiritual. A própria Bíblia nos mostra que nem todos os homens atingiram a maturidade emocional e muito menos a espiritual. Nem todos podem afirmar como Paulo: “Quando era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas de menino”. I Cor. 13:11.
O pesquisador cristão Strunk (Mature Religion) diz que a religiosidade só será crescente quando nos livrarmos dos desejos infantis e compreendermos a relação entre aquilo que é e aquilo que deve ser. Bingooooooo! Tá aí o segredo: a extensão do “eu” é a primeira marca da maturidade cristã. Na infância, a orientação do indivíduo é voltada para o “EU”. Na adolescência, o ser humano torna-se capaz de incluir o “outro” no seu sistema de valores e em suas relações com o universo. O “eu” é particular da criança e é pequeno demais para incluir “outros”. Na adolescência há uma expansão do eu e torna-se necessário a inclusão de outros, ou seja, a expansão do “eu”. Por isso, os adolescentes procuram grupos, tribos e afinidades. Procuram se conectar ao mundo de alguma forma: cabelos, roupas, linguagem e comportamentos. E só na adolescência que o ser humano é capaz de incluir o “outro” no seu sistema de valores e em suas relações com o universo.
Há cristãos que são como crianças. Nunca querem expandir o seu “eu”. São infantes na fé, na oração, na comunhão e nas emoções. Recusam-se a crescer. Estão sempre procurando uma religiosidade assistencialista e de autovalorização. São meninos levados por todo tipo de doutrina. Não buscam crescimento espiritual e nem emocional. São pessoas que já estão no evangelho há 5, 10, 20, 30, 40 anos e nunca saíram do leite espiritual. Paulo, em I Cor. 3:1-2, diz: “ Eu, porém, irmãos não vos pude falar como espirituais, e sim como carnais, como crianças em Cristo. Leite vos dei de beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podeis suportá-lo”.
O evangelho que se prega é extremamente infantilizado. São pessoas cheias de mimos e lamentos, não sabem como se conectar com o mundo e fazer diferença no mesmo. São homens e mulheres frágeis na fé, na comunhão e nas emoções. Crentes cheios de querer e de exigências. São prosélitos que demonizam tudo e todos.
O que Paulo realmente quer, é que cresçamos e amadureçamos em tudo naquele que é a cabeça – Cristo. Com base na palavra é preciso observar 03 mandamentos do texto:
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Cresçamos: estar em movimento espiritual e emocional é fundamental. É preciso evoluir. Para sair da infância é preciso querer crescer e assumir as responsabilidades da maturidade. Para muitos é mais interessante viver como criança porque se sentem assustadas com a vida adulta. É mais confortável continuar funcionando como criança. Estar em Igrejas que facilitam o desempenho através de práticas e costumes, dogmas e liturgias confusas e cheias de sincretismos. Verdadeiros jardins de infância, que de fato estão aí para cumprir aquilo a que se propõem.
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Amadureçamos: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos”. 1Cor. 14:20. A extensão do “eu” é o primeiro sinal de maturidade. É preciso agregar e fazer a diferença neste mundo globalizado. Manter amizades, envolver-se em fatos sociais – com certa distância emocional para não se deixar dominar pelas frustrações – caso contrário, este envolvimento resultará em carregar o mundo nas costas, a exemplo de Atlas. Também é necessário desenvolver a segurança emocional, ser capaz de autocrítica, e de não ocultar à realidade em troca de fantasias.
Uma pessoa amadurecida sabe manter um relacionamento de liberdade com Deus e não foge às responsabilidades desta liberdade. Uma pessoa amadurecida se conecta com este mundo e sabe lidar com a ciência, com a arte, com a política e com o próximo… Ama o próximo como a si mesmo: sem segregar ou julgar, mas com tenra misericórdia.
Estejamos alerta: “… pela artimanha dos homens, pela astucia com que induzem ao erro”. Lembremos que o texto não diz que é o diabo que provoca a imaturidade na igreja, mas sim homens astutos que induzem ao erro. O principal atributo que a Bíblia exige para alguém ser um pastor é que seja… “É necessário, que o bispo seja,… apto para ensinar”. I Tm. 3:2. Ensinar as Escrituras Sagradas é introjetar valores que auxiliem na construção da identidade tanto espiritual quanto a emocional, integralizando corpo alma e espírito. Esta metanoia( mudança de mente), proporciona um crescimento tanto na vertical (Para Deus), quanto na horizontal (para os homens) tornando-o a luz do mundo e o sal da terra. “Meu povo está morrendo por falta de conhecimento” Os. 4:6. É preciso crescer com urgência. Mestres, bispos, apóstolos, pastores… Todos foram instituídos para aperfeiçoamento dos cristãos e sua edificação: “O QUE NÃO EVOLUI, INVOLUI”!