Os Trabalhadores na Vinha
Julio Borges Filho
Mateus 20:1-16
INTRODUÇÃO
– As pessoas e circunstâncias desta parábola todas são conhecidas e familiares: cenário terreno com elementos da vida diária, nada de religioso ou sobrenatural (mercado de trabalho – operários e desempregados, um empresário, salário, contrato de trabalho e discussão da tarifa). O que surpreende é a prática deste singular empresário, aqui chamado de “dono da casa”. Contrata trabalhadores pela madrugada, às 9 horas, perto das 12 horas e às 17 horas, e paga a todos o mesmo salário (um denário, cerca de 70 reais). Se o contexto fosse hoje, em pleno advento dos sindicatos, ele provocaria confusão na estrutura econômica.
– Como entender esta parábola? Mesmo consultando o contexto o assunto não se torna claro. Pedro (19:27) pergunta: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que será, pois, de nós ou que recompensa teremos?” Jesus responde com esta parábola: ainda que alguém venha na última hora, pagá-lo-ei integralmente. Revolta: Como entender a lógica de Jesus? Não há injustiça? Aqui entramos na economia do Reino de Deus…
- I. UM TELEGRAMA EM CÓDIGO
- 1. O código: O trabalho na vinha é um presente – Eis o ponto que dá acesso à parábola. O que importa aqui não é o salário merecido. O trabalho traz e si mesmo a recompensa. Há um belo hino cujo refrão diz: “Servir a Cristo não é sacrifício…”
- 2. Jesus fala contra a religião legalista que trazemos em nosso coração. Trabalha-se para o céu: ofertas, sacrifícios, orações, obras, penitências. Agimos como escravos cheios de medo e não como filhos. A comunhão com Jesus não é um assunto comercial. Segui-lo tem um sentido em si mesmo e é uma bem-aventurança. Gosto muito de uma frase de Caio Fábio: “Seguir a Cristo é o mais fascinante projeto de vida”.
- 3. Colaborar com Deus é uma bem-aventurança – Estamos envolvidos na missão de Deus no mundo. Os problemas humanos vêm do fato do homem deixar de ser colaborador de Deus vagando pela vida por conta própria. O sentido da vida está onde somos colocados e necessários na vinha do Senhor. Vale a pena enfrentar a fadiga e o calor do dia. Quando Pedro pergunta “Que recompensa teremos?” não havia ainda entendido o verdadeiro sentido do discipulado. Pode haver vida mais realizada do que a do discípulo de Cristo e colaborador de Deus?
- II. OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA
- A grandeza do “dono da casa” – a generosidade de Deus. Duerremmat tem uma peça teatral, “A visita da velha senhora”. É a história de uma senhora que, por causa de uma decepção amorosa com o namorado da juventude, tornou-se rígida, dominada pelo ódio e pela amargura. Casa-se e divorcia-se várias vezes, e nada de espontâneo acontece em sua vida. O namorado converte-se no último instante e tem uma história… Deus nos dá chance até à última hora.
- Eles não zombam dos outros, apenas lamentam cada hora desperdiçada inutilmente. A liberdade que gozavam fora da vinha não proporcionava felicidade, mas medo, incertezas e inutilidade. Ser útil é ter sentido na vida. Quando pastoreei a 1ª Igreja Evangélica Batista de Teresina, tinha uma ovelha, o irmão Franco, já idoso, e que só na idade avançada conheceu a Cristo. Nos cultos das crianças, geralmente nos quinto domingos pela manhã, ele chorava copiosamente vendo os filhos de diáconos (diáconos mirins) em ação recolhendo as ofertas e orando. E lamentava o tempo perdido fora da vinha. Razão tinha, portanto, o poeta quando escreveu: “Ó, quanto eu sinto, Cristo amado,/que tanto tempo já perdi./ do teu rebanho separado/ a vida não achei sem ti/ Ó, quanto sinto, Eterno Rei,/ que tarde só te amei.”
- III. “SÃO MAUS OS TEUS OLHOS PORQUE EU SOU BOM?”
- 1. O legalismo tem uma visão distorcida da vida: salário justo. É gerador de complexos, invejas e egoísmo.
- 2. A bondade nunca é excessiva!… Mas quando o “dono da casa” a pratica, já não a apoiamos. Entramos em greve. Por que? Se descobrirmos o “por que” teremos entendido algo essencial em nossa vida. Os que trabalharam o dia todo não teriam reclamado contra a bondade do patrão se esta fosse aplicada a eles próprios. Somos grande reclamadores porque a bondade de Deus foi aplicada na pessoa errada e não em mim. Estaríamos dispostos a trocar de lugar com os outros? Não conhecemos a vida do outro. Por isso não podemos julgá-lo e nem julgar a Deus.
CONCLUSÃO: lições
1ª) Com um olhar esguelho nunca chegaremos a ver a bondade de Deus. Quem procura a bênção com um olho e com o outro quer controlar o próximo, torna-se vazio e incapaz tanto de reconhecer a bênção quanto de compreender o próximo. É um pobre e infeliz descontente com tudo e consigo mesmo. Ilustração: O irmão mais velho da parábola do filho pródigo.
2ª) A bem-aventurada certeza da bondade de Deus somente a obtenho quando confio que Ele cuida de seus filhos além do que peço ou posso entender, e que também eu sou amparado nesta bondade.
3ª) O exemplo maior: Jesus Cristo na cruz. Ele não invejou os carrascos e a soldadesca embriagada, nem os sacerdotes ou Pilatos. Em meio a dores terríveis, na liberdade de Filho de Deus, orou: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” O pai conhecia a miséria dos vencedores… “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito”. Era alguém que não olhava de soslaio, mas olhava os outros com o olhar do Pai: compassivamente. Era como o Pai e, por isso, inclinou a cabeça em profunda paz.