Ser Cristão
Sermão: S E R C R I S T Ã O – Lucas 9:57-62
Pastor Julio Borges Filho
A declaração de Ângela Merkel, primeira ministra alemã (filha de um pastor protestante) sobre a questão dos refugiados na Europa: “O europeu precisa retornar à igreja e ler as Escrituras para aprender o que é ser cristão”. Acho que a premier alemã queria chamar a atenção para a solidariedade humana. Para ela ser cristã é ser solidária com os estrangeiros e excluídos. Ela não está longe da verdade. Está diante de nós a pergunta: O que é ser cristão?
Como toda inflação, também a inflação conceitual também desvaloriza. Vivemos no mundo ocidental cristão, num país cristão que tem partidos políticos cristãos, doutrina que se dizem cristãs absurdas, etc, e quase todo mundo se diz cristão.
O que é ser cristão, afinal? Vamos refletir nisso e retornar às nossas origens, sem esgotar a matéria porque cada geração de cristãos deve descobrir como ser cristão na sua própria época porque o processo de encarnação é um processo histórico.
É SER DISCÍPULO DE CRISTO
O conhecimento de Deus – Imagens erradas de Deus: O deus controlador/ditador, o deus guerreiro, raivo, etc. Viktor Frankl, o grande psiquiatra austríaco disse que “Deus é o parceiro de nossos monólogos mais íntimos.” Em outras palavras, Deus é nosso amigo e companheiro e habita no mais profundo do nosso ser. Mas a mais profunda imagem de Deus que temos na revelação bíblica, é a que nos foi revelada em Jesus de Nazaré. Ele é a face humana de Deus na terra. Deus é Pai, mas um pai Santo, nos ensinou Jesus. Os primeiros discípulos o seguiram como um rabi, mas no meio do seu ministério, diante da confusão sobre ele, Ele pergunta aos Apóstolos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Resposta: “Uns dizem que é Elias, outros Jeremias, outros João Batista ou algum dos profetas”. Vem a pergunta direta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” Para eles que, inicialmente o seguiram como um rabi, nEle encontraram o segredo da vida e da história humana. Por isso Pedro responde inspirado pelo Espírito Santo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” – Mateus 16:13-20. E é sobre esta pedra, esta confissão, que foi edificada a Sua igreja. Nós, que seguimos a Jesus Cristo, confessamos que Ele é o Messias e o Filho de Deus. Ele, para nós a chave de interpretação da vida, da história e do mistério de Deus e do mundo.
Segui-lo, porém, tem implicações (o texto): é prioridade de vida. Ser cristão, no cristianismo primitiva, era ser perseguido… O texto acima nos fala disso. Os cristãos primitivos para confessar sua fé em Cristo foram perseguidos, tiveram seus bens confiscados, e muitos foram martirizados. Tal fé viria a mudar o mundo.
Em suma, ser discípulo é ser aluno dEle e de mais ninguém como expressa o belíssimo hino do Pastor Tarsis Wallace Lemos:
SOU ALUNO DELE E DE MAIS NINGUÉM.
Ele me ensinou a brilhar na escuridão
Ele me ensinou a estender a minha mão
Ele me ensinou a ter amor e compaixão
Ele me ensinou a enfrentar a multidão.
Sou aluno dEle e de mais ninguém (bis)
Ele me ensinou a nunca marginalizar
Ele me ensinou que aos inimigos devo amar
Ele me ensinou que as tradições devem passar
Ele me ensinou que as lições devem ficar.
Ele me ensinou a jamais me acomodar.
Ele me ensinou as estruturas renovar
Ele me ensinou aos desafios enfrentar
Ele me ensinou que a coragem é pra se usar
Ele me ensinou a contestar o fariseu
Ele me ensinou que o mau cristão é um ateu
Ele me ensinou que o que é meu não é só meu
Ele me ensinou que o que é meu também é seu.
Ele é nosso padrão ético: devemos andar como ele andou (1 Jo 2:6). Nossa missão é a mesma: enviados por ele ao mundo das necessidades e desafios humanos. Nosso método é o mesmo, o método de servo… Nossas tentações são as mesmas mudando apenas de formas e de tempo. Belo é o livro de Carlos Sheldon: “Em seus passos que faria Jesus?”Ele é o Mestre que tem autoridade, dá exemplo, e ensina-nos a sermos humanos: seres autênticos, transparentes, sem preconceitos, humanos e comprometidos. Ser discípulo é ser comprometido com os ideais do Reino de Deus de justiça, alegria e paz (Rm 16:17)
É SER SEMELHANTE A CRISTO
Semelhantes, jamais iguais. Na glória seremos nós mesmos sem nossos defeitos, elevados à plena potencialidade. Seremos nós mesmos com todo potencial e pureza. I Jo 3:2 afirma que ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos, desde já, que somos filhos de Deus gerados em Cristo Jesus. Quando Ele se manifestar seremos semelhantes a Ele. Este é o objetivo da vida cristã: uma nova humanidade semelhante a Cristo, plenamente humana e divina.
É SER UM ANARQUISTA CRIATIVO
Inconformados com o mundo – Rm 12:1-3 -, jamais absolutizando pessoas, ideologias ou sistemas. Só Deus merece nossa adoração. Por isso recomenda Paulo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente para que experimenteis qual seja boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Como Jesus, provocadores à esquerda e à direita. Jesus conviveu com a esquerda (zelotes), com o centro (fariseus) e com a direita (escribas, saduceus e sacerdotes) do seu tempo. Atraiu a simpatia da esquerda e o ódio do centro e da direita, mas não se deixou dominar. Incomodou tanto a esquerda quanto a direita, a todos. A sociedade da época de Jesus como a de hoje, segundo Albert Nolan seu livro “Jesus antes do Cristianismo”, se dividiu em quatro Pês: Posição com a proposta de orgulho e arrogância, mas Jesus propôs humildade; Poder com a proposta maligna de dominar ou se servir gerando opressão e corrupção, mas Jesus propôs serviço (Mt 20:20-28); Posses com a posta satânica de acumular em vigor, mas Jesus propôs repartir e compartilhar; e, finalmente Paroquialismo excludentes e discriminador que considerava os outros como seres inferiores, mas Jesus defendeu o amor e a solidariedade sem limites.
Ser anarquista cristão é viver numa comunidade alternativa que prioriza os ideais do Reino no mundo, e cuja forma de liderança deve ser a de servir e amar. A Igreja deve ser a maquete do Reino de Deus num mundo dividido e preconceituoso onde o sacerdócio de todos os crentes é praticado. A fé cristã é essencialmente comunitária. É nesta comunidade cristã que aprendermos a amar uns aos outros e ao mundo cumprindo uma missão divina e humana: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” – João 20:21.
Ser cristão é termos um sentido na vida harmonizado com a vontade de Deus, e, por isso, exige de nós tudo como nos informa o texto desafiador de Lucas 9:57-62. Três candidatos ao discipulado se apresentam. O primeiro disse a Jesus: “Mestre, seguir-te-ei onde quer que fores”. Jesus chama a atenção do jovem romântico para o fato de que ele não sabe o qu diz: “As raposas têm seus covis, as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Para se ser discípulo é preciso ser chamado e estar pronto para sacrificar tudo se for preciso. O segundo chamado por Jesus, respondeu: “Deixa-me primeiro sepultar meu Pai”. Aqui é o mandamento da Lei que se opõe ao chamado, mas quando é Jesus quem chama, a obediência deve ser imediata: Deixa aos mortos o sepultar os seus mortos. Tu, porém, vai e prega o Reino de Deus”. Jesus é prioritário e deve estar acima do mandamento de honrar pai e mãe. O terceiro também não é chamado e se oferece: “Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa”. Jesus lhe disse: “Quem lança mão do arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus” Não se pode olhar para trás. Quando Jesus chama ele mesmo lança uma ponte sobre o abismo e não nos desampara. Os primeiros discípulos deixaram tudo e seguiram a Jesus. Ser cristão é opção prioritária na vida
Ser cristão, em suma, e viver a vida plena: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” – João 10:10. O Apóstolo Paulo desenvolveu uma teologia simples baseada em três palavras: fé, esperança e amor. Sua fé dizia: “Considero tudo ser judeu, fariseu zeloso da lei, discípulos de Gamaliel, cultura, etc) como esterco pela sublimidade do conhecimento de Cristo. Olhando para o futuro ele afirma: “Cristo é a nossa esperança”. E escrevendo aos coríntios que estavam divididos sobre os dons espirituais, ele apresentou em 1 Coríntios 13 o caminho mais excelente, o caminho do amor.
Cantemos, reafirmando nossa confissão de fé, o belo hino do Pastor Tarsis Wallace Lemos: SOU CRISTÃO
Sou cristão, sou cristão, na alegria ou na provação
Sou cristão, sou cristão, pois tenho Jesus Cristo no meu coração.
Se vejo a humanidade envolta em muita dor
Partilho este problema com o Deus de amor.
Se perco um amigo ou mesmo um irmão
Stou firme com meu Cristo pois eu sou cristão.
Se a vida é sofrida e há duro dissabor
Recordo o sacrifício do meu Salvador.
Que padeceu por na cruz da humilhação
Mas que venceu, por isso canto: sou cristão.
Se o vento sopra leve e não há vendaval
Se vivo a minha vida sem sofrer um mal
Então ao Deus da graça a minha gratidão
Por que nesta bonança também sou cristão.
Se o rio corre calmo e não há temporal
É pela imensa graça do Rei divinal.
Mas ao surgir tormenta ou forte furacão
Estou pronto pra cantar também que sou cristão.
(Sermão recuperado Novembro 2016)