Sermões

C A M I N H O S DA JUSTIÇA – Salmo 85 (Vrs 10-13)

         (Pastoral do Encontro sobre Governança e Transparência em 27.04.2013)

– Pastor Julio Borges Filho –

I   INTRODUÇÃO:

– Este encontro quer dar ouvidos à voz profética de Amós: “Corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” Amós 5.24. As palavras do profeta colocam a retidão e justiça como rio e ribeiro perene, artérias da terra/ caminhos que semeiam vida e esperança. Portanto esta é uma iniciativa comprometida com a vida e não com morte, com o bem e não com o mal na sociedade e no mundo. É bom estar aqui porque estou comprometido com as “minorias abraâmicas”, como dizia D. Helder Câmara.

 

– Inspirei-me num texto semelhante dos filhos de Coré, o Salmo 85, onde, na primeira parte, fala-se da ira de Deus contra o mal e seu consequente julgamento, suplica misericórdia e restauração para a nação com a glória de Deus assistindo a terra com base nas lembranças libertadoras do passado, e conclui, na segunda parte,  com imagens belíssimas e utópicas da ação divina aliada à ação humana (vrs. 10-13): “Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da terra brota a verdade, dos seus a justiça baixa o seu olhar. Também o Senhor dará o que é bom, e nossa terra produzirá o seu fruto. A justiça irá adiante dele, cujas pegadas ela transforma e caminhos”

 

– Quero ruminar rapidamente, sem jamais esgotar, a beleza e a profundidade das imagens deste texto, trazendo implicações para a nossa caminha no combate à corrupção que semeia a morte. E, inspirado no último verso, colocar diante de nós o tema: Caminhos da justiça.

 

  1. I.                   “ENCONTRARAM-SE A GRAÇA E A VERDADE”
    1. 1.      Tal encontro se deu em Jesus Cristo – João 1:14

Ele, desde o nascimento (nasceu numa invasão, não convidou os corruptos, mas seus primeiros adoradores foram os excluídos pastores de Belém). A graças e a verdade estavam nele na sua vida, ensinos e ministério. Enfrentou os hipócritas e expulsou os vendilhões do templo (banqueiros de Jerusalém). A verdade sem amor é pior que a mentira amorosa em defesa da vida. Por isso graça e verdade são inseparáveis.

 

Na sua morte “despojou os principados e potestades, e os expos publicamente triunfando sobre eles na cruz” – Cl 2:15. Isso só foi possível porque o maior poder do mundo é o poder do amor.

 

  1. 2.      Encarnação: ser a presença de Cristo no mundo

– Somos desafiados a andar como Ele andou… A encarnação é um processo. Tanto que a igreja é o corpo de Cristo.

 

O testemunho de Pedro do Borel: A tristeza de nunca ter ido à terra santa, mas a mensagem de Jesus – “O importante não é andar por onde andei, mas andar por onde não andei.” Ser a presença de Cristo aonde Ele não está é nosso desafio. Os desafios missionários hoje não são apenas transpor as fronteiras geográficas, mas as fronteiras sociológicas, políticas, econômicas, e religiosas e, sobretudo, a fronteira entre a crença e a descrença.

  

  1. II.                “A JUSTIÇA E A PAZ SE BEIJARAM”
    1. 1.      O beijo da presença do Reino de Deus – Rm 14:17

“O reino da graça o mundo invadiu,

E minha desgraça em Cristo sumiu”, é o refrão de um belo hino do Pastor Tarsis Wallace.

 

– A Igreja deve ser a maquete deste Reino no mundo. Ela simplesmente não pode reproduzir a sociedade corrupta, mas deve ser um modelo alternativo ao mundo exercendo o poder de atração, isto é, “contar com a simpatia de todos” como a igreja primitiva em Jerusalém.

 

  1. 2.      Justiça e paz são inseparáveis.

Onde há justiça há paz, e onde há paz há justiça. A palavra hebraica shalon significa paz com justiça social. A saudação pascal “Paz seja convosco”, ou como usa os irmãos assembleianos, “A paz do Senhor”, deve nos lembrar diariamente isso.

 

Fazer com que esse beijo sagrado e profundamente humano alcance a todos é nossa tarefa evangelizadora. Não basta a salvação individual. É necessário a salvação econômica, política e religiosa – sistêmica. A nossa luta não contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades…

 

 

  1. III.             TERRA E CÉUS DIALOGAM
    1. 1.      “Da terra brota a verdade” – Mas para que ela brote é necessário plantá-la e cultivá-la porque a verdade é planta de jardim, e não planta brava que nasce sem se plantar. A verdade deve ser nosso estilo de vida. Uma vida autêntica, transparente e leve.

 

  1. “Dos céus a justiça baixa o seu olhar” – Só a justiça de Deus é plena e perfeita. A justiça humana é sempre casuística. Nossa tarefa é aproximar tanto quando possível as leis humana das leis de Deus. O profeto divino é profundamente humano e vai de encontro aos anseios mais profundos dos ser humano, e isso num estado laico.

 

  1. 1.      O caminho do amor e do serviço: O poder para servir

Jamais para se servir (corrupção), ou para oprimir (opressão). É a lição básica do evangelho de Jesus Cristo (ver Mateus 20:20-28).

 

O político nada mais é do um servo do povo. Semear uma ética baseada no amor, no serviço e na justiça.

 

  1. 2.      O caminho da defesa vida

– Deus é o autor e o preservador da vida. Jesus manifestou a verdadeira vida e disse “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” – João 10:10. Ele venceu a morte e nos diz que a última palavra é a palavra da vida e não a da morte e suas forças.

 

– Jesus quando pensou na sua igreja disse “que as portas da morte não prevaleceriam contra ela…” – Mt 16:18. Temos um compromisso com a vida e temos de defendê-la. Onde houver uma causa em defesa da vida, aí devemos estar.

 

  1. 3.      O caminho da Palavra de peso

– Hoje palavras são palavras, nada mais do que palavras. Mas a palavra, numa perspectiva teológica, é o poder que move o mundo. E disse Deus: “Haja luz e houve luz”. O que Deus fala é. “E a palavra se fez carne…” – é assim que o evangelista João descreve a encarnação do Cristo. Nada de promessas manipuladoras.

 

– O povo precisa crer e confiar na palavra do político, de seus pastores e líderes,  e em suas instituições. Eles devem falar pelo povo que os elegeu. A mentira tem pernas curtas.

 

  1. 4.      O caminho da coragem

– Não apenas para assumir riscos, mas para tomar decisões rápidas. A indecisão cria um vácuo político. O atrevimento da oração de Abraão por Sodoma (Gn 18) leva-nos à conclusão que Sodoma foi destruída por causa de Ló, um servo de Deus omisso que não conseguiu salvar nem a sua família. Se Abrão morasse lá, a cidade teria sido salva.

 

– É preciso também coragem no enfrentamento do mal social e sistêmico.

 

  1. 5.      O caminho da serpente e das pombas: astúcia/prudência e simplicidade

– Jesus envia seus discípulos para uma missão louca: “eu vos envio como ovelhas no meio de lobos”. Morte certa, a não que o Pastor vá junto, mas temos do Cristo ressurreto a promessa de que estaria conosco até à consumação dos séculos. O Senhor recomenda aos seus discípulos: “Sede astutos/prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10:16).

 

– Para discernir o bem e o mal e se ser transparentes e sinceros, para evitar conflitos desnecessários e não fugir dos conflitos inevitáveis, para não fechar a mente e ser aberto às causas justas, para não se corromper com o mal e se comprometer com o bem, para não exagerar e se apaixonar, para não ser ingênuo sem ser maldoso, e para com humildade reconhecer que somos imunes ao mal e a corrupção, precisamos da astúcia das serpentes e da simplicidade das pombas.

 

  1. 6.      O caminho da missão profética: Produção de sentido  

“Não havendo profecia o povo se corrompe” – Profetismo comunitário.

 

O artigo do Frei Betto, “Produção de sentido” dá importantes dicas: 1) A queixa de pais pelo desinteresse de seus filhos por causas altruísticas e solidárias, achando que a juventude de hoje busca apenas riqueza, beleza e poder. Já não se espelha em líderes voltados às causas sociais como Gandhi, Luther King, Che Guevara e Mandela. Faltam instituições produtoras de sentido. A geração que fez 20 anos nos anos 60 tinha como produtoras de sentido igrejas, movimentos sociais e organizações políticas que incutiam em nós uma consciência crítica e um espírito heroico. 2) Perguntas inquietantes: “Onde estão as instituições produtoras de sentido hoje? “Onde adquirir uma visão do mundo que destoe dessa mundividência neoliberal centrada no monoteísmo do mercado? Porque a arte é encarada como mera mercadoria, seja na produção ou no consumo, e não como criação capaz de suscitar em nossa subjetividade valores éticos, perspectiva crítica e objetivo estético?” 3) Uma constatação:  “Nunca as condições objetivas foram tão favoráveis para operar mudanças estruturais. O capitalismo está em crise, a desigualdade  social no mundo é alarmante, os povos árabes se rebelam, a Europa se defronta com 25 milhões de desempregados, enquanto na América Latina cresce o número de governos progressistas…” 4) Afirmações contundentes:  “Quando não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho, modificando a cabeça, a roupa, aparência… Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas” 5) Agentes da história:  “Não somos criados para ser carneiros de um imenso rebanho retido no curral do mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e revolucionários.” 6) Um guia de ação: “De onde beber esperanças lúcidas, se as fontes de sentido parecem ressecadas?” As fontes estão aí: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direito humanos, a busca de outros mundos possíveis.

  

CONCLUSÃO:

Promover o encontro da  graça com a verdade, o beijo da paz e da justiça, o diálogo entre a terra e os céus, e seguir o caminhos da justiça que, como caminhos de água e de Deus, são para serrem compartilhados e estão a serviço da humanidade para matar a fome e sede de justiça no Brasil e no mundo. “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos, afirmou Jesus.

 

– Terra sarada: “Também o Senhor dará o que é bom, e a nossa terra produzirá o seu fruto” – v. 12. Frutos de Justiça.

 

Os quatros fiats que sustentam o mundo:

1) O fiat luz de Deus  da criação: “Faça-se luz e houve luz” – surgiu o universo

2) O fiat de Maria: “Faça-se em mim conforme a tua vontade” – E o redentor nasceu

3) O fiat de Jesus no Getsêmane: “Faça-se a tua vontade e não a minha” – Surgiu a redenção.

4) E o nosso fiat sem o qual haveria sempre uma sombra do caos: “Faça-se a tua vontade assim no céu como na terra” – É nossa missão no mundo.

 

– Oremos a oração do Pai Nosso de mãos dadas.

 

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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