Sermão: Uma Neblina Chamada Osimar
Tiago 4:13 e 14
São tantas as imagens de Osimar que cada uma delas poderia ser abordada nesta hora em que nos despedimos de seu corpo. Eis algumas: A sua alegria, sua hospitalidade, sua liberalidade, sua humanidade, etc. Em julho de 1990, na morte de Alírio, ele, profundamente emocionado, falou-me de suas mágoas, e eu lhe disse: “Mano, você e Alírio são os melhores de todos nós”. Com a partida de Estelita em 2012, cheguei à conclusão que os bons vão em primeiro lugar. Se isso é verdade, há uma boa nova para mim já que me considero sou o pior de todos.
– A imagem bíblica de uma neblina simbolizando nossas frágeis vidas tomou forma e decidi pelo tema deste sermão de despedida: Uma neblina chamada Osimar. Eis o que nos diz Tiago, o irmão do Senhor:
“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para
a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos
lucros. Vós não sabeis o que acontecerá amanhã. Que é a vossa
vida? Sois apenas como uma neblina que aparece por instante
e logo se dissipa.”
A neblina nos traz quatro lições essenciais que são as lições da vida de meu irmão nesta triste e saudosa tarde.
A transitoriedade da vida
Não temos o controle absoluto dos acontecimentos de nossa vida. Somos seres frágeis e em trânsito por este mundo. Importa caminhar para frente sempre porque bem-aventurado é aquele que anda mesmo diante dos imprevistos da caminhada. Somos finitos e reconhecer nossa finitude e limitações é sabedoria de vida. Aqui sonhamos e nos frustramos porque nem todos os nossos sonhos são concretizados e nos sentimos inadequados.
Já passaram por aqui em nossa família: Enir, nossa primeira irmã, aos dois anos de idade; nosso pai aos 75 anos; Lucas, nosso cunhado, aos 27 anos; Alírio aos 42 anos; Jusiel, meu filho, aos 32 anos; mamãe aos quase cem anos; Edna, nossa cunhada, aos 70 anos; Estelita aos 60 anos; e agora Osimar precisamente aos 73 anos e 10 meses. A morte chegou em idades diferentes para eles, e um dia chegará para nós. Não sabemos a data e hora, mas “tudo passa sobre a terra”. Uma neblina logo se dissipa.
Sinal do tempo
Desde pequeno ouço a meteorologia sertaneja: “Neblina na serra, chuva na terra. Neblina na baixa, sol que racha”. É infalível. A neblina é sinal do tempo.
Osimar foi um sinal para todos. Seu sorriso nos diz que a vida deve ser vivida alegremente. Sua generosidade é sinal de esperança de um novo mundo mais solidário e mais justo. Sua hospitalidade nos incentiva a hospedar outros por que muitos, sem perceberem, hospedaram anjos. Seu amor pela família nos indica que investir na família é fundamental como célula mater da sociedade. Sim, o amor é essencial à vida. É ele quem dá sentido a tudo. Uma neblina é sinal do tempo.
Fertiliza a terra
Onde há neblina há fertilidade. Osimar teve uma vida fértil porque abençoou a muitos. Deixemos sua família e amigos falarem respondendo a pergunta: Qual a imagem mais viva que você guarda dele?
– Eliete, sua esposa: “Sua bondade e generosidade”.
– Carla, sua primogênita: “Ele era pura alegria e puro amor”.
– Eder, seu genro: “Sua festividade”.
– Guerrinha, seu filho: “Uma imagem boa, muito boa”
– Andrea, sua filha: “Muita alegria”.
– Francisco, seu genro: “Brigamos muito, mas era um briga gostosa. Sua paciência, dignidade e alegria. Era um pai para mim”.
– Os netos Lucas, Luana, Eder II e Victória também opinaram, e todos foram marcados pelo seu sorriso. O sorriso do avô como bela imagem.
– Os irmãos presentes também falaram. Delile, o irmão mais velho, ressaltou sua dignidade de pai e cidadão e pessoa humana. Alvimar, o irmão gêmeo, sonhou jogando uma partida de futebol com ele no ventre de mamãe, um empurrando o outro com os pés, e salientou: “Nós nunca brigamos”; Nilce, sua irmã caçula, lembrou que quando telefonava para ele, sua recepção era tão amorosa e alegre, que ela se sentia amada. Paulo, esposo de Nilce, destacou a sua simplicidade. E Lucas Jr, sobrinho, em nome dos sobrinhos, salientou seu apego e amor à família.
– Dois amigos presentes também responderam a pergunta acima. Zuza, seu parceiro desde a adolescência, falou da amizade de 50 anso, e obedecendo mamãe que pediu que ele cuidasse de Osimar ainda adolescente, arrematou: “Nós sempre cuidamos um do outro.” Adália, grande amiga, revelou sua gratidão por Osimar e Eliete, e citou o poeta Quintana dizendo que Osimar ao invés de correr atrás das borboletas, plantava jardins para atraí-las.
Osimar aconteceu porque plantou jardins, atraiu amizades e deixa em nossos corações muitas saudades. Teve uma vida fértil. Uma neblina é portadora de fertilidade.
Símbolo da eternidade
A neblina, mesmo transitória, é símbolo da eternidade pela sua leveza. Fomos feitos para a eternidade, daí a nossa inadequação neste mundo.
O corpo de Osimar está aqui. Daqui a pouco nos despediremos dele colocando sob a terra, mas Osimar não está mais conosco. Como uma borboleta que deixa o casulo, sua alma voou para Deus e para a vida eterna. Agostinho em suas Confissões disse: “Fizeste-nos para Ti, ó Deus, e nossa alma só descansará em Ti”. A bem-aventurança dos mortos em Apocalípse 14:13 é bela e profunda: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem de suas fadigas, pois as suas obras os acompanham.” Vejam que boa nova para todos nós: O que fizemos de errado é perdoado por Jesus Cristo, mas o que fizermos de bom nos acompanha por toda a eternidade, Aqui temos fadigas. Meu irmão teve muitas, mas descansou finalmente porque aqui não é nosso lugar de descanso. Uma neblina é símbolo da eternidade.
Por isso, desafiamos em Cristo a morte como Paulo: “Onde está, ó morte, a tua vitória?”
Vindo de Brasília pra Teresina, pensando em Osimar, gerei o seguinte soneto que resume esta mensagem: Saudade de ti, meu irmão.
Saudade de ti, meu irmão,
Saudade do teu puro coração,
Saudade de tua grande alegria
Que nossos corações aquecia.
Como uma neblina passaste,
O caminho certo apontaste,
Foste portador de fertilidade
Num mundo cheio de maldade.
Partiste rumo à eternidade
Deixando uma bela posteridade
Nas sementes que aqui deixaste.
Saudade de ti, meu irmão,
Saudade do teu grande coração.
Tu em nossos corações reinaste!…
Que nossos corações se aquietem e se alegrem nas muitas lembranças, pois, como Abel, Osimar depois de morto ainda fala.
Que após grande tempestade numa noite escura no mar da existência, sintamos a presença do Senhor Jesus no barco repreendendo os ventos contrários, e nos confortando e orientando.
Portanto, “Segura na mão de Deus e vai”
Obs: Pregado no culto de gratidão pela vida de Osimar no templo da Segunda Igreja do Conjunto Saci, em Teresina, no dia 22 de abril de 2015, às 14:30 horas.