VENHA A NÓS O TEU REINO
Série de sermões no PAI NOSSO (4):
VENHA A NÓS O TEU REINO – Mateus 6:10a
Julio Borges Filho
Depois de “Santificado seja o Teu nome”, onde somos afetados pela santidade do Pai, vem o coração do Pai Nosso: “Venha a nós o Teu reino, faça-se tua vontade assim na terra como no céu”. Fiquemos hoje apenas a sístole do coração (Venha a nós o Teu Reino), e deixemos para o próximo sermão a diástole (“Faça-se a Tua vontade assim na terra como no céu”).
“Venha a nós o Teu Reino”. O RD é característica de todo o NT. Esta petição abre-nos a porta da vida para a plena realização porque só o Reino de Deus nos satisfaz plenamente. Vejamos o que isso significa para nós e para o mundo em rápidas observações.
REINO DE DEUS X REINOS HUMANOS
O Reino de Deus é eterno e infinito, os reinos humanos são temporais e finitos – Iaweh = O Eterno, Aquele que é – O Pai é um Rei Eterno e o Seu Reino é também eterno: “Vinde benditos de meu Pai e possuí o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”, declarou Jesus se referindo ao julgamento dinal.
Os reinos humanos passam – A história humana é um cemitério de impérios, já dizia Robinson Cavalcanti. Onde estão os impérios egípcio, assírio, babilônico, persa, grego, romano, etc? Passaram. Humberto de Campos tem uma crônica que ilustra bem a transitoriedade humana. Ele descreve uma multidão imensa nas praças e ruas de uma cidade, e um estranho pergunta: “O que está acontecendo?” Alguém responde: “É Teodoro que passa.” Depois ele descreve outro acontecimento com uma numerosa multidão no cortejo fúnebre. E novamente um estranho aparece perguntando: “Quem morreu?” – “Teodoro morreu”, alguém responde. Assim são os reinos do mundo: vêm e passam.
O Reino de Deus é universal, os reinos humanos são terrenos
O RD engloba tudo e alcança tudo, mesmo que haja áreas usurpadas pelo Diabo e pelos homens… Daí a oração: “Venha a nós o Teu Reino”
Os reinos humanos são localizados tanto no tempo quanto na história. Têm também uma uma geografia.
O Reino de Deus é perfeito, os reinos humanos são imperfeitos.
O RD tem ideiais sólidos e eternos: Alegria, paz, justiça, fraternidade, liberdade e amor. São valores que ninguém pode roubar.
Os reinos humanos baseiam-se em leis autoritárias e casuísticas. Cada reino ou governo estabelecem leis de acordo com sua conveniência ou contexto histórico, e tais leis passam porque imperfeitas. Ademais são corruptos.
O REINO DE DEUS NO FILHO
O Reino de Deus encarnado no Rei
Ele é o Rei dos reis – Foi um grande Rei de si mesmo. Reinou sobre o orgulho, o medo, o individualismo, o egoísmo, o ódio, a vingança, a culpa, o desespero, o mau humor… Que o Rei George e a rainha Vitória, da Inglaterra, visitaram o Canadá, foram recepcionados por uma tribo indígena. O cacique Pena Branca, um cristão, cantou o famoso hino “Jesus é melhor” cujo coro afirma: “Podes ser um rei com o poder nas mãos, mas do mal escravo, sim. Mil vezes prefiro o meu Jesus e servi-lo até o fim.” Houve um grande silêncio quebrado pela rainha que disse: “Nós também preferimos Jesus”.
Jesus é um Rei que serve (humilde) – Mt 11:28-30 fala da disputa dos Apóstolos pelos primeiros lugares e da lição fundamental de Jesus: “…quem quiser ser grande, seja servo de todos, porque o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida por resgate de muitos.” Na entrada triunfal em Jerusalém não foi montado num cavalo, símbolo do poder e da arrogância, mas num jumentinho, símbolo da humildade. Ele não queria ser um rei que domina, manipula e explora seus servos, mas quer o trono interior de cada pessoa promovendo a plena liberdade.
“O meu Reino não é deste mundo” – As famosas palavras de Jesus a Pilatos no seu julgamento não significa que o Reino de Deus não engloba este mundo, mas que não tem a origem corrupta dos reinos terrenos. Começa entronizado nos corações, mas invade tudo. É expansionista. Daí a ordem se se evangelizar o mundo e todos os povos da terra. Onde o RD entra toda cultura é purificada promovendo a fraternidade humana e nunca a dominação. Deus não é capitalista… Também não é socialista na busca de um mundo utópico como realização humana, mas busca a igualdade e a absoluta realização humana. O RD é expandido e alargando com pequenos gestos de amor, e nunca pela força e pelo dinheiro. “Não por força nem por violência, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos.” “O Reino de Deus está dentro em voz” – É no coração psíquico dos seres humanos que Jesus deseja ser entronizado.
VENHA A NÓS O TEU REINO
É uma declaração de que só Deus é absoluto. Todos os outros reino devem ter relativizados.
Expressa inconformismo – Nenhum governo humano nos satisfaz por ser fugazes, falsos e passageiros. Só o Reino de Deus nos preenche plenamente. Daí o imperativo paulino em Romanos 12: “Não vos conformeis com este mundo…” A verdadeiro cristão torna-se um anarquista no sentido positivo da palavra.
É viver de acordo com os ideais do Reino – Rm 14:17. A luta por uma sociedade de justiça – Aproximar tanto quanto possível as leis dos homens da lei de Deus. Estar sempre ao lado dos pobres e excluídos e nunca ao lado dos poderosos.
A busca de uma sociedade harmoniosa – “Bem aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus”. Evangelizar é isso: Não apenas alcança as pessoas individualmente com a mensagem de Cristo, mas lutar contra os Principados e Potestades, isto é, o mal sistêmico. Os sistemas político, econômico e religioso deve ser evangelizados através de uma voz profética. “Não havendo profecia o povo se corrompe”, afirma o provérbio.
É cultivar e compartilhar a alegria – Eis o segredo do RD: Ele é constituído de uma grande família real: Pai e filhos. Não há classes sociais nem súditos, mesmo com personalidades diferentes. A diversidade promove a unidade. A Igreja seria a maquete do Reino no mundo quando vive isso. “E reinaremos com Ele pelos séculos dos séculos”, afirma o Apocalípse.
Quando oramos “Venha o Teu Reino”, sonhamos com um Reino diferente onde não existem os verbos pagar e ganhar porque nele não se paga nada e nem se ganha nada. Tudo é recebido, é presente, graça.
Quando pedimos “Venha o Teu Reino”, afirmamos o nosso inconformismo com os reinos do mundo, e assumimos a nossa missão de lutar pelos ideais do RD e a sua expansão no mundo.
Quando dizemos “Venha o Teu Reino”, desejamos isso para nós mesmos individualmente (Que o Teu Reino comece em mim), para nossa igreja e para todas as igrejas e agência que promovem o bem na terra.
A oração de Francisco de Assis é uma versão do “Venha o Teu Reino”:
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive
para a Vida Eterna.