Sermões

O Pão Nosso

            O PÃO NOSSO…  –  Mateus 6:11 

Julio Borges Filho

 

As petições que tratam da Causa de Deus já foram tratadas: “Santificado seja o Teu nome”, “Venha a nós o Teu Reino”, e “Faça-se a Tua vontade aqui na terra como no céu”. Nelas, com a invocação estão três atitudes corretas em oração: atitude de filiação, atitude de reverência, e atitude de submissão. Agora é a Causa do homem que trata de três coisas essenciais sem as quais não podemos viver neste mundo: o pão, o perdão e o livramento do mal. Por essas três coisas essenciais nós importunamos a Deus dia e noite.

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. É a atitude de dependência na oração. Somos seres carentes: não conseguimos viver sem alimento, água, ar, amor, esperança e fé.

 

O PÃO NOSSO DE CADA DIA…

 

Interpretações do termo grego “epiousios” (cotidiano) 

Para Jerônimo, um dos Pais da Igreja, o Evangelho dos Nazarenos (em aramaico) trazia a palavra “mahar” (amanhã), e formula do aramaico trazia “o pão de amanhã”. Na Palestina a recitação do Pai Nosso foi praticada sem interrupção durante todo o século 1 = “dá-nos hoje o pão de amanhã”. A com conclusão de Jerônimo, baseado no Evangelho dos Hebreus, dá o sentido: “Dá-nos hoje nosso pão de amanhã”.

No judaísmo tardio “o pão de amanhã” designa não apenas o pão do dia seguinte, mas também o Grande Porvir, a consumação final.

Sabemos que na Igreja Primitiva tanto do Oriente quanto do ocidente “o pão de amanhã” era interpretado como “pão da salvação”, “pão da vida”, “maná celeste”.

Jesus pensa neste pão da vida quando se refere em comer e beber com seus discípulos em seu Reino (Lc 22:30), O pão repartido e o cálice na instituição da Ceia do Senhor (Mt 26:29), e, ainda, quando afirma: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6:48) e mais: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna…” (Jo 6:54-5). Para Jesus cada refeição na terra era símbolo da refeição celeste. Assim as interpretações escatológicas dos outros pedidos corroboram esta interpretação: implora-se o pão da vida.

Temos vários hinos que falam disso. O hino 137, Pão da Vida, do Cantor Cristão é belíssimo:

Enquanto, ó Salvador, tu livro eu ler,

                        Meus olhos vêm abrir; pois quero ver

                        Da mera letra, além, a ti, Senhor;

                        Eu venho a ti, Jesus, meu Salvador.

 

                        A beira-mar, Jesus partiste o pão,

                        Satisfazendo ali a multidão;

                        Da vida o pão és tu, vens pois, assim

                        Satisfazer Senhor a mim, a mim!

Outro igualmente belo e expressivo é o 142, também intitulado do Pão da Vida que sua primeira estrofe diz::

Pão da vida, pão dos céus,

                        Pão de Deus é meu Jesus;

                        Pão que dá ao coração

                        Alegria, paz e luz.

 

Não há discriminação entre o pão da terra e do céu 

            Seria um equívoco ver nisso uma espiritualização à maneira da filosofia grega. Para Jesus (um hebreu) não há distinção entre o pão terrestre e o pão da vida. Tudo o que terrestre é santificado. Já não há mais alimentos impuros (Mt 7:15). Tudo o que Deus dá é abençoado. A multiplicação dos pães e peixes. A tentação da multidão que o querem proclamar rei. Resposta dura de Jesus – João 6. A essência da primeira tentação, a tentação econômica, “Se tu és o Filho de Deus manda que estas pedras se transformem em pão”, tem a resposta deuteronômica de Jesus: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. O ser humano vive de pão, mas não só de pão. Ele vive também de esperança, perdão, fé e amor. Portanto, sem mutilar o pedido de pão, não é apenas material ou apenas espiritual. Para Jesus cada refeição na terra tinha um sentido escatológico. Assim nossa comunhão com a necessidade e a fome já é também uma atitude escatológica. Ela encerra hoje o julgamento que amanhã será realizado no mundo – Mt 25:31-46. “Eu tive fome e me deste o que comer, tive sede e me deste de beber, fui forasteiro e me hospedaste, estava nu e me vestiste, enfermo e me visitaste, e preso e foste ver-me”, afirmará o Senhor aos salvos. A condenação aos perdidos é nesse mesmo tom, mas só que negativamente. “O que fizeste a esses pequeninos irmãos a mim o fizeste”, explica o Senhor, assumindo assim os males e injustiças humanas e uma clara opção pelos pobres e excluídos.

A oposição do “Amanhã” e “hoje” . O “hoje” no fim da frase é enfático. Num mundo de fome e sede, os discípulos de Jesus ousam dizer “hoje”. O futuro ilumina o presente porque a salvação começa aqui e agora. Pela oração nossas pobres vidas são supridas do pão daqui e do pão eterno. “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus”. O pão da oração é pleno: é o pão da vida.

 

DÁ-NOS HOJE

 

“Dá-nos…” – Um não ao egoísmo 

             “Dá-me” é a causa dos problemas humanos. O pródigo pediu ao pai: “Pai, dá-me…” e isso foi a causa de seu infortúnio. É o amor egoísta ao dinheiro a causa de todos os males, como afirmou o Apóstolo Paulo. Na parábola do rico insensato que planejava construir celeiros para abastecer-se, Deus sussurra ao seu ouvido: “Louco, esta noite pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?” A parábola foi contada para ilustrar o ensino de Jesus: “Tende cuidado e guarda de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância de bens que possui” ( Lc 12:15-21). O capitalismo prega a mais valia na sociedade, isto é, o reinado do mercado e dos mais espertos. A fé cristã, legislação social deuteronômica e o socialismo defendem a justiça social, a justa distribuição de riquezas e a igualdade entre todos os seres humanos

Dá-nos” é uma consequência do “Pai Nosso…”. É a comunidade cristã que ora ao Pai Celeste que não faz distinção de pessoas, que manda chuva e sol para todos sejam eles bons ou maus. Oramos então por justiça social e por saúde integral. O ser humano não se sacia só com o alimento ou a água… Sua fome e sede é também por esperança, libertação, amor. Vive-se de pão, mas não só de pão…  Daí precisamos evangelizar humanizando, e humanizar evangelizando. Êxodo 16 quando fala da colheita do maná determina a justiça social: quem pegasse mais daria o excedente para quem pegou menos para que ninguém passasse fome no deserto. Paulo usa isso em 2 Coríntios 8:13-15 para defender uma espécie de socialismo na igreja. “Não é para que uns tenham demais e outros de menos, mas para que haja igualdade”. No comunismo cristão da Igreja de Jerusalém se viveu isso. Engels escreveu um pequeno e revolucionário livro, Cristianismo primitivo, onde se inspirou para defender suas ideias. Os textos dos Atos dos Apóstolos (Atos 2:42-47 e 4:32-35) são duas belíssimas páginas do cristianismo. Só não deu plenamente certo porque os cristãos primitivos achavam que Jesus voltaria logo e construíram uma cooperativa de consumo e não de produção.

“Hoje”

 

            O pão para o corpo – O alimento é essencial para desenvolvimento e sustento do corpo. Jesus teve fome e sede. A justiça social significa que ninguém passe fome. São milhões e milhões de famintos em todo mundo. Outras traduções do “Pão Nosso” podem ser pleno emprego, justiça social, direitos humanos, justiça social, etc.

            O pão para a alma – Só Deus pode saciar a nossa fome espiritual. “Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” – Salmo 42. “fizeste-nos para Ti, ó Deus, e a nossa alma só descansará em paz em Ti” (Agostinho). “Pão da vida, pão do céu, pão celeste é meu Jesus…”, canta o hino. 

Quando oramos “O pão nosso…” queremos alimento completo para as nossas vidas, e cada pessoa no mundo tem direito a isso. Como a mulher samaritana (João 4) podemos orar: “Senhor, dá-me sempre deste pão. ” E nunca devemos esquecer das palavras do Senhor Jesus: “E sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; o que crê em mim jamais terá sede” ( Jo 6:34 e 35.

Quando dizemos “O pão nosso…” dizemos um não a todas as formas egoísmo humano que faz uns terem muito e outras não terem nada. Clamamos por justiça social no mundo porque queremos que a vontade de Deus seja feita também aqui na terra. E, ao mesmo tempo, encarnarmos esta oração em nossas vidas buscando uma vida simples e digna. Um milionário americano que tinha grandes plantações de trigo, sempre orava nas refeições: “Alimenta, Senhor os pobres”. Um dia seu filhinho, cansado de ouvir esta petição disse-lhe: “Pai, porque o senhor não dá aos pobres parte de seu trigo?”.

E, finalmente, quando oramos “O pão nosso…” nos tornamos militantes do Reino de Deus neste mundo sabendo que os governos humanos nem sempre são justos e podem ser dominado facilmente pelas elites econômicas do país e do mundo. Buscamos com isso tornar o RD concreto neste mundo de dores e injustiças.

Júlio Borges de Macedo Filho

PASTOR JULIO BORGES DE MACEDO FILHO Piauiense de Curimatá, 72 anos com 48 de pastorado, filho de Julio Borges de Macedo e Arquimínia Guerra de Macedo, é o sétimo filho de uma família de onze irmãos. Casou-se, há 48 anos no dia de sua ordenação ao ministério pastoral, com a professora Gislene Rodrigues Lemos de Macedo e tiveram quatro filhos: Juliene, Jusiel (falecido), Julinho e Julian. Agora Deus lhe deu a primeira neta chamada Sarah, de apenas 8 anos. Concluiu o curso de Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Formou-se em 1969 e foi ordenado ao ministério pastoral no dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Pastoreou as seguintes igrejas: Igreja Batista do Rio Largo – AL (1969 a 1972), Primeira Igreja Evangélica Batista de Teresina – PI (1972 a 1978), Primeira Igreja Batista de Ilhéus – BA (1978 a 1979), Terceira Igreja Batista do Plano Piloto – Brasília (1979 a 1989), Igreja Batista Noroeste de Brasília (interinamente em 1985), Primeira Igreja Batista de Curimatá – PI (interinamente em 2000), e desde 1989, a Igreja Cristã de Brasília. Tomou a iniciativa para a organização das seguintes igrejas: Primeira Igreja Batista de Picos –PI, Igreja Batista do Lago Norte – Brasília, Igreja Batista Noroeste de Brasília (hoje, Igreja Batista Viva Esperança), e a Igreja Cristã de Brasília. Ordenou cerca de 20 pastores e uma pastora, consagrou dezenas de diáconos e diaconisas por onde passou, e celebrou mais de 500 casamentos. É considerando no Distrito Federal um pastor de pastores. Líder denominacional foi presidente da Convenção Batista Alagoana, da Convenção Batista do DF (três vezes), do Conselho de Pastores Evangélicos dos DF (duas vezes); participou de vários organismos batistas como o Conselho de Planejamento e Coordenação da Convenção Batista Brasileira, das juntas administrativas do Seminário Teológico Batista Equatorial e do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil; e por 20 anos foi professor da Faculdade Teológica Batista de Brasília ensinando as seguintes disciplinas: Estudos de problemas brasileiros, ética cristã, teologia pastoral, teologia contemporânea, ministério urbano, teologia bíblica do Antigo Testamento, e homilética. Como teólogo produziu muitos artigos, teses, e palestras nos mais diferentes lugares, e participou de muitos congressos, seminários, fóruns, retiros, entre eles o Congresso Internacional Lousane II realizado em Manila, Filipinas em 1989. Foi orador de várias assembléias convencionais, e pregou em muitos congressos e igrejas por todo o Brasil. Como poeta e escritor já gestou e publicou cinco livros (Missão da Igreja e responsabilidade social, Voando nas asas da fé, Um sonho coberto de rosas, Suave perfume, e Uma grande mulher), tem quatro prontos para publicação, e está grávidos de mais dez livros que espera escrever e publicar nos próximos oito anos. Na área política assessorou deputado Wasny de Roure, por muitos anos, tanta na CLDF como na Câmara dos Deputados; assessorou por pouco tempo os deputados distritais Peniel Pacheco e Arlete Sampaio; o Ministro da Educação, Cristovam Buarque, como chefe da Assessoria Parlamentar do MEC, e depois assessor parlamentar do Senador Cristovam Buarque. Nesta área produziu muitos escritos sobre os evangélicos e a política, fez inúmeras palestras, promoveu muitos seminários, e foi fundador e coordenador de vários fóruns, entre eles o Fórum Político Religioso do PT, o Fórum Religioso de Diálogo com GDF, o Fórum Cristão do PT Chegou a Brasília em junho de 1969 e, desde então, a elegeu como sua cidade do coração. Agora, aposentado, deseja dedicar-se a apenas duas atividades essenciais: pastorear graciosamente a Igreja Cristã de Brasília e Brasília, e escrever apaixonadamente. Sua grande ênfase ministerial tem sido o amor cristão, a graça maravilhosa de Deus revelada em Jesus Cristo, a responsabilidade social das igrejas e dos cristãos, e o ministério urbano da igreja.

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